Deuses e Deusas - Panteísmo primitivo dos romanos Os deuses e deusas da “aldeia” primitiva de Roma originaram-se como os deuses sem rosto e divindades sem forma que sustentavam os agricultores nos seus esforços com a terra. O grande número de deuses e deusas romanos pode ser explicado mais provavelmente pela crença panteísta de “numen”, a qual afirma que os deuses e espíritos habitam lugares, objetos e seres vivos. Os antigos romanos acreditavam que tudo na natureza era habitado por Numina. Embora os romanos primitivos tenham dado pouca importância à personalidade de seus deuses e deusas, eles se preocupavam com suas funções. Os romanos integravam o seu culto de divindades mitológicas em todos os aspectos de suas vidas pessoais e públicas. Nada melhor exibe a extensão deste culto na vida diária como no culto doméstico da Familiaris DII. Neste sistema, cada família tinha um espírito guardião conhecido como o Lar Familiar, ou Lar Doméstico. Este espírito era homenageado em todas as funções familiares, incluindo sacrifícios em funerais. A força criadora que gera um indivíduo e permite que ele ou ela crescesse, aprendesse e agisse moralmente era conhecido como o Genius para os homens e Luna para as mulheres. Este espírito ficava com a pessoa até a morte. O culto dos deuses e deusas romanos em Dii Familiaris ia tão longe como atribuir um espírito protetor para diferentes áreas da casa. Por exemplo, Forculus protege a porta, Limentinus protege a entrada, Cardea as dobradiças e Vesta a lareira. Deuses e Deusas - Expansão da Mitologia Romana Os deuses e deusas de Roma começaram a tomar as formas que reconhecemos hoje durante a dinastia dos reis etruscos que governaram no século 6 AC. Durante este período, os romanos adaptaram um grupo de três deuses etruscos como o foco da adoração do Estado. Esses deuses eram adorados no grande templo do Capitólio e, como tal, tornaram-se conhecidos como a “tríade capitolina”. A tríade era constituída por Júpiter (Zeus), Juno (Hera) e Minerva (Atena). Quando o reinado da dinastia etrusca terminou em 509 AC, Roma se tornou uma república. A República Romana foi governada por dois magistrados, cada um dos quais era eleito para um mandato de um ano. Durante este período, o templo do Capitólio se tornou o foco da adoração pública. À medida que o poder de Roma cresceu e sua esfera de influência se alargou, o Império Romano encontrou a mais velha e rica tradição da mitologia grega. Os romanos também entraram em contato com as crenças de outras culturas orientais do Mar Mediterrâneo. Como resultado, os romanos começaram a adotar vários deuses estrangeiros e costumes religiosos. Em muitos casos, os deuses e heróis de culturas estrangeiras tiveram templos em Roma. A aceitação dos deuses e deusas gregos tiveram a maior influência na mitologia romana. As primeiras divindades gregas adotadas pelos romanos foram Castor e Polideuces em 484 AC. Posteriormente, no século 5 AC, o deus grego Apolo foi introduzido. Apolo passaria a simbolizar a força e austeridade romana. Outros deuses romanos que assumiram características gregas eram Diana (Ártemis), Mercúrio (Hermes), Netuno (Poseidon), Vênus (Afrodite) e Vulcano (Hefesto). Deuses e Deusas - Os Efeitos Duradouros Os deuses e deusas da mitologia antiga não são mais adorados por nenhuma religião formal dos tempos modernos. No entanto, o legado dos egípcios, gregos e romanos continua por todo o mundo. Em particular, as artes têm sido fortemente influenciadas pela mitologia. Muitas obras de arte bem conhecidas na pintura, música, literatura e teatro usam temas da mitologia. Hoje em dia, a influência de antigos deuses e deusas não mostra nenhum sinal de diminuição. Os jogos de computador frequentemente utilizam as histórias dos antigos deuses e deusas como o contexto para os seus jogos de busca. Filmes e programas de TV que se utilizam de personagens ou temas da mitologia ainda são populares. Parece que os temas morais e intelectuais das histórias por trás dos antigos deuses e deusas têm se mostrado facilmente adaptáveis a muitas culturas ao longo dos séculos. Isso só mostra a necessidade inerente da humanidade de explorar as suas origens, propósito e moralidade -- mostra a necessidade da humanidade de explicar por que estamos aqui e para onde estamos indo... |
QUERO TER SEMPRE ASAS SOLTAS. QUERO ENCONTRAR MEU ACONCHEGO. AGORA ALIMENTO MEU SER COM PLENITUDE,POIS ENCONTREI UMA RAZÃO PARA VOLTAR E ESSA RAZÃO É A VIDA...
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
PANTEISMO PRIMITIVO
DESPERTAR DO FEMINIMO
1- O Re-despertar do Feminino: uma nova lucidez
Ao se abordar o tema das Deusas, considero fundamental um comentário prévio sobre o resgate do feminino, como uma base que nos dará sustentação na compreensão da importância em se trabalhar com os arquétipos das deusas.
“...a civilização ocidental acabou sendo unilateralmente ofuscada pelo arquétipo do Pai, à exclusão do arquétipo da Mãe. Em nossa reverência exclusiva ao princípio paterno, em que suprimimos ou menosprezamos o feminino, acabamos provocando graves danos à saúde psíquica individual e coletiva. Isso sem mencionar a saúde física de nosso corpo e a do próprio planeta Terra”.
“Mas há sinais indicando que, espontânea e conscientemente, o pêndulo começa efetivamente a oscilar. A supremacia patriarcal vai manifestando sintomas de falência espiritual, e em toda parte – nas artes, na literatura, na política, nas igrejas- há sinais de um enorme ressurgimento do feminino (...) Um auspicioso “retorno da Deusa” está certamente ocorrendo”. (Woolger, p. 21)
Há mais de 20.000 anos atrás, predominavam as comunidades chamadas matriarcais, onde as pessoas tinham um profundo contato com a natureza, os grupos eram regidos pela cooperação, havia o culto a Deusa-Mãe, reverenciando-se o feminino como algo sagrado.
Com o advento da civilização e a chegada do sistema patriarcal, este estilo de vida começa a ser represado, destituído de seu valor, ocorre uma supervalorização do intelecto e do pensamento lógico-racional em detrimento do corpo, dos instintos e das emoções. Instauram-se as guerras, a propriedade privada, inclusive do “homem sobre a mulher”, a evolução da tecnologia, o aumento exacerbado da competitividade, do autoritarismo.
Este é o sistema em que ainda estamos inseridos hoje em dia. No entanto, grandes transformações começam a acontecer, tanto a nível social, quanto a nível pessoal.
No âmbito macro, observamos o crescimento dos movimentos ecológicos de cuidado com a Terra, os movimentos feministas e as reflexões sobre gênero e sexualidade, movimentos de economia solidária, organizações em rede... enfim, uma “efervescência” de novos movimentos, que aponta para uma transformação a nível consciencial.
No âmbito micro e pessoal, observa-se um redespertar do Princípio Feminino. E aqui é importante lembrar que o principio feminino não é exclusividade das mulheres....
2- Princípio Feminino e Princípio Masculino
Como conceitos próximos, podemos citar o Yin e Yang presente na cultura oriental e Animu e Animas, presente na teoria desenvolvida por Carl Jung.
Feminino e Masculino aqui, não se definem como categoria- gênero, mas como princípios vivos presentes na natureza, no homem e na mulher. Dinâmicas interdependentes, que se inter-relacionam e formam uma Unidade.
“Esse feminino representa o princípio de vida, de criatividade, de receptividade, de enternecimento, de interioridade e de espiritualidade no homem e na mulher”.(BOFF, Leonardo).
Feminino como princípio que rege a receptividade, a sensibilidade, a intuição, a emoção, o ser.
Masculino como princípio regente da ação, do vigor, da objetividade, do fazer, da razão.
Ora, precisamos dos dois! Como uma dança em que ambos interagem, se interpenetram...
No entanto, observamos hoje uma preponderância do princípio masculino, inclusive em nós mulheres, que para conseguirmos conquistar nosso espaço, muitas vezes, abrimos mão do principio feminino em nossas vidas.
Como buscamos a Integração, se faz necessário o resgate do feminino como o equilíbrio da balança, “a outra face complementar” que contribui para sermos seres mais inteiros.
Assim, falar sobre as Deusas é resgatar em nós, referências deste princípio que, por tanto tempo, ficou tão perdido dentro de cada mulher.
3- POR QUE DEUSAS?
“ O panteão das deusas gregas reflete a diversidade e a complexidade das mulheres. Elas nos mostram uma nova maneira de ver a nós mesmas, de uma perspectiva inteiramente feminina. Como mulheres precisamos dessa associação com esses arquétipos grandes, poderosos. À medida que despertamos e buscamos a totalidade, as deusas voltam para nos ajudar na nossa trajetória." (Mary Elisabeth Marlow, em A mulher emergente).
Jennifer e Roger Woogler (1993), em seu livro a Deusa Interior, descrevem psicologicamente a Deusa como um tipo complexo de personalidade feminina, que intuitivamente reconhecemos em nós, nas mulheres à nossa volta e também em imagens e ícones presentes nas novelas, nos contos de fadas, nas histórias, no cinema, etc.
O fato é que, ao estudar as deusas, percebemos como suas imagens estão vivas em nós, nos auxiliando a nos re-conhecermos, a reconhecermos em amigas, mães; a "rir” de nós mesmas, a percebermos nossos dramas pessoais e, talvez, o mais importante, a refazermos nossas escolhas existenciais, experimentarmos novos caminhos e novas possibilidades presentes em nós.
Cada deusa tem a sua história, as suas “sombras” e as suas potencialidades. Vamos “visitar” cada uma delas, conhecer suas peculiaridades, perceber a força que traz em si, desvendar seus mitos....
E por falar em mitos....
4- Chegando ao mundo dos mitos...
“Essas coisas não aconteceram nunca, mas existiram sempre”
Mitos são “pontes” que nos re-ligam a outras paisagens
Mitos são histórias, redações, informações que se repetem desde os mais remotos tempos, em todas as épocas e todas as culturas, e se referem a temas que sempre inquietaram a humanidade. Utilizam-se imagens arquetípicas como forma de compreendermos melhor a nós mesmos e ao Universo.
Mitos são pontes de acesso ao inconsciente coletivo, eles “espelham” nossos dramas e ao mesmo tempo, oferecem “pistas”, lições a serem aprendidas.
Os mitos são as chaves para um acesso às nossas mais verdadeiras e profundas forças, são nossos guias para o verdadeiro conhecimento do nosso caminho espiritual e nos permitem chegar ao êxtase, à iluminação, à bem aventurança.
Os mitos são as bases onde foram construídas religiões e civilizações, por toda a história sustentaram o ser humano na busca por explicações aos profundos mistérios e perguntas interiores.
Em síntese, mitos: São representações simbólicas do nosso universo, Tocam o inconsciente , Incorporam verdades universais: aquilo que é comum a todos os seres humanos.
Assim, a mitologia grega é uma das mais estudadas, tendo uma vasta quantidade de fonte de pesquisas; é a base do pensamento ocidental e é inegável sua importância histórica e a tamanha influência em nossa cultura.
De qualquer forma, a mitologia é atemporal e eterna. Ao visitarmos outras culturas - oriental, indígena, africana, etc -também encontramos histórias de deuses e deusas muito semelhantes com a mitologia grega, confirmando o que Jung vem chamar de inconsciente coletivo, aquele lugar comum em que nos encontramos como SER HUMANO, não importa em que tempo ou local.
Podemos dizer que a mitologia é uma linguagem essencialmente feminina (no sentido de principio), visto que é metafórica, nos leva para além do pensamento linear, é poética.
5- Enfim, as DEUSAS!
Belas, Poderosas, Vitais, lá vêem elas.
...e quando chegam... transformam nossas vidas.
A executiva, focada na carreira, no mundo urbano.
A mãe e seu instinto protetor com tudo que é pequeno e pueril.
A arqueira, focada, aventureira e admiradora da natureza.
A esposa, aquela que cuida da tradição, do casamento...
A sensível, intuitiva, ligada a questões espirituais.
A sensualidade regada ao afeto, a beleza, a prosperidade...
Cada uma com seus atributos únicos vêm nos auxiliar a descobrir a força dos nossos instintos, a potência interior, as habilidades e possibilidades de Ser.
Segue uma breve apresentação de cada Deusa. Posteriormente, vamos detalhando cada uma delas:
1)Hera
Imperatriz
Esposa
Poder no mundo
Tradição
Casamento
Companheirismo
Moralidade
Matriarca
2) Afrodite
Sexualidade
Corpo é sagrado
Romance
Beleza
Paixão
Artes
Salões
3)Atena
Civilização: Educação cidade cultura
Carreira e profissão
Competidora
intelectual
Lógica do mundo paternal
4)Deméter
Mãe
Corpo receptáculo
Ciclos
Menstruação
Gravidez
Geração
Mãe terra
Amamentação e acalento Alimentação
Fertilidade
Cuidado e proteção
5)Ártemis
Natureza
Amazona
Arqueira/Conquistadora
Independência
Liberdade
Aventuras
6)Perséfone
Poder psiquico
Cura
Guia interior
Morte e transformação
Visões/ sonhos
Clarividência
Mediunidade
O oculto
Cada deusa olhada sob um foco individualizado traz em si características muito interessantes. No entanto, se nos deixamos enredar ou aprisionar por apenas uma ou duas imagens das deusas, nos perdemos de nossa inteireza...
Todas são partes de uma única Totalidade e a nossa busca por ser uma mulher Inteira é poder descobrir e usufruir de cada uma delas em nós.
“elas são uma bênção, elas podem ser armadilhas, elas libertam, elas podem aprisionar,,,,”
RAPTO DE EUROPA
O RAPTO DE EUROPA
Há muito tempo atrás, havia no reino de Tiro um rei, Agenor, cuja filha era muito bela. O nome dela era Europa, e Júpiter apaixonou-se perdidamente por sua beleza.
— Que linda mulher! — exclamava o deus dos deuses, cuidando, no entanto, para não ser ouvido por Juno, sua ciumenta esposa. — Tenho de possuí-la, a qualquer preço. Movido por essa determinação, Júpiter decidiu utilizar-se de seu estratagema principal, ou seja, o de se metamorfosear em algum ser ou coisa.
Por alguma razão, Júpiter jamais aparecia diante das suas eleitas na sua forma pessoal, preferindo assumir sempre uma outra aparência qualquer. Assim, depois de muito pensar, decidiu transformar-se num grande touro, branco como a neve.
Completada a transformação, Júpiter desceu à Terra envolto numa grande nuvem.
Em uma das praias do rei de Tiro e pai de Europa, um rebanho dócil de touros pastava num relvado próximo ao mar. Sem que ninguém percebesse, uma grande nuvem foi se aproximando, até que dela desceu o grande touro, indo colocar-se em meio aos demais. Os seus novos colegas de rebanho, a princípio assustados com aquela súbita aparição, abriram um espaço assim que ele pousou sobre a grama. No entanto, como o alvo touro se mostrasse manso e dócil, teve logo sua presença admitida, sem maiores contestações.
Ali esteve misturado aos demais, contrastando em relação ao pêlo escuro dos outros touros, até que de repente a bela Europa surgiu com suas amigas, rindo e cantando por entre as areias da praia. As suas companheiras eram belas, também, mas, assim como Júpiter destacava-se em seu rebanho, a filha de Agenor destacava-se em meio ao seu encantador e animado grupo. Era uma manhã luminosa, o sol brilhava sem ferir os olhos, e o céu tinha um tom manso e azulado como os olhos do touro, que observavam, atentos, a aproximação de sua amada. — Vejam só que belo rebanho! — exclamou Europa, ao ver os boa ajuntados.
— Mas o que será aquela mancha branca em meio a eles? A jovem, destacando-se do grupo, avançou correndo, levantando a barra da sua túnica rendada, que lhe descia até um pouco abaixo dos joelhos. Quando chegou perto de Júpiter, seus seios arfavam sob a fina gaze de suas vestes. Os grandes olhos azuis do touro branco pousaram sobre a face corada de Europa, de tal modo que a moça não pôde deixar de observar o seu intenso brilho. — Um touro branco! — disse a moça, encantada. — E que lindos olhos ele tem! Todas as amigas ajuntaram-se em torno ao animal, que, no entanto, tinha seus grandes olhos azuis postos somente sobre a bela filha do rei. A moça, postando-se ao lado dele, começou a alisar o pêlo sedoso de seu dorso branco, enquanto admirava os seus pequenos e delicados cornos, que tinham o brilho cristalino das melhores pérolas. Embora o aspecto do animal fosse suave, a sua musculatura era rija, o que Europa pôde comprovar ao alisar o seu pescoço. Alguns espasmos musculares percorriam o pêlo do touro a cada vez que Europa o acariciava. De vez em quando o animal inclinava a cabeça, fazendo-a deslizar discretamente pelo flanco de Europa, erguendo com suavidade a fímbria de suas vestes. A filha de Agenor, contudo, permitia tais liberdades por julgá- las apenas um brinquedo inocente do magnífico animal. Retirando-o do grupo, Europa levou-o para passear nas areias da praia, dando-lhe com as mãos algumas flores, que o touro comeu alegremente. Depois, ele pôs-se a correr ao redor da moça, enquanto as outras o perseguiam, fazendo-lhe festas e agrados.
Como o sol começasse a se tornar quente demais — pois era o auge do verão -, as moças, cansadas momentaneamente da brincadeira, despiram-se para dar um breve mergulho no mar. Europa, entretanto, preferiu ficar na areia, a brincar com seu touro branco. Assim, enquanto suas amigas banhavam-se, Europa colhia outras flores, compondo com elas uma bela grinalda que depositou em seguida sobre os chifres do animal.
Depois, montada sobre as suas costas, foi conduzida por ele num trote manso. Enquanto o animal a levava, emitia um pequeno mugido, em sinal de orgulho e satisfação. As amigas de Europa, entretanto, ao verem a nova diversão que a filha do rei inventara, saíram todas correndo do mar, num passo rápido que fazia balançar seus pequenos seios molhados. Júpiter, porém, ao vê-las avançarem para si, temeu que fossem desalojar Europa das suas costas. Realmente, logo uma delas tocou a cabeça do touro, com a mão coberta de sal: — Vamos, Europa, deixe-nos andar um pouco! — disse a moça, impaciente. Júpiter, porém, aproveitando a relutância que Europa manifestava em descer. lançou-se para a frente, num salto ágil, tomando o rumo do mar. — Ei, esperem, aonde vão?... — exclamou uma das amigas de Europa, com as mãos pousadas na cintura. Júpiter, surdo aos gritos, arremeteu em meio às mulheres que avançavam pela água, obrigando-as a se afastarem, assustadas, para todos os lados. — Socorro!
— gritava Europa, estendendo-lhes as mãos, apavorada com o ímpeto repentino do animal. O touro, entretanto, avançava mar adentro, deixando atrás de si as mulheres pela praia, a sacudir os braços, impotentes.
Imaginando que o touro enlouquecera, temeram que tanto Europa quanto o animal terminariam afogados, logo que ultrapassassem a rebentação. Surpreendentemente, porém, o touro rompeu as ondas, lançando-se num trote ainda mais ágil do que aquele que usara nas areias fofas da praia. E assim se afastou cada vez mais da praia, enquanto Europa procurava manter-se agarrada aos chifres de seu seqüestrador. — Pare... !
Para onde está me levando? — perguntava Europa, enquanto o touro permanecia firme no seu galope, saltando sobre as ondas com a mesma destreza de um golfinho. Vendo, porém, que o animal parecia determinado a conduzi-la para algum lugar, Europa começou a clamar por socorro, invocando a proteção de Netuno: — O deus dos mares, veja em que aflição me encontro! — disse a moça, recebendo em seu corpo o vento e as ondas geladas. De repente, porém, tendo já avançado imensamente pelo oceano, o touro voltou para trás a cabeça e começou a conversar com a assustada Europa.
— Nada tema, bela Europa! — disse o animal. — Eu sou Júpiter e a levo comigo para a ilha de Creta, onde casaremos e você será honrada com uma ilustre descendência. Europa, mais calma, manteve-se agarrada aos chifres de seu futuro marido. Dentro em pouco chegaram ambos à ilha que o deus dos deuses anunciara.
Tão logo teve os pés postos sobre o chão outra vez, Europa viu o touro branco assumir a forma esplendorosa de Júpiter. Impaciente, o deus supremo carregou-a para dentro da ilha, enquanto Europa ainda tentava ensaiar alguma reação. Das núpcias deste casal surgiriam três lindos filhos, dentre os quais Minos, futuro rei de Creta. ARGOS E IO Amanhecia no Olimpo. Juno, a rainha dos céus, acordara há
Há muito tempo atrás, havia no reino de Tiro um rei, Agenor, cuja filha era muito bela. O nome dela era Europa, e Júpiter apaixonou-se perdidamente por sua beleza.
— Que linda mulher! — exclamava o deus dos deuses, cuidando, no entanto, para não ser ouvido por Juno, sua ciumenta esposa. — Tenho de possuí-la, a qualquer preço. Movido por essa determinação, Júpiter decidiu utilizar-se de seu estratagema principal, ou seja, o de se metamorfosear em algum ser ou coisa.
Por alguma razão, Júpiter jamais aparecia diante das suas eleitas na sua forma pessoal, preferindo assumir sempre uma outra aparência qualquer. Assim, depois de muito pensar, decidiu transformar-se num grande touro, branco como a neve.
Completada a transformação, Júpiter desceu à Terra envolto numa grande nuvem.
Em uma das praias do rei de Tiro e pai de Europa, um rebanho dócil de touros pastava num relvado próximo ao mar. Sem que ninguém percebesse, uma grande nuvem foi se aproximando, até que dela desceu o grande touro, indo colocar-se em meio aos demais. Os seus novos colegas de rebanho, a princípio assustados com aquela súbita aparição, abriram um espaço assim que ele pousou sobre a grama. No entanto, como o alvo touro se mostrasse manso e dócil, teve logo sua presença admitida, sem maiores contestações.
Ali esteve misturado aos demais, contrastando em relação ao pêlo escuro dos outros touros, até que de repente a bela Europa surgiu com suas amigas, rindo e cantando por entre as areias da praia. As suas companheiras eram belas, também, mas, assim como Júpiter destacava-se em seu rebanho, a filha de Agenor destacava-se em meio ao seu encantador e animado grupo. Era uma manhã luminosa, o sol brilhava sem ferir os olhos, e o céu tinha um tom manso e azulado como os olhos do touro, que observavam, atentos, a aproximação de sua amada. — Vejam só que belo rebanho! — exclamou Europa, ao ver os boa ajuntados.
— Mas o que será aquela mancha branca em meio a eles? A jovem, destacando-se do grupo, avançou correndo, levantando a barra da sua túnica rendada, que lhe descia até um pouco abaixo dos joelhos. Quando chegou perto de Júpiter, seus seios arfavam sob a fina gaze de suas vestes. Os grandes olhos azuis do touro branco pousaram sobre a face corada de Europa, de tal modo que a moça não pôde deixar de observar o seu intenso brilho. — Um touro branco! — disse a moça, encantada. — E que lindos olhos ele tem! Todas as amigas ajuntaram-se em torno ao animal, que, no entanto, tinha seus grandes olhos azuis postos somente sobre a bela filha do rei. A moça, postando-se ao lado dele, começou a alisar o pêlo sedoso de seu dorso branco, enquanto admirava os seus pequenos e delicados cornos, que tinham o brilho cristalino das melhores pérolas. Embora o aspecto do animal fosse suave, a sua musculatura era rija, o que Europa pôde comprovar ao alisar o seu pescoço. Alguns espasmos musculares percorriam o pêlo do touro a cada vez que Europa o acariciava. De vez em quando o animal inclinava a cabeça, fazendo-a deslizar discretamente pelo flanco de Europa, erguendo com suavidade a fímbria de suas vestes. A filha de Agenor, contudo, permitia tais liberdades por julgá- las apenas um brinquedo inocente do magnífico animal. Retirando-o do grupo, Europa levou-o para passear nas areias da praia, dando-lhe com as mãos algumas flores, que o touro comeu alegremente. Depois, ele pôs-se a correr ao redor da moça, enquanto as outras o perseguiam, fazendo-lhe festas e agrados.
Como o sol começasse a se tornar quente demais — pois era o auge do verão -, as moças, cansadas momentaneamente da brincadeira, despiram-se para dar um breve mergulho no mar. Europa, entretanto, preferiu ficar na areia, a brincar com seu touro branco. Assim, enquanto suas amigas banhavam-se, Europa colhia outras flores, compondo com elas uma bela grinalda que depositou em seguida sobre os chifres do animal.
Depois, montada sobre as suas costas, foi conduzida por ele num trote manso. Enquanto o animal a levava, emitia um pequeno mugido, em sinal de orgulho e satisfação. As amigas de Europa, entretanto, ao verem a nova diversão que a filha do rei inventara, saíram todas correndo do mar, num passo rápido que fazia balançar seus pequenos seios molhados. Júpiter, porém, ao vê-las avançarem para si, temeu que fossem desalojar Europa das suas costas. Realmente, logo uma delas tocou a cabeça do touro, com a mão coberta de sal: — Vamos, Europa, deixe-nos andar um pouco! — disse a moça, impaciente. Júpiter, porém, aproveitando a relutância que Europa manifestava em descer. lançou-se para a frente, num salto ágil, tomando o rumo do mar. — Ei, esperem, aonde vão?... — exclamou uma das amigas de Europa, com as mãos pousadas na cintura. Júpiter, surdo aos gritos, arremeteu em meio às mulheres que avançavam pela água, obrigando-as a se afastarem, assustadas, para todos os lados. — Socorro!
— gritava Europa, estendendo-lhes as mãos, apavorada com o ímpeto repentino do animal. O touro, entretanto, avançava mar adentro, deixando atrás de si as mulheres pela praia, a sacudir os braços, impotentes.
Imaginando que o touro enlouquecera, temeram que tanto Europa quanto o animal terminariam afogados, logo que ultrapassassem a rebentação. Surpreendentemente, porém, o touro rompeu as ondas, lançando-se num trote ainda mais ágil do que aquele que usara nas areias fofas da praia. E assim se afastou cada vez mais da praia, enquanto Europa procurava manter-se agarrada aos chifres de seu seqüestrador. — Pare... !
Para onde está me levando? — perguntava Europa, enquanto o touro permanecia firme no seu galope, saltando sobre as ondas com a mesma destreza de um golfinho. Vendo, porém, que o animal parecia determinado a conduzi-la para algum lugar, Europa começou a clamar por socorro, invocando a proteção de Netuno: — O deus dos mares, veja em que aflição me encontro! — disse a moça, recebendo em seu corpo o vento e as ondas geladas. De repente, porém, tendo já avançado imensamente pelo oceano, o touro voltou para trás a cabeça e começou a conversar com a assustada Europa.
— Nada tema, bela Europa! — disse o animal. — Eu sou Júpiter e a levo comigo para a ilha de Creta, onde casaremos e você será honrada com uma ilustre descendência. Europa, mais calma, manteve-se agarrada aos chifres de seu futuro marido. Dentro em pouco chegaram ambos à ilha que o deus dos deuses anunciara.
Tão logo teve os pés postos sobre o chão outra vez, Europa viu o touro branco assumir a forma esplendorosa de Júpiter. Impaciente, o deus supremo carregou-a para dentro da ilha, enquanto Europa ainda tentava ensaiar alguma reação. Das núpcias deste casal surgiriam três lindos filhos, dentre os quais Minos, futuro rei de Creta. ARGOS E IO Amanhecia no Olimpo. Juno, a rainha dos céus, acordara há
ERESICTÃO
O CASTIGO DE ERESICTÃO
Qualquer mortal sensato sabia que o respeito era a principal oferenda que se devia a Ceres, a deusa da fertilidade. Sem os favores dessa importantíssima divindade, qualquer criatura estava ao desamparo. Tudo ao seu redor virava secura e desolação, até que o desgraçado se decidisse a também venerar a exigente deusa.
Além do mais, não havia razão alguma para que se faltasse com este dever, pois ela era, dentro do panteão das divindades, uma das mais simpáticas e dignas. Havia muitos bosques consagrados a Ceres, e é num deles que esta história começa. Era geralmente durante as primeiras horas do dia que os devotos de Ceres vinham fazer as suas oferendas, para agradecer a boa colheita ou para pedir que a próxima fosse mais abundante.
Ao centro da floresta postavam-se os fiéis. Modestos camponeses, homens e mulheres, trazendo pequenos cestos com uma ou duas frutas, apenas, forrados com flores que as crianças colheram no próprio bosque, para tornar sua oferta um pouco mais caprichada. Outros, ainda, ofereciam a Ceres apenas simulacros de ofertas: no lugar de pães, pequenos arranjos redondos de terra, recobertos com uma leve mão de farinha. Oficiando o culto, costumava ficar a sacerdotisa de Ceres, envolta em seu manto e segurando um feixe de espigas.
A deusa, em algum lugar, a tudo observava. De repente, porém, ouviu-se, vindo de fora do bosque, um rumor de vozes masculinas, nas quais gritos entremeavam-se a cantos. Não eram, contudo, cantos sacrificiais. O ruído do vozerio aumentou a ponto de a sacerdotisa ver-se obrigada a interromper o culto. Logo surgiu por entre as árvores um grupo de homens que tem o ar descontraído e folgazão. Eles portavam grandes machados sobre os ombros e olham divertidamente, cutucando-se uns aos outros, ao perceber o que se passa. — Vai demorar muito aí, dona sacerdotisa? — perguntou um deles, com o grande dente de ferro do seu machado faiscando no ar e com um olhar de impaciência.
— O tempo suficiente para que o silêncio se restabeleça e possamos recomeçar nosso culto — respondeu a sacerdotisa, calmamente, dando-lhe as costas. Um homem gordo e imenso — que parecia ser, de fato, o líder do grupo — afastou com uma das mãos o lenhador, como quem afasta um galho do rosto. Depois, adiantando-se, tomou a palavra: — A senhora pode prosseguir com sua ladainha, que nós cumpriremos a nossa tarefa, a nosso modo — disse. — Adiante, vamos colocar abaixo estas árvores!
Esse homem rotundo era Eresictão, homem rico e poderoso. Ele estava decidido a construir um novo palácio para si com a madeira de toda a floresta. — O que pensa que está fazendo? — gritou, indignada, a sacerdotisa. Mas sua voz humana já não era o bastante para se sobrepor ao ruído dos machados, que estalam com vigor sobre os troncos das árvores. Ceres, que tudo vira, decidiu ela própria tomar a palavra, falando pela boca de sua sacerdotisa. — Fora, invasores! — gritou a deusa, cuja voz vibrante silenciava todos os machados. — Como ousam destruir este bosque, consagrado exclusivamente a mim? — Preciso destas árvores, dona — disse Eresictão. — Ninguém tocará nestas árvores, sob pena de terrível castigo — advertiu Ceres. — Dona, não fique nervosa. Há milhares de bosques espalhados por toda esta região. Escolha outro e deixe-nos trabalhar em paz. — Você insiste em me desafiar? — disse a deusa, encolerizando-se. O homem, ao perceber que Ceres avançava para si, empunhou com vigor o machado.
— Para trás, mulher, ou a farei em pedaços! Ceres, então, resolveu aparecer com a sua própria aparência. — Maldito! — gritou a deusa. — A partir de agora você está sob o peso da minha maldição... Eresictão, diante daquela assustadora intervenção, deu um grito de terror, lançou para o alto o machado e pôs-se a correr, espavorido, juntamente com os seus homens. Chegando em seu castelo, Eresictão correu para os seus aposentos. Decidiu andar um pouco pelo quarto, para dissipar o medo. Ali vagou durante longos cinco minutos, até que uma fome repentina o obrigou a sair. Pé ante pé, Eresictão retornou ao salão. Tinha um vago receio de que algo pavoroso tivesse acontecido. Não, tudo parecia em ordem. A sua querida mesa ainda estava lá, embora terrivelmente vazia. Ainda era cedo, mas a correria e o terror adiantaram o relógio do seu estômago. — Cozinheiros! — troveja Eresictão. — Pois não, senhor? — responderam os quatro cozinheiros. — Estou morto de fome. Adiantem o almoço.
— Sim, senhor — e voltaram à cozinha. Uma fome terrível lhe devorava as entranhas. Nunca sentira fome parecida. — Vamos, tragam logo a comida! — rugia Eresictão, sentindo um vácuo crescer-lhe no estômago. Imediatamente os criados surgiam com os primeiros pratos, que desapareceram em questão de minutos em sua goela voraz. Sua fome gigantesca, porém, em nada foi aplacada. — Mais comida! — rugiu outra vez Eresictão.
Os quatro cozinheiros preparavam tudo o que enxergaram na despensa, enquanto os criados levavam para o salão imensas travessas repletas de comida. Instantes depois retornavam com elas completamente limpas. — Mais comida! — ouvia-se, ainda. Nada parecia bastar ao apetite bestial de Eresictão, que começava a se tornar colérico. — O que está havendo aí dentro? — gritou, com a boca cheia. — Tragam comida de verdade! Numa medida extremada, o chefe dos cozinheiros ordenou que o maior dos javalis fosse abatido e assado imediatamente sobre uma grande fogueira, montada às pressas no pátio.
O dia fez-se noite quando a fumaça do assado levantou-se das brasas e cobriu o sol como uma imensa nuvem de incenso. Eresictão, sentado à mesa, despejou sobre ela uma cachoeira de saliva, enquanto aguardava, impaciente, o prato principal. Dez escravos carregaram numa imensa bandeja de prata o monstro dourado e fumegante, coberto de ervas aromáticas e guarnecido por fatias de duzentos abacaxis. O maravilhoso prato chegou aos olhos de Eresictão como uma sublime oferenda de ouro. Em dez minutos a travessa retornou à cozinha contendo somente os ossos do javali, empilhados junto às suas presas. — Mais comida!
— era o refrão incessante que se ouvia no salão. Florestas inteiras de verduras já haviam entrado para dentro do estômago do patrão; uma plantação inteira de batatas também sumiu nos abismos daquela caverna sem fundo. Sua fome colossal era acompanhada de uma terrível sede, que o obrigava a beber sem parar imensas jarras de vinho, que ele lançava, depois de esvaziadas, à cabeça confusa dos seus escravos. — Tragam mais! Eresictão não se levantava da mesa. Quanto mais comia, mais insistentes tornavam-se os seus pedidos. Os cozinheiros já não sabiam mais o que colocar nas panelas.
Todas as aves de criação já haviam passado pelo holocausto das chamas. No terror das exigências, treze gatos, vinte cachorros e até mesmo a parelha de cavalos que puxava o carro de Eresictão foram lançados vivos na fornalha. Ele não distinguia mais nada, engolindo até os ossos. Quando chegou a noite, Eresictão ainda estava à mesa. Seu rosto, no entanto, estava um tanto mais magro, e sua pança parecia ter recuado um pouco para dentro do manto. Por incrível que parecesse, Eresictão estava emagrecendo! Preso à mesa, o pobre homem, gordo e famélico, implorava: — Comida, meus escravos... Pelo amor de Deus, mais comida... A noite passou-se em comilanças. Não tendo mais, enfim, o que comer em casa, Eresictão saiu em desespero pelas estalagens, devorando tudo o que encontrava nessa selvagem expedição noturna.
Quando o sol retornou, encontrou-o devorado por uma fome infinitamente maior do que aquela com a qual sentara-se pela primeira vez à mesa. Seu corpo estava debilitado. Suas faces começaram a encovar-se. Suas mandíbulas, de tanto comer, doíam a ponto de não poder mais movê-las. Suas vestes pendiam do corpo. Eresictão estava a meio caminho de se tornar um espectro de si mesmo. Seus pais, alarmados, quiseram saber o que se passava com seu pobre filho. — Meu filho, o que houve com você? — exclamou a mulher. Horrorizada, ela arrancou os cabelos, tirando sangue do rosto com as unhas. Seu pai, com o passar dos dias, gastou também tudo o que tinha na vã tentativa de alimentar o seu insaciável filho. Até o touro que sua esposa engordava para sacrificar a Vesta, a deusa virgem do lar e do fogo, foi sacrificado ao altar desta horrenda fome. A miséria chega, afinal, para o desgraçado Eresictão. O seu pai, não podendo mais fazer nada — pois tornara-se miserável, também -, abandona-o à própria sorte, reduzido à mais negra mendicância. Passava os dias sentado nas praças, recolhendo de forma vil os restos que até os cães cobertos de sarna refugam. O único consolo é ter ainda ao seu lado Metra, sua dedicada filha. — Minha querida filha, faça-se o mais bela que puder — disse, um dia, Eresictão. — Por quê, meu pai? — indagou Metra, acariciando-lhe a face encovada. — Vou vendê-la. — Vender-me?
— É preciso... Eu preciso -justificou o velho, fraco e faminto. No mesmo dia a bela e encantadora Metra foi feita escrava nas mãos de um horripilante comerciante. Depois de passar pelo suplício das carícias daquele homem abominável, Metra, à noite, remeteu a Netuno as suas mais ardentes preces, enquanto o seu odioso amo, ao lado, roncava: — Poderoso Netuno, livra-me disto! — rogou, lançando um olhar ao seu algoz.
O deus, apiedado, decidiu atender às suas súplicas. Para tanto, converteu-a numa jumenta. Assim, enquanto seu amo ainda ressonava, Metra levantou-se do leito, firmou bem as quatro patas e, dando um grande salto, escapou pela janela. No mesmo instante correu, feliz, ao encontro de seu pai. — Meu querido pai, voltei! — disse, lambendo a face escaveirada do seu progenitor. — Minha adorada filha!
Como estou feliz em tê-la de volta! Depois, voltando-se para um carroceiro que passava: — Ei, quanto quer por esta magnífica jumenta? Um zurro de dor partiu da infeliz Metra, que foi levada embora outra vez. Mas também deste novo amo conseguiu escapar, metamorfoseada num cão e retornando novamente para os braços do pai, que a revendeu outra vez. Transformada, assim, em fonte inesgotável de recursos, a infeliz Metra percorreu toda a escala zoológica, até que um dia, metamorfoseada numa linda borboleta, desapareceu para sempre no ar. Eresictão, perdendo sua última fonte de renda e devorado por uma fome absolutamente insuportável, decidiu tomar uma atitude que seu orgulho insensa-: até então impedira.
Entrando naquele mesmo bosque que maculara com sua blasfêmia, pediu perdão à vingativa Ceres. — Ceres poderosa! — começou a dizer Eresictão, com as mãos postas. -Concede-me a graça do seu perdão, ó deusa, cujos olhos brilham com graça e majestade por todo o Olimpo! Ouve-me, por piedade, ó magnífica deusa! A deusa, no entanto, não lhe deu ouvidos.
Tomado pelo desânimo, Eresictão sentou-se, derrotado, à sombra das árvores. Era noite e caía uma chuva forte, filtrada para dentro do bosque sob a forma de cordas d'água que se balançavam do alto. Os relâmpagos intensos varavam a escuridão, iluminando inteiramente o seu corpo — um esqueleto coberto apenas por uma fina camada de pele. Eresictão estava sentado, com os olhos pousados sobre o próprio pé.
Vislumbrou ali uma protuberância, que sugeria a presença de um pouco de carne. Sem hesitar, arreganhou os dentes e cravou-os com força sobre o membro, arrancando-o e engolindo-o inteiro. Durante a noite inteira o ímpio Eresictão saciou-se de si mesmo, sob a luz dos relâmpagos, até que na manhã seguinte nada mais restava dele sobre a face da Terra.
Qualquer mortal sensato sabia que o respeito era a principal oferenda que se devia a Ceres, a deusa da fertilidade. Sem os favores dessa importantíssima divindade, qualquer criatura estava ao desamparo. Tudo ao seu redor virava secura e desolação, até que o desgraçado se decidisse a também venerar a exigente deusa.
Além do mais, não havia razão alguma para que se faltasse com este dever, pois ela era, dentro do panteão das divindades, uma das mais simpáticas e dignas. Havia muitos bosques consagrados a Ceres, e é num deles que esta história começa. Era geralmente durante as primeiras horas do dia que os devotos de Ceres vinham fazer as suas oferendas, para agradecer a boa colheita ou para pedir que a próxima fosse mais abundante.
Ao centro da floresta postavam-se os fiéis. Modestos camponeses, homens e mulheres, trazendo pequenos cestos com uma ou duas frutas, apenas, forrados com flores que as crianças colheram no próprio bosque, para tornar sua oferta um pouco mais caprichada. Outros, ainda, ofereciam a Ceres apenas simulacros de ofertas: no lugar de pães, pequenos arranjos redondos de terra, recobertos com uma leve mão de farinha. Oficiando o culto, costumava ficar a sacerdotisa de Ceres, envolta em seu manto e segurando um feixe de espigas.
A deusa, em algum lugar, a tudo observava. De repente, porém, ouviu-se, vindo de fora do bosque, um rumor de vozes masculinas, nas quais gritos entremeavam-se a cantos. Não eram, contudo, cantos sacrificiais. O ruído do vozerio aumentou a ponto de a sacerdotisa ver-se obrigada a interromper o culto. Logo surgiu por entre as árvores um grupo de homens que tem o ar descontraído e folgazão. Eles portavam grandes machados sobre os ombros e olham divertidamente, cutucando-se uns aos outros, ao perceber o que se passa. — Vai demorar muito aí, dona sacerdotisa? — perguntou um deles, com o grande dente de ferro do seu machado faiscando no ar e com um olhar de impaciência.
— O tempo suficiente para que o silêncio se restabeleça e possamos recomeçar nosso culto — respondeu a sacerdotisa, calmamente, dando-lhe as costas. Um homem gordo e imenso — que parecia ser, de fato, o líder do grupo — afastou com uma das mãos o lenhador, como quem afasta um galho do rosto. Depois, adiantando-se, tomou a palavra: — A senhora pode prosseguir com sua ladainha, que nós cumpriremos a nossa tarefa, a nosso modo — disse. — Adiante, vamos colocar abaixo estas árvores!
Esse homem rotundo era Eresictão, homem rico e poderoso. Ele estava decidido a construir um novo palácio para si com a madeira de toda a floresta. — O que pensa que está fazendo? — gritou, indignada, a sacerdotisa. Mas sua voz humana já não era o bastante para se sobrepor ao ruído dos machados, que estalam com vigor sobre os troncos das árvores. Ceres, que tudo vira, decidiu ela própria tomar a palavra, falando pela boca de sua sacerdotisa. — Fora, invasores! — gritou a deusa, cuja voz vibrante silenciava todos os machados. — Como ousam destruir este bosque, consagrado exclusivamente a mim? — Preciso destas árvores, dona — disse Eresictão. — Ninguém tocará nestas árvores, sob pena de terrível castigo — advertiu Ceres. — Dona, não fique nervosa. Há milhares de bosques espalhados por toda esta região. Escolha outro e deixe-nos trabalhar em paz. — Você insiste em me desafiar? — disse a deusa, encolerizando-se. O homem, ao perceber que Ceres avançava para si, empunhou com vigor o machado.
— Para trás, mulher, ou a farei em pedaços! Ceres, então, resolveu aparecer com a sua própria aparência. — Maldito! — gritou a deusa. — A partir de agora você está sob o peso da minha maldição... Eresictão, diante daquela assustadora intervenção, deu um grito de terror, lançou para o alto o machado e pôs-se a correr, espavorido, juntamente com os seus homens. Chegando em seu castelo, Eresictão correu para os seus aposentos. Decidiu andar um pouco pelo quarto, para dissipar o medo. Ali vagou durante longos cinco minutos, até que uma fome repentina o obrigou a sair. Pé ante pé, Eresictão retornou ao salão. Tinha um vago receio de que algo pavoroso tivesse acontecido. Não, tudo parecia em ordem. A sua querida mesa ainda estava lá, embora terrivelmente vazia. Ainda era cedo, mas a correria e o terror adiantaram o relógio do seu estômago. — Cozinheiros! — troveja Eresictão. — Pois não, senhor? — responderam os quatro cozinheiros. — Estou morto de fome. Adiantem o almoço.
— Sim, senhor — e voltaram à cozinha. Uma fome terrível lhe devorava as entranhas. Nunca sentira fome parecida. — Vamos, tragam logo a comida! — rugia Eresictão, sentindo um vácuo crescer-lhe no estômago. Imediatamente os criados surgiam com os primeiros pratos, que desapareceram em questão de minutos em sua goela voraz. Sua fome gigantesca, porém, em nada foi aplacada. — Mais comida! — rugiu outra vez Eresictão.
Os quatro cozinheiros preparavam tudo o que enxergaram na despensa, enquanto os criados levavam para o salão imensas travessas repletas de comida. Instantes depois retornavam com elas completamente limpas. — Mais comida! — ouvia-se, ainda. Nada parecia bastar ao apetite bestial de Eresictão, que começava a se tornar colérico. — O que está havendo aí dentro? — gritou, com a boca cheia. — Tragam comida de verdade! Numa medida extremada, o chefe dos cozinheiros ordenou que o maior dos javalis fosse abatido e assado imediatamente sobre uma grande fogueira, montada às pressas no pátio.
O dia fez-se noite quando a fumaça do assado levantou-se das brasas e cobriu o sol como uma imensa nuvem de incenso. Eresictão, sentado à mesa, despejou sobre ela uma cachoeira de saliva, enquanto aguardava, impaciente, o prato principal. Dez escravos carregaram numa imensa bandeja de prata o monstro dourado e fumegante, coberto de ervas aromáticas e guarnecido por fatias de duzentos abacaxis. O maravilhoso prato chegou aos olhos de Eresictão como uma sublime oferenda de ouro. Em dez minutos a travessa retornou à cozinha contendo somente os ossos do javali, empilhados junto às suas presas. — Mais comida!
— era o refrão incessante que se ouvia no salão. Florestas inteiras de verduras já haviam entrado para dentro do estômago do patrão; uma plantação inteira de batatas também sumiu nos abismos daquela caverna sem fundo. Sua fome colossal era acompanhada de uma terrível sede, que o obrigava a beber sem parar imensas jarras de vinho, que ele lançava, depois de esvaziadas, à cabeça confusa dos seus escravos. — Tragam mais! Eresictão não se levantava da mesa. Quanto mais comia, mais insistentes tornavam-se os seus pedidos. Os cozinheiros já não sabiam mais o que colocar nas panelas.
Todas as aves de criação já haviam passado pelo holocausto das chamas. No terror das exigências, treze gatos, vinte cachorros e até mesmo a parelha de cavalos que puxava o carro de Eresictão foram lançados vivos na fornalha. Ele não distinguia mais nada, engolindo até os ossos. Quando chegou a noite, Eresictão ainda estava à mesa. Seu rosto, no entanto, estava um tanto mais magro, e sua pança parecia ter recuado um pouco para dentro do manto. Por incrível que parecesse, Eresictão estava emagrecendo! Preso à mesa, o pobre homem, gordo e famélico, implorava: — Comida, meus escravos... Pelo amor de Deus, mais comida... A noite passou-se em comilanças. Não tendo mais, enfim, o que comer em casa, Eresictão saiu em desespero pelas estalagens, devorando tudo o que encontrava nessa selvagem expedição noturna.
Quando o sol retornou, encontrou-o devorado por uma fome infinitamente maior do que aquela com a qual sentara-se pela primeira vez à mesa. Seu corpo estava debilitado. Suas faces começaram a encovar-se. Suas mandíbulas, de tanto comer, doíam a ponto de não poder mais movê-las. Suas vestes pendiam do corpo. Eresictão estava a meio caminho de se tornar um espectro de si mesmo. Seus pais, alarmados, quiseram saber o que se passava com seu pobre filho. — Meu filho, o que houve com você? — exclamou a mulher. Horrorizada, ela arrancou os cabelos, tirando sangue do rosto com as unhas. Seu pai, com o passar dos dias, gastou também tudo o que tinha na vã tentativa de alimentar o seu insaciável filho. Até o touro que sua esposa engordava para sacrificar a Vesta, a deusa virgem do lar e do fogo, foi sacrificado ao altar desta horrenda fome. A miséria chega, afinal, para o desgraçado Eresictão. O seu pai, não podendo mais fazer nada — pois tornara-se miserável, também -, abandona-o à própria sorte, reduzido à mais negra mendicância. Passava os dias sentado nas praças, recolhendo de forma vil os restos que até os cães cobertos de sarna refugam. O único consolo é ter ainda ao seu lado Metra, sua dedicada filha. — Minha querida filha, faça-se o mais bela que puder — disse, um dia, Eresictão. — Por quê, meu pai? — indagou Metra, acariciando-lhe a face encovada. — Vou vendê-la. — Vender-me?
— É preciso... Eu preciso -justificou o velho, fraco e faminto. No mesmo dia a bela e encantadora Metra foi feita escrava nas mãos de um horripilante comerciante. Depois de passar pelo suplício das carícias daquele homem abominável, Metra, à noite, remeteu a Netuno as suas mais ardentes preces, enquanto o seu odioso amo, ao lado, roncava: — Poderoso Netuno, livra-me disto! — rogou, lançando um olhar ao seu algoz.
O deus, apiedado, decidiu atender às suas súplicas. Para tanto, converteu-a numa jumenta. Assim, enquanto seu amo ainda ressonava, Metra levantou-se do leito, firmou bem as quatro patas e, dando um grande salto, escapou pela janela. No mesmo instante correu, feliz, ao encontro de seu pai. — Meu querido pai, voltei! — disse, lambendo a face escaveirada do seu progenitor. — Minha adorada filha!
Como estou feliz em tê-la de volta! Depois, voltando-se para um carroceiro que passava: — Ei, quanto quer por esta magnífica jumenta? Um zurro de dor partiu da infeliz Metra, que foi levada embora outra vez. Mas também deste novo amo conseguiu escapar, metamorfoseada num cão e retornando novamente para os braços do pai, que a revendeu outra vez. Transformada, assim, em fonte inesgotável de recursos, a infeliz Metra percorreu toda a escala zoológica, até que um dia, metamorfoseada numa linda borboleta, desapareceu para sempre no ar. Eresictão, perdendo sua última fonte de renda e devorado por uma fome absolutamente insuportável, decidiu tomar uma atitude que seu orgulho insensa-: até então impedira.
Entrando naquele mesmo bosque que maculara com sua blasfêmia, pediu perdão à vingativa Ceres. — Ceres poderosa! — começou a dizer Eresictão, com as mãos postas. -Concede-me a graça do seu perdão, ó deusa, cujos olhos brilham com graça e majestade por todo o Olimpo! Ouve-me, por piedade, ó magnífica deusa! A deusa, no entanto, não lhe deu ouvidos.
Tomado pelo desânimo, Eresictão sentou-se, derrotado, à sombra das árvores. Era noite e caía uma chuva forte, filtrada para dentro do bosque sob a forma de cordas d'água que se balançavam do alto. Os relâmpagos intensos varavam a escuridão, iluminando inteiramente o seu corpo — um esqueleto coberto apenas por uma fina camada de pele. Eresictão estava sentado, com os olhos pousados sobre o próprio pé.
Vislumbrou ali uma protuberância, que sugeria a presença de um pouco de carne. Sem hesitar, arreganhou os dentes e cravou-os com força sobre o membro, arrancando-o e engolindo-o inteiro. Durante a noite inteira o ímpio Eresictão saciou-se de si mesmo, sob a luz dos relâmpagos, até que na manhã seguinte nada mais restava dele sobre a face da Terra.
O NASCIMENTO DE MINERVA
O NASCIMENTO DE MINERVA
—
Júpiter, preciso muito lhe falar — disse um dia a Terra, sua avó. A velha deusa, que engendrara Saturno, o pai devorador de filhos, tivera um sonho profético no qual a antiga e violenta maldição familiar de filhos destronarem os pais ameaçava recomeçar. — Agora será com você, Júpiter, que a história vai se repetir! — disse a Terra, perfurando as nuvens com sua bengala de pedra.
Na mente da deusa passou, como num relâmpago, todo o seu tormentoso passado com o brutal Céu, que a obrigara a esconder em seu ventre todos os filhos gerados por ele. Depois enxergou seu filho Saturno chegando em casa com a foice ensangüentada e o ar aliviado do jovem que triunfa, afinal, sobre a tirania decrépita dos pais.
"Seu odioso marido está mutilado e o poder agora é todo meu!", dissera o jovem deus, ao destronar o próprio pai. — Não diga tolices, minha vó! — bradou o pai dos deuses, despertando a Terra de seu devaneio.
— Quem se atreverá a levantar mão ímpia contra o soberano do mundo? A velha deusa sorriu. Fora esta mesma frase que Saturno envelhecido repetira, um pouco antes de seu próprio filho Júpiter expulsá-lo do trono, tornando-se o novo e supremo mandatário do Universo. Júpiter, entretanto, era muito jovem e estava mais preocupado em conquistar o coração da sua amada Métis, a deusa da Prudência.
— Não se case com ela — advertiu a Terra, com severidade -, pois de seu ventre sairá aquele que trará a sua ruína. — A deusa meiga e de olhos mansos como a corça será capaz, então, de gerar um tal monstro? — disse Júpiter, alisando sua negra e ainda curta barba. — Sim, seu tonto, a meiga e de olhos mansos como a corça! — bradou a Terra, cujas palavras, com a idade, iam perdendo o mel da paciência.
— Na verdade serão dois filhos; o primeiro será uma mulher, a mais justa e sensata das deusas, que só lhe trará alegria e motivo de orgulho... Júpiter sentiu um alívio percorrer suas divinas entranhas. -... mas cuidado com o segundo! -prosseguiu a deusa. — Ele será o flagelo de sua existência. Muito mais insubmisso do que seu pai ou você próprio, ele o destronará sangrentamente, tomando o seu lugar para todo o sempre. E com o filho dele acontecerá o mesmo, e assim por diante, até que alguém decida pôr um fim a esta orgia de parricídios. Durante um longo tempo os dois estiveram em silêncio.
De vez em quando Júpiter erguia os olhos para a avó, que permanecia parada à sua frente, apoiada ao seu cajado; em seus olhos inflamados pela profecia brilhava ainda, com a mesma intensidade, a luz ofuscante da determinação.
— Está bem, vovó — disse, afinal, o pai dos olímpicos -, você venceu. Vou falar com a adorável Métis. No mesmo dia Júpiter dirigiu-se à morada da deusa, que ficava no fundo do oceano. — Adorável Métis, meiga e de olhos mans... — disse Júpiter, interrompendo-se.
— Oh, é você, meu querido Júpiter! — exclamou a deusa, caindo em seus braços. — Estava morta de saudades... "Tão meiga e tão feminil ao mesmo tempo!", pensava, enquanto deslizava os dedos pelas curvas simetricamente perfeitas das costas da encantadora Métis. Num instante estavam ambos sobre o leito. Júpiter, esquecido das advertências de sua avó, passou o resto do dia nos braços da divina amada, descobrindo a cada instante, em seu corpo, novos e insuspeitados mistérios. Ao final do dia, entretanto, ela voltou-se para ele e disse: — Júpiter, regozije-se: estou grávida! — Grávida?!
— exclamou o deus olímpico. — Sim, seremos ambos pais de uma bela menina! Júpiter ficou paralisado por alguns instantes. De repente, porém, como quem toma uma súbita decisão, tomou-a nos braços e disse, num tom enigmático: — Está enganada: ambos seremos mães. Nem bem dissera isto, Júpiter abriu desmesuradamente a boca — onde ele vira isto antes? — e engoliu a pobre Métis! — Pronto, minha amada — exclamou ele. — Agora estamos unidos para sempre. Imediatamente o deus retornou para junto da avó, como obediente neto que era, e lhe comunicou, cheio de orgulho: — Minha vó, acabei de comer a formosa Métis! — Menino sujo! — gritou a velha, dando uma bastonada em sua cabeça. Custou um pouco, mas afinal Júpiter conseguiu fazer a velha entender o que quisera dizer e acabou mesmo elogiado por ela. Os dias passaram e as apreensões foram se desvanecendo, até que, certa manhã, Júpiter acordou com uma terrível dor de cabeça. — Céus, o que é isto em minha cabeça? — gritava. Todos os deuses acorreram para ver que gritos eram aqueles.
O deus dos deuses gemia, enquanto os demais se agitavam em torno. — Sua cabeça cresceu assustadoramente! — disse Mercúrio, espantado. — É da ambrosia... Eu disse pra não abusar! — gritava, aflita, a sua mãe, Cibele. — Calem a boca, todos, e chamem Vulcano — gritou Júpiter, com as duas mãos postas na cabeça. Dali a instantes surgiu o deus das forjas, coberto de fuligem. — O que houve, meu divino pai? — Tenho algo dentro da cabeça! Descubra o que é — exclamou Júpiter. — Sim, de fato, parece haver algo muito grande dentro dela...
— respondeu Vulcano, espantado com o gigantesco tamanho da cabeça de seu genitor. — O que será? — Mas foi o que lhe perguntei! — respondeu Júpiter, colérico. — Vamos, pegue suas ferramentas, abra minha cabeça e retire logo daí de dentro seja lá o que for que esteja me atormentando! Vulcano abriu seu maravilhoso estojo.
Dentro dele, em pequenos compartimentos, estavam dispostas em perfeita simetria as suas extraordinárias e eficientes ferramentas. — Hm... Martelo, broca, chave, pé-de-cabra... Calma, meu pai, que a coisa já vai! O deus dos artífices encontrou, afinal, o seu melhor martelo e avançou destemidamente para o pai. Um calafrio de horror percorreu os nervos e tendões de Júpiter. "E se a velha Terra estiver senil, e for ele, afinal, o filho que me tirará o cetro?", pensou Júpiter de olhos arregalados ao ver avançar o filho imundo, com aspecto de demônio, balançando o martelo gigantesco, como para lhe tomar o peso. — Este não falha, meu divino pai! — disse Vulcano, arreganhando seus quatro negros dentes, e vibrou o martelo ao primeiro golpe. O pobre Júpiter sentiu o mundo rodar. Vibrou o martelo ao segundo golpe. Uma rachadura surgiu de alto a baixo em sua cabeça. — Só mais uma, pai! — disse Vulcano, respirando fundo e erguendo o martelo o mais alto que pôde. PA!, vibrou o martelo ao terceiro golpe. Um jato de luz ofuscante escapou pela rachadura, fazendo com que os deuses corressem para todos os lados. De dentro da cabeça de Júpiter surgiu, então, uma outra cabeça, revestida com um magnífico capacete dourado.
Um grito de espanto varreu o Olimpo inteiro. Logo em seguida surgiu o resto do corpo da criatura — uma mulher, vestida inteira, dos pés à cabeça, com uma reluzente armadura. Todos os deuses estavam boquiabertos, e até Apólo, que conduzia no alto o seu flamejante carro do sol, parou por um instante para observar aquele fantástico prodígio.
A mulher saltou para o chão e deu um grito de guerra, o mais alto que o Olimpo já havia escutado. Depois pôs-se a executar, de maneira absolutamente perfeita e graciosa, os passos do mais estranho e original peã que os olhos humanos e divinos já haviam contemplado. — Honra e Paz para você, divino pai e senhor absoluto do Universo! — disse a criatura, após encerrar a sua magnífica dança marcial.
— Sou Minerva, sua filha, gerada de seu sêmen para cumprir as suas ordens. Júpiter ficou encantado com a nova deusa que surgia — parida por ele próprio! — e com suas filiais e piedosas palavras. Assim que veio ao mundo a mais útil e benemérita das divindades: Minerva, deusa da sabedoria, do trabalho e das artes.
E quanto às negras previsões da velha Terra, que ameaçavam Júpiter com a chegada de um segundo e destruidor filho, deram, felizmente, em nada. Júpiter ousou então debochar da anciã: — Minha vó, suas profecias são furadas! — Imbecil, furada é sua cabeça-de-vento! — disse a velhinha, que nada tinha de caduca.
— Bem se vê que fugiu o resto de sabedoria que havia na cachola. E depois de assestar uma bela pancada na cabeça do neto, completou: — Pois honre a mim, então, que sou a única divindade competente o bastante para fazer reverter uma funesta profecia. NETUNO,
Júpiter, preciso muito lhe falar — disse um dia a Terra, sua avó. A velha deusa, que engendrara Saturno, o pai devorador de filhos, tivera um sonho profético no qual a antiga e violenta maldição familiar de filhos destronarem os pais ameaçava recomeçar. — Agora será com você, Júpiter, que a história vai se repetir! — disse a Terra, perfurando as nuvens com sua bengala de pedra.
Na mente da deusa passou, como num relâmpago, todo o seu tormentoso passado com o brutal Céu, que a obrigara a esconder em seu ventre todos os filhos gerados por ele. Depois enxergou seu filho Saturno chegando em casa com a foice ensangüentada e o ar aliviado do jovem que triunfa, afinal, sobre a tirania decrépita dos pais.
"Seu odioso marido está mutilado e o poder agora é todo meu!", dissera o jovem deus, ao destronar o próprio pai. — Não diga tolices, minha vó! — bradou o pai dos deuses, despertando a Terra de seu devaneio.
— Quem se atreverá a levantar mão ímpia contra o soberano do mundo? A velha deusa sorriu. Fora esta mesma frase que Saturno envelhecido repetira, um pouco antes de seu próprio filho Júpiter expulsá-lo do trono, tornando-se o novo e supremo mandatário do Universo. Júpiter, entretanto, era muito jovem e estava mais preocupado em conquistar o coração da sua amada Métis, a deusa da Prudência.
— Não se case com ela — advertiu a Terra, com severidade -, pois de seu ventre sairá aquele que trará a sua ruína. — A deusa meiga e de olhos mansos como a corça será capaz, então, de gerar um tal monstro? — disse Júpiter, alisando sua negra e ainda curta barba. — Sim, seu tonto, a meiga e de olhos mansos como a corça! — bradou a Terra, cujas palavras, com a idade, iam perdendo o mel da paciência.
— Na verdade serão dois filhos; o primeiro será uma mulher, a mais justa e sensata das deusas, que só lhe trará alegria e motivo de orgulho... Júpiter sentiu um alívio percorrer suas divinas entranhas. -... mas cuidado com o segundo! -prosseguiu a deusa. — Ele será o flagelo de sua existência. Muito mais insubmisso do que seu pai ou você próprio, ele o destronará sangrentamente, tomando o seu lugar para todo o sempre. E com o filho dele acontecerá o mesmo, e assim por diante, até que alguém decida pôr um fim a esta orgia de parricídios. Durante um longo tempo os dois estiveram em silêncio.
De vez em quando Júpiter erguia os olhos para a avó, que permanecia parada à sua frente, apoiada ao seu cajado; em seus olhos inflamados pela profecia brilhava ainda, com a mesma intensidade, a luz ofuscante da determinação.
— Está bem, vovó — disse, afinal, o pai dos olímpicos -, você venceu. Vou falar com a adorável Métis. No mesmo dia Júpiter dirigiu-se à morada da deusa, que ficava no fundo do oceano. — Adorável Métis, meiga e de olhos mans... — disse Júpiter, interrompendo-se.
— Oh, é você, meu querido Júpiter! — exclamou a deusa, caindo em seus braços. — Estava morta de saudades... "Tão meiga e tão feminil ao mesmo tempo!", pensava, enquanto deslizava os dedos pelas curvas simetricamente perfeitas das costas da encantadora Métis. Num instante estavam ambos sobre o leito. Júpiter, esquecido das advertências de sua avó, passou o resto do dia nos braços da divina amada, descobrindo a cada instante, em seu corpo, novos e insuspeitados mistérios. Ao final do dia, entretanto, ela voltou-se para ele e disse: — Júpiter, regozije-se: estou grávida! — Grávida?!
— exclamou o deus olímpico. — Sim, seremos ambos pais de uma bela menina! Júpiter ficou paralisado por alguns instantes. De repente, porém, como quem toma uma súbita decisão, tomou-a nos braços e disse, num tom enigmático: — Está enganada: ambos seremos mães. Nem bem dissera isto, Júpiter abriu desmesuradamente a boca — onde ele vira isto antes? — e engoliu a pobre Métis! — Pronto, minha amada — exclamou ele. — Agora estamos unidos para sempre. Imediatamente o deus retornou para junto da avó, como obediente neto que era, e lhe comunicou, cheio de orgulho: — Minha vó, acabei de comer a formosa Métis! — Menino sujo! — gritou a velha, dando uma bastonada em sua cabeça. Custou um pouco, mas afinal Júpiter conseguiu fazer a velha entender o que quisera dizer e acabou mesmo elogiado por ela. Os dias passaram e as apreensões foram se desvanecendo, até que, certa manhã, Júpiter acordou com uma terrível dor de cabeça. — Céus, o que é isto em minha cabeça? — gritava. Todos os deuses acorreram para ver que gritos eram aqueles.
O deus dos deuses gemia, enquanto os demais se agitavam em torno. — Sua cabeça cresceu assustadoramente! — disse Mercúrio, espantado. — É da ambrosia... Eu disse pra não abusar! — gritava, aflita, a sua mãe, Cibele. — Calem a boca, todos, e chamem Vulcano — gritou Júpiter, com as duas mãos postas na cabeça. Dali a instantes surgiu o deus das forjas, coberto de fuligem. — O que houve, meu divino pai? — Tenho algo dentro da cabeça! Descubra o que é — exclamou Júpiter. — Sim, de fato, parece haver algo muito grande dentro dela...
— respondeu Vulcano, espantado com o gigantesco tamanho da cabeça de seu genitor. — O que será? — Mas foi o que lhe perguntei! — respondeu Júpiter, colérico. — Vamos, pegue suas ferramentas, abra minha cabeça e retire logo daí de dentro seja lá o que for que esteja me atormentando! Vulcano abriu seu maravilhoso estojo.
Dentro dele, em pequenos compartimentos, estavam dispostas em perfeita simetria as suas extraordinárias e eficientes ferramentas. — Hm... Martelo, broca, chave, pé-de-cabra... Calma, meu pai, que a coisa já vai! O deus dos artífices encontrou, afinal, o seu melhor martelo e avançou destemidamente para o pai. Um calafrio de horror percorreu os nervos e tendões de Júpiter. "E se a velha Terra estiver senil, e for ele, afinal, o filho que me tirará o cetro?", pensou Júpiter de olhos arregalados ao ver avançar o filho imundo, com aspecto de demônio, balançando o martelo gigantesco, como para lhe tomar o peso. — Este não falha, meu divino pai! — disse Vulcano, arreganhando seus quatro negros dentes, e vibrou o martelo ao primeiro golpe. O pobre Júpiter sentiu o mundo rodar. Vibrou o martelo ao segundo golpe. Uma rachadura surgiu de alto a baixo em sua cabeça. — Só mais uma, pai! — disse Vulcano, respirando fundo e erguendo o martelo o mais alto que pôde. PA!, vibrou o martelo ao terceiro golpe. Um jato de luz ofuscante escapou pela rachadura, fazendo com que os deuses corressem para todos os lados. De dentro da cabeça de Júpiter surgiu, então, uma outra cabeça, revestida com um magnífico capacete dourado.
Um grito de espanto varreu o Olimpo inteiro. Logo em seguida surgiu o resto do corpo da criatura — uma mulher, vestida inteira, dos pés à cabeça, com uma reluzente armadura. Todos os deuses estavam boquiabertos, e até Apólo, que conduzia no alto o seu flamejante carro do sol, parou por um instante para observar aquele fantástico prodígio.
A mulher saltou para o chão e deu um grito de guerra, o mais alto que o Olimpo já havia escutado. Depois pôs-se a executar, de maneira absolutamente perfeita e graciosa, os passos do mais estranho e original peã que os olhos humanos e divinos já haviam contemplado. — Honra e Paz para você, divino pai e senhor absoluto do Universo! — disse a criatura, após encerrar a sua magnífica dança marcial.
— Sou Minerva, sua filha, gerada de seu sêmen para cumprir as suas ordens. Júpiter ficou encantado com a nova deusa que surgia — parida por ele próprio! — e com suas filiais e piedosas palavras. Assim que veio ao mundo a mais útil e benemérita das divindades: Minerva, deusa da sabedoria, do trabalho e das artes.
E quanto às negras previsões da velha Terra, que ameaçavam Júpiter com a chegada de um segundo e destruidor filho, deram, felizmente, em nada. Júpiter ousou então debochar da anciã: — Minha vó, suas profecias são furadas! — Imbecil, furada é sua cabeça-de-vento! — disse a velhinha, que nada tinha de caduca.
— Bem se vê que fugiu o resto de sabedoria que havia na cachola. E depois de assestar uma bela pancada na cabeça do neto, completou: — Pois honre a mim, então, que sou a única divindade competente o bastante para fazer reverter uma funesta profecia. NETUNO,
QUELONE
O CASTIGO DE QUELONE
O Olimpo estava em festa: Júpiter e Juno iriam finalmente se casar. As duas imensas portas do Empíreo, algodoadas de nuvens, haviam sido abertas de par em par pelas três Horas — Eunomia, Dice e Irene -, que faziam o papel de anfitriãs.
Atrás delas podia-se divisar perfeitamente o brilho feérico e resplandecente do palácio dourado onde iria se realizar a tremenda festa. Os convidados iam chegando em grande número, atravessando a ponte multicolorida do imenso arco-íris. — Vejam, irmãs — disse Eunomia, radiante -, quantos convidados!
Estejamos atentas para que não nos escape presença alguma. — E nenhuma ausência, também! — disse Dice, cuja tarefa era ir riscando os nomes dos convidados que chegavam. Os principais deuses do panteão olímpico iam chegando, sozinhos ou aos pares, conversando alegremente. Ceres, vestida com uma túnica drapejada e esvoaçante, surgiu, entre tantas outras divindades, toda sorridente. — Nossa! — disse Irene, a porteira esbelta. — Ela caprichou mesmo! Junto dela estava Minerva, a deusa da sabedoria. — Sempre recatada, mas também sempre encantadora! — comentou Eunomia, afastando-se um pouco para permitir a sua passagem.
Apólo e sua irmã Diana vinham abraçados, dando uma gostosa gargalhada. Do que riam tanto? Os grupos foram passando um a um até que chegou o casal mais curioso: a maravilhosa Vênus e seu truculento esposo Vulcano. — Vejam só, será que finalmente ele resolveu tomar um banho? — cochichou Irene à sua irmã Dice, que ocultou no véu um sorriso discreto.
De fato, o deus das forjas, normalmente coberto de fuligem, naquele dia surgira diante de todos um pouco mais apresentável, apesar de toda a sua feiúra. Seus cabelos emaranhados pareciam ter sidos apresentados finalmente a uma escova, e algo parecido com uma esponja parecia ter sido esfregado sobre o pêlo espesso do peito e dos membros.
Quase todos os convidados já haviam chegado, inclusive Netuno, com sua corte aquática, úmida e festiva, e o sombrio cortejo de Plutão, que trazia pelo braço sua esposa Prosérpina, pálida como sempre, porém um pouco mais animada. De repente, porém, Eunomia, que passava em revista com suas irmãs a enorme lista com os nomes riscados, escutou uma voz soar bem ao seu lado. — Porteiras do Olimpo, como estão? Era Mercúrio, o deus dos pés ligeiros. — Ótimas! — respondeu Irene, pelas três. — Acho que não falta mais ninguém, e você deve ser o último. Na verdade Mercúrio fora o encarregado de levar os convites do casamento a todos os recantos do Universo. Finalmente, retornava de sua trabalhosa missão.
— Não, esperem! — gritou Eunomia, colando o alvo dedo sobre um nome da lista. Os rostos das duas irmãs, mais o de Mercúrio, voltaram-se atônitos para ela. — Como? Ainda falta alguém? — perguntou o deus mensageiro. — Sim, a ninfa Quelone! — exclamou Eunomia. — Alguém a viu passar? -Não, ninguém a vira passar. — O que terá acontecido? — disseram as Horas numa só voz. Mercúrio apertou um pouco mais as suas sandálias aladas e desapareceu como um pé de vento pela estrada colorida, deixando somente a sua voz: — Vou refazer o trajeto até sua casa e ver o que houve! O filho de Júpiter percorreu grande parte da estrada, e quanto mais avançava, mais temia pelo atraso — ou mesmo pela ausência definitiva da ninfa Quelone. "Por Júpiter, se Juno descobre que ela ignorou sua festa, a matará!", pensava o deus mensageiro, enquanto apertava o pétaso para que não voasse de sua cabeça.
Quelone, entretanto, ainda estava descansada em sua casa, à beira do rio. — Que calor! — disse ela, espreguiçando-se. — Essa tal de Juno, também, pensa que eu sou o quê, para me largar desta distância toda até a sua casa? Só para ir lhe bajular? A vontade de ir para a festa de casamento de Juno era nenhuma. Na verdade não tinha vontade de fazer nada. Sim, porque apesar de ser uma ninfa adorável, era também a mais preguiçosa das criaturas. "Miseravelmente preguiçosa", como lhe dissera um dia um fauno das redondezas. Por diversas vezes Quelone ensaiara a sua ida ao casamento. Na verdade, passara a manhã toda indecisa: que roupa usaria, afinal? Mais vaporosa ou mais discreta? Isto implicava uma escolha — e escolher era tão cansativo! E o maldito penteado, solto ou preso? Pintaria ou não as suas compridas unhas? Ai! Dez unhas nas mãos e mais dez lá nos pés!
E a que horas deveria sair? Um pouco mais cedo ou bem mais tarde? Afinal de contas, deveria mesmo ir? Cogitando e refrescando os pés na água, a ninfa deixava o tempo passar. — Acho que agora não dá mais tempo... — pensou, ao observar o sol lá no alto. De repente, Mercúrio tapou o sol. Quelone, já de olhos fechados, murmurou." — Ih, agora é que não vai dar para ir mesmo... Lá vem chuva! — Sua preguiçosa, eu já imaginava! — disse o deus, pousando ao seu lado. Quelone levantou-se, de susto. — Ah, é você? — disse ela, com a mão em pala sobre os olhos. — Sempre correndo pra cima e pra baixo, não é? — Voando, querida, voando! — respondeu Mercúrio, passando uma água no rosto. — Humpf! — fez Quelone, esgotada, fechando os olhos outra vez. — Vamos, levante-se, preguiçosa! Está quase na hora das bodas de Juno. — Não posso — disse Quelone. — Acordei com o pé machucado.
— O lençol o esmagou? — perguntou Mercúrio, com um tom de mofa. — Ai, é verdade — disse a ninfa, colocando-se em pé com fingida dificuldade. Mas o deus não estava para lorotas e, em dois tempos, colocou-a no rumo da estrada. Mas a ninfa teimava em atrasar o seu passo: ora parava para descansar, ora simulava uma insolação. As horas passavam, e Mercúrio, aflito, sentia que daquele jeito jamais chegariam. — Bem, adeus, vou indo na frente, senão Juno também me matará! — disse o deus, perdendo de vez a paciência. — Isto, vá logo, apressadinho! — disse Quelone, sentando numa pedra azulada, bem no começo da longa estrada do arco-íris que levava até o palácio de Júpiter. — "Por que não me levou nos braços, então, se estava com tanta pressa?", perguntou-se, mal-humorada. "Depois a preguiçosa sou eu!" Quelone adormeceu bem na entrada do arco-íris. Quando acordou novamente, a magnífica festa já havia acabado. Grupos alegres já voltavam, cruzando por ela. — Que festa, hein? — dizia um fauno, todo descabelado. — Esta, sim, valeu a pena! — dizia uma nereida, que parecia ter abusado um pouco do vinho. Deuses, ninfas, faunos, todos esbarravam em Quelone, que era a única a seguir em sentido contrário. — Esqueceu algo, querida? — perguntou-lhe Dóris, esposa de Nereu. — Não me amole — replicou Quelone. Apesar da festa já haver acabado, ela ainda tentava avançar, nem que fosse para se explicar com a nova rainha do céu. — "Rainha do Céu!" — tripudiou a ninfa. — "Ai, Rainha do Céu, desculpe o atraso!" "Tudo bem, Rainha do Céu?" "Quem diria, hein: Rainha do Céu!" Quer saber de uma coisa? Vou é voltar já para casa! E voltou mesmo. Um pouquinho mais rápida, desta vez. Quando chegou lá, jogou-se em seu leito, exausta.
Mas Mercúrio a aguardava. — Você não foi até lá, então? — disse o deus, com o cenho franzido. — Não incomoda, pé-de-vento! — resmungou a ninfa, cobrindo o rosto. -Diz lá pra Rainha do Céu que um dia desses apareço para dar os parabéns. Mercúrio, perdendo definitivamente a paciência, pegou-a pelos pés e arrojou-a dentro do lago. Em seguida lançou também a própria casa da ninfa em cima dela. — Aí está! — disse o deus, dando as costas e indo embora.
A pobre Quelone ressurgiu instantes depois das profundezas do lago. Seu rosto estava mudado, e era como o de um enrugado lagarto.
Tinha agora quatro pernas — quatro pernas imensas — e em cima de suas costas pesava a sua antiga casa, virada numa imensa e pesada carapaça. E Quelone nunca fora tão lenta como agora! Assim a ninfa que faltou à cerimônia de casamento do grande Júpiter e da poderosa Juno foi transformada no animal hoje conhecido como tartaruga.
O Olimpo estava em festa: Júpiter e Juno iriam finalmente se casar. As duas imensas portas do Empíreo, algodoadas de nuvens, haviam sido abertas de par em par pelas três Horas — Eunomia, Dice e Irene -, que faziam o papel de anfitriãs.
Atrás delas podia-se divisar perfeitamente o brilho feérico e resplandecente do palácio dourado onde iria se realizar a tremenda festa. Os convidados iam chegando em grande número, atravessando a ponte multicolorida do imenso arco-íris. — Vejam, irmãs — disse Eunomia, radiante -, quantos convidados!
Estejamos atentas para que não nos escape presença alguma. — E nenhuma ausência, também! — disse Dice, cuja tarefa era ir riscando os nomes dos convidados que chegavam. Os principais deuses do panteão olímpico iam chegando, sozinhos ou aos pares, conversando alegremente. Ceres, vestida com uma túnica drapejada e esvoaçante, surgiu, entre tantas outras divindades, toda sorridente. — Nossa! — disse Irene, a porteira esbelta. — Ela caprichou mesmo! Junto dela estava Minerva, a deusa da sabedoria. — Sempre recatada, mas também sempre encantadora! — comentou Eunomia, afastando-se um pouco para permitir a sua passagem.
Apólo e sua irmã Diana vinham abraçados, dando uma gostosa gargalhada. Do que riam tanto? Os grupos foram passando um a um até que chegou o casal mais curioso: a maravilhosa Vênus e seu truculento esposo Vulcano. — Vejam só, será que finalmente ele resolveu tomar um banho? — cochichou Irene à sua irmã Dice, que ocultou no véu um sorriso discreto.
De fato, o deus das forjas, normalmente coberto de fuligem, naquele dia surgira diante de todos um pouco mais apresentável, apesar de toda a sua feiúra. Seus cabelos emaranhados pareciam ter sidos apresentados finalmente a uma escova, e algo parecido com uma esponja parecia ter sido esfregado sobre o pêlo espesso do peito e dos membros.
Quase todos os convidados já haviam chegado, inclusive Netuno, com sua corte aquática, úmida e festiva, e o sombrio cortejo de Plutão, que trazia pelo braço sua esposa Prosérpina, pálida como sempre, porém um pouco mais animada. De repente, porém, Eunomia, que passava em revista com suas irmãs a enorme lista com os nomes riscados, escutou uma voz soar bem ao seu lado. — Porteiras do Olimpo, como estão? Era Mercúrio, o deus dos pés ligeiros. — Ótimas! — respondeu Irene, pelas três. — Acho que não falta mais ninguém, e você deve ser o último. Na verdade Mercúrio fora o encarregado de levar os convites do casamento a todos os recantos do Universo. Finalmente, retornava de sua trabalhosa missão.
— Não, esperem! — gritou Eunomia, colando o alvo dedo sobre um nome da lista. Os rostos das duas irmãs, mais o de Mercúrio, voltaram-se atônitos para ela. — Como? Ainda falta alguém? — perguntou o deus mensageiro. — Sim, a ninfa Quelone! — exclamou Eunomia. — Alguém a viu passar? -Não, ninguém a vira passar. — O que terá acontecido? — disseram as Horas numa só voz. Mercúrio apertou um pouco mais as suas sandálias aladas e desapareceu como um pé de vento pela estrada colorida, deixando somente a sua voz: — Vou refazer o trajeto até sua casa e ver o que houve! O filho de Júpiter percorreu grande parte da estrada, e quanto mais avançava, mais temia pelo atraso — ou mesmo pela ausência definitiva da ninfa Quelone. "Por Júpiter, se Juno descobre que ela ignorou sua festa, a matará!", pensava o deus mensageiro, enquanto apertava o pétaso para que não voasse de sua cabeça.
Quelone, entretanto, ainda estava descansada em sua casa, à beira do rio. — Que calor! — disse ela, espreguiçando-se. — Essa tal de Juno, também, pensa que eu sou o quê, para me largar desta distância toda até a sua casa? Só para ir lhe bajular? A vontade de ir para a festa de casamento de Juno era nenhuma. Na verdade não tinha vontade de fazer nada. Sim, porque apesar de ser uma ninfa adorável, era também a mais preguiçosa das criaturas. "Miseravelmente preguiçosa", como lhe dissera um dia um fauno das redondezas. Por diversas vezes Quelone ensaiara a sua ida ao casamento. Na verdade, passara a manhã toda indecisa: que roupa usaria, afinal? Mais vaporosa ou mais discreta? Isto implicava uma escolha — e escolher era tão cansativo! E o maldito penteado, solto ou preso? Pintaria ou não as suas compridas unhas? Ai! Dez unhas nas mãos e mais dez lá nos pés!
E a que horas deveria sair? Um pouco mais cedo ou bem mais tarde? Afinal de contas, deveria mesmo ir? Cogitando e refrescando os pés na água, a ninfa deixava o tempo passar. — Acho que agora não dá mais tempo... — pensou, ao observar o sol lá no alto. De repente, Mercúrio tapou o sol. Quelone, já de olhos fechados, murmurou." — Ih, agora é que não vai dar para ir mesmo... Lá vem chuva! — Sua preguiçosa, eu já imaginava! — disse o deus, pousando ao seu lado. Quelone levantou-se, de susto. — Ah, é você? — disse ela, com a mão em pala sobre os olhos. — Sempre correndo pra cima e pra baixo, não é? — Voando, querida, voando! — respondeu Mercúrio, passando uma água no rosto. — Humpf! — fez Quelone, esgotada, fechando os olhos outra vez. — Vamos, levante-se, preguiçosa! Está quase na hora das bodas de Juno. — Não posso — disse Quelone. — Acordei com o pé machucado.
— O lençol o esmagou? — perguntou Mercúrio, com um tom de mofa. — Ai, é verdade — disse a ninfa, colocando-se em pé com fingida dificuldade. Mas o deus não estava para lorotas e, em dois tempos, colocou-a no rumo da estrada. Mas a ninfa teimava em atrasar o seu passo: ora parava para descansar, ora simulava uma insolação. As horas passavam, e Mercúrio, aflito, sentia que daquele jeito jamais chegariam. — Bem, adeus, vou indo na frente, senão Juno também me matará! — disse o deus, perdendo de vez a paciência. — Isto, vá logo, apressadinho! — disse Quelone, sentando numa pedra azulada, bem no começo da longa estrada do arco-íris que levava até o palácio de Júpiter. — "Por que não me levou nos braços, então, se estava com tanta pressa?", perguntou-se, mal-humorada. "Depois a preguiçosa sou eu!" Quelone adormeceu bem na entrada do arco-íris. Quando acordou novamente, a magnífica festa já havia acabado. Grupos alegres já voltavam, cruzando por ela. — Que festa, hein? — dizia um fauno, todo descabelado. — Esta, sim, valeu a pena! — dizia uma nereida, que parecia ter abusado um pouco do vinho. Deuses, ninfas, faunos, todos esbarravam em Quelone, que era a única a seguir em sentido contrário. — Esqueceu algo, querida? — perguntou-lhe Dóris, esposa de Nereu. — Não me amole — replicou Quelone. Apesar da festa já haver acabado, ela ainda tentava avançar, nem que fosse para se explicar com a nova rainha do céu. — "Rainha do Céu!" — tripudiou a ninfa. — "Ai, Rainha do Céu, desculpe o atraso!" "Tudo bem, Rainha do Céu?" "Quem diria, hein: Rainha do Céu!" Quer saber de uma coisa? Vou é voltar já para casa! E voltou mesmo. Um pouquinho mais rápida, desta vez. Quando chegou lá, jogou-se em seu leito, exausta.
Mas Mercúrio a aguardava. — Você não foi até lá, então? — disse o deus, com o cenho franzido. — Não incomoda, pé-de-vento! — resmungou a ninfa, cobrindo o rosto. -Diz lá pra Rainha do Céu que um dia desses apareço para dar os parabéns. Mercúrio, perdendo definitivamente a paciência, pegou-a pelos pés e arrojou-a dentro do lago. Em seguida lançou também a própria casa da ninfa em cima dela. — Aí está! — disse o deus, dando as costas e indo embora.
A pobre Quelone ressurgiu instantes depois das profundezas do lago. Seu rosto estava mudado, e era como o de um enrugado lagarto.
Tinha agora quatro pernas — quatro pernas imensas — e em cima de suas costas pesava a sua antiga casa, virada numa imensa e pesada carapaça. E Quelone nunca fora tão lenta como agora! Assim a ninfa que faltou à cerimônia de casamento do grande Júpiter e da poderosa Juno foi transformada no animal hoje conhecido como tartaruga.
DEUSA DA MEMÓRIA
Mnemósine a Deusa Grega da Memória
Mnemósine a Deusa Grega da Memória
Mnemósine, a deusa grega da memória, era considerada uma das mais poderosas deusas de seu tempo. Afinal de contas, alguns acreditam que a memórias é uma dádiva que nos distingue de outras criaturas no mundo animal. É a dádiva que nos permite ter a razão, prever e antecipar acontecimentos, é a base do inicio da civilização. Infelizmente, a deusa da memória é raramente lembrada, se evaporou no tempo. Quando Mnemósine é lembrada é geralmente no contexto dela ser a mãe das musas, apesar de todo o reconhecimento de que sem memória a arte religiosa das Musas nunca seria possível. Mnemósine era uma Titânica, filha da primeira geração das divindades na Grécia. Seus pais eram o imperador Cronus e a deusa Gaia. Mnemósine é geralmente vista em pinturas com um cabelo sedutore castanho. Existe algumas histórias sobre ela mesmo ela sendo frequentemente mencionada pelos poetas antigos que falam sobre seu maravilhoso dom natural para humanidade. A Deusa Mnemósine é as vezes citada como sendo a primeira filósofa, seu dom era o poder da razão. Foi dada a ela a responsabilidade de dar nome a todos os objetos, e por fazer isto deu aos humanos os meios para o diálogo e conversação. O poder de memorizar e de lembrar foram também para sua santificação. Não confunda. Memória era o que tinha de mais importante no tempo de Mnemósine. Muito antes a invenção do alfabeto e da escrita, era crucial para o bem estar de um individuo ou a sociedade que tinha que contar somente com uma história horal. Além de, nós não estarmos falando sobre memorizar listas de compras ou compromissos aqui. A memória de Mnemósine era muito mais que isto, era a memória dos imperadores e a energia do universo, o ciclo da vida, a memória de como viver no mundo. Os antigos acreditavam que quando um morria e cruzava o submundo era dada a chance a outro. . . se beber água do rio do esquecimento você esqueceria todas as dores e os terrores de sua vida anterior (e com eles, as lições que eles trouxeram), ou se bebesse a bebida de Mnemósine, a mola da memória. Aqueles que escolhiam esquecer tinham que renascer, para retornar a terra para aprender as lições que eles precisavam. Aqueles que escolhiam lembrar eram enviados aos campos elisios onde eles passariam a eternidade em conforto e paz. A estima do qual a memória era guardada era feita no inicio dos rituais gnósticos antigos, que era solicitada para consulta com um oráculo. Antes de ser trazida ao oráculo, iniciantes eram levados a u lugar com duas piscinas e deitados um ao lado do outro. Eles eram instruidos a beber a água da piscina do esquecimento, a Deusa do Esquecimento, de maneira que eles pudessem esquecer a vida anterior. Então eles era levados a mola de Mnemósine para beber então eles lembrariam tudo o que eles estavam prestes a conhecer do oráculo. O iniciante seria então ser enterrado vivo por alguns dias (colocado em isolamento) em uma tumba do deus da Terra, para esperar a chegada do oráculo. Se o iniciante tivesse sido bem preparado e fosse merecedor, os mistérios da vida seriam ditos a le pelo oráculo. E quando ele fosse trazido de volta ao mundo vivo, os sacerdotes o colocaria em um lugar especial, chamado o trono de Mnemósine. Enquanto estivesse sentado la, Ele lembraria e diria a todos o que ele tinha aprendido la embaixo. Uma importante Deusa, Mnemósine é muito lembrada hoje em dia como a mãe das, a nona Deusa Grega do qual a função foi inspirar poetas e músicos e a promover a arte e as ciências. Depois de Zeus conduzir a Guerra contra os Titans e se estabelecer como o líder dos Olímpios, Ele temia que, mesmo que ele pudesse ser imortal, suas grandes vitórias e decisões poderiam logo serem esquecidas. Por desejar uma maneira de preserver a memória de seus feitos, ele se vestiu como um pastor e foi encontrar Mnemósine. Eles dormiram juntos por nove noites antes dele retornar ao Monte Olimpo. (A proósito , Zeus ainda era solteiro então este não foi um de seus romances extraconjugais).
QUIONE DEUSA DA NEVE
Quione é a deusa grega da neve, irmã de Cleópatra, Zethes e Calais. Nascida de Bóreas, o vento norte e Oreithyia, uma princesa ateniense que fora sequestrada pelo deus.
Quione, ao contrário de seus irmãos e seu pai, não tem asas e culpa seu pai por isso. Já teve um caso com Poseidon e engravidou do deus dando à luz Eumolpo, mas para que o seu pai não soubesse, jogou o filho no mar. Poseidon o recolheu, e o levou até a Etiópia, entregando-o a Benthesicyme, sua filha com Anfitrite.
Após várias aventuras, Eumolpo foi morto por Erecteu durante a guerra entre Elêusis e Atenas. Antes de se juntar para derrubar o Olimpo, ela vivia acima de um hotel mortal em Quebec com seu pai e seus irmãos, podendo assim falar francês fluentemente.
Ela odeia os mortais por duas razões: a primeira é porque eles nunca a honraram, principalmente em tempos antigos já que quase nunca nevava na Grécia, e o segundo motivo é porque muitos mortais acreditam no conceito de aquecimento global e ela acha que o conceito é ridículo, uma vez que ela mantém o mundo frio e leva isso como uma grande ofensa.
PANDORA
Pandora
Na mitologia grega, Pandora ("a que possui todos os dons", ou "a que é o dom de todos os deuses") foi a primeira mulher, criada por Zeus como punição aos homens pela ousadia do titã Prometeu em roubar aos céus o segredo do fogo.
Origem
Pandora era a filha primogênita de Zeus que, aos 9 anos de idade, recebeu de presente de seu pai o colar usado por Prometeu que foi retirado dele ao pagar a sua pena por roubar o fogo dos deuses. Pandora, então, arranjou uma caixa para pôr seu colar, a mesma caixa em que ela guardou a sua mente e as lembranças de seu primeiro namorado, cujo nome era Narciso. A caixa podia apenas guardar bens de todo o tipo, com exceção de bens materiais. Como o colar era um bem material, ele se auto-destruiu.
Para Pandora o colar tinha valor sentimental, o que a fez chorar por muitos dias seguidos sem parar. Como a caixa guardava lembranças com a intenção de sempre recordar-las ao "dono", Pandora sempre se sentia triste. Tentou destruir a caixa para ver se ela se esquecia do fato, mas não funcionou, a caixa era fruto de um grande feitiço, que a impedia de ser destruída. Pandora então, aos 36 anos, se matou. Não aguentou viver mais de 27 anos com aquela "maldição".
Caixa de Pandora
A caixa de Pandora é uma expressão muito utilizada quando se quer fazer referência a algo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser revelado ou estudado, sob pena de se vir a mostrar algo terrível, que possa fugir de controle. Esta expressão vem do mito grego, que conta sobre a caixa que foi enviada com Pandora a Epimeteu.
Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu, antes de ser condenado a ficar 30.000 anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido pelo abutre Éton todos os dias,alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar presentes de Zeus.
Epimeteu, no entanto, ignorou a advertência do irmão e aceitou o presente do rei dos deuses, tomando Pandora como esposa. Pandora trouxe uma caixa (uma jarra ou ânfora, de acordo com diferentes traduções), enviada por Zeus em sua bagagem. Epimeteu acabou abrindo a caixa, e liberando os males que haveriam de afligir a humanidade dali em diante: a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. No fundo da caixa, restou a Esperança (ou segundo algumas interpretações, a Crença irracional ou Credulidade). Com os males liberados da caixa, teve fim a idade de ouro da humanidade.
Interpretação
Pode-se perguntar quanto ao sentido desta lenda: por que uma caixa, ou jarra, contendo todos os males da humanidade conteria também a Esperança? Na Ilíada, Homero conta que, na mansão de Zeus, haveria duas jarras, uma que guardaria os bens, outra os males. A Teogonia de Hesíodo não as menciona, contentando-se em dizer que sem a mulher, a vida do homem não é viável, e com ela, mais segura. Hesíodo descreve Pandora como um "mal belo" (καλὸν κακὸν/kalòn kakòn).
O nome "Pandora" possui vários significados: panta dôra, a que possui todos os dons, ou pantôn dôra, a que é o dom de todos (dos deuses).
A razão da presença da Esperança com os males deve ser procurada através de uma tradução mais acurada do texto grego. A palavra em grego é ἐλπίς/elpís, que é definida como a espera de alguma coisa; pode ser traduzida como esperança, mas essa tradução seguramente é arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o temor irracional. Graças ao fechamento por Pandora da jarra no momento certo, os homens sofreriam somente dos males, mas não o conhecimento antecipado deles, o que provavelmente seria pior.
Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis. Prometeu se felicita assim de ter livrado os homens da obsessão com a própria morte. Uma outra interpretação ainda sugere que este último mal é o de conhecer a hora de sua própria morte e a depressão que se seguiria por faltar a esperança.
Um outro símbolo está inserido neste mito. A jarra (pithos) nada mais é que uma simples ânfora: um vaso muito grande, que serve para guardar grãos. Este vaso só fica cheio através do esforço, do trabalho no campo, seu conteúdo então simboliza a condição humana. Por conseqüência, será a mulher que a abrirá e a servirá, para alimentar a família.
Uma aproximação deste mito pode ser feita com a Queda de Adão e Eva, relatada no livro do Gênesis. Em ambos os mitos é a mulher, previamente avisada (por Deus, na Bíblia, ou, aqui, por Prometeu e por Zeus), que comete um erro irremediável (comendo o fruto proibido, na Bíblia, ou, aqui, abrindo a caixa, ou jarra, de Pandora), condenando assim a humanidade a uma vida repleta de males e sofrimentos. Todavia, a versão bíblica pode ser interpretada como mais indulgente com a mulher, que é levada ao erro pela serpente, mas que divide a culpa com o homem.
A mentalidade politeísta vê Pandora como a que deu ao homem a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e da adversidade (o que os monoteístas chamam de males). Ela lhe dá assim a força de enfrentar estas provas com a Esperança. Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar.
HÉSTIA DEUSA DOS LAÇOS FAMILIARES
era a deusa dos laços familiares, filha de Cronos com Réia,
não tem filhos, nem marido, pois jurou perante Zeus ser uma deusa virgem, assim sendo Zeus fez com que fosse venerada em todos os lares, como seu símbolo é o fogo da lareira, em todas as cidades e templos tinham que ter o fogo de Héstia, este fogo era conseguido a partir do sol.
Apesar de prometer ser uma deusa virgem era adulada o tempo todo porPoseidon e Apolo, ela era adorada por todos os deuses, então nem ligava muito para as adulações dos dois.
Quando os gregos faziam uma civilização fora de Grécia, sempre levavam um pouco da chama de Héstia, sempre forte e fixa, Héstia representava a duração da civilização, ele era tão venerada que os estrangeiros que chegavam tinham que fazer um sacrificio a Héstia antes de tudo.
Não tinha muitas histórias sobre ela, mas era citada em muitas, afinal todos a adoravam.
O seu culto era bem simples : na família, era presidido pelo pai ou pela mãe; nas cidades, pelas maiores autoridades políticas.
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