segunda-feira, 29 de abril de 2013

A NATUREZA, DEUSAS E MULHERES

 


"Estamos acostumados a imaginar que a natureza é feminina, chamando-a muitas vezes de mãe natureza ou de mãe Terra. Fazemos isso automaticamente, pois estamos acostumados desde sempre a associar a potência geradora das mulheres com a fecundidade presente em todo o mundo natural. Quando refletimos a respeito dessa relação, a Índia tem muito a nos ensinar.

Na cultura indiana, essa associação já vem sendo observada desde tempos arcaicos, com as várias representações da deusa mãe. A deusa mãe, ou a grande deusa, é a responsável pela criação deste mundo, dos outros mundos e de todos os seres viventes. Ela é também a deusa soberana, a quem todos os deuses devem reverência e respeito, pois, sem ela, as formas materiais não existiriam. Essa é uma grande questão: na Índia, se valoriza as formas materiais como sagradas, visto serem elas a expressão concreta da divindade. É por isso que a grande deusa não é somente criadora, mas é a própria natureza, é a própria materialidade de que o universo é feito. Pode-se dizer que, na vibração que mantém as moléculas coesas, a energia da “shakti” está pulsando incessantemente.

“Shakti”, que é uma palavra sânscrita utilizada para definir a essência abstrata da grande deusa, está relacionada à potência energética mais intensa e sutil que existe: é a fonte divina que está presente em cada manifestação de vida em nosso planeta. A palavra “shakti” também se refere a cada uma das várias deusas existentes no panteão hinduísta, consideradas como expressões individuais da grande deusa. “Shakti”, nesse sentido, não é simplesmente a esposa, ou consorte, de um deus, mas a energia essencial que vivifica cada um dos deuses.

No paralelo com os humanos, as “shaktis” são as mulheres em estado de atividade criadora. Assim como as deusas, na esfera macrocósmica, as mulheres, na esfera microcósmica, propiciam que a pulsação da vida se expresse na matéria, como agentes humanas do projeto de criação cósmica. Por essa razão, a gestação é entendida como uma oportunidade de comunhão entre as mulheres e as deusas, em que elas se integram por intermédio da natureza, visando o bem e a continuidade da criação."

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