Nos tempos dos gregos e romanos, Cibele era chamada de A Mãe
dos Deuses. O grande Sófocles a chamava de a Mãe de Tudo.
Seu culto teve início na Anatólia Ocidental e na Frigia, onde era conhecida como "A Senhora do Monte Ida".
A montanha, a caverna, os pilares de rocha e rochedo, são locais luminosos, de uma vitalidade pré-orgânica, que foram vivenciados em participação mística com a Grande Mãe, na qualidade de trono, assento, moradia, e como encarnação da própria Deusa.
Seu culto teve início na Anatólia Ocidental e na Frigia, onde era conhecida como "A Senhora do Monte Ida".
A montanha, a caverna, os pilares de rocha e rochedo, são locais luminosos, de uma vitalidade pré-orgânica, que foram vivenciados em participação mística com a Grande Mãe, na qualidade de trono, assento, moradia, e como encarnação da própria Deusa.
Cibele era a deusa dos mortos, da fertilidade, da vida
selvagem, da agricultura e da Caçada Mística. Tamboretes, pratos e tambores eram
utilizados em seus rituais. Uma estátua grega mostra a deusa sentada em um trono
e ladeada de leões. Era representada como uma mulher madura, com grandes seios,
coroada com espigas de trigo, vestida com flores e folhas e carregando várias
chaves. Os romanos decoravam suas estátuas com rosas. O culto de Cibele
tornou-se tão popular que o senado romano, a despeito de sua política permanente
de tolerância religiosa, se vira obrigado, em defesa do próprio Estado, a por
cabo à observância dos rituais da deusa-mãe.
O templo de Cibele, em Roma, foi transformado pela Igreja Católica na atual Basílica de São Pedro, no século IV, quando uma seita de cristãos montanheses, que ainda veneravam Cibele e admitiam mulheres como sacerdotes, foi declarada herética, sendo abolida e seus seguidores queimados vivos.
O templo de Cibele, em Roma, foi transformado pela Igreja Católica na atual Basílica de São Pedro, no século IV, quando uma seita de cristãos montanheses, que ainda veneravam Cibele e admitiam mulheres como sacerdotes, foi declarada herética, sendo abolida e seus seguidores queimados vivos.
Cibele possuía seus próprios Mistérios sagrados, do mesmo modo
que as deusas Perséfone e Deméter. Suas cerimônias eram celebradas à noite, pois
ela era a Rainha da Noite. Era também conhecida por possuir uma profunda
sabedoria a qual compartilhava apenas com seus seguidores legítimos.
Homens emasculados dedicados ao seu culto eram considerados encarnações de seu filho Átis, um deus lunar que usava a lua crescente como uma coroa de uma maneira muito própria, sendo tanto filho como amante de sua mãe Cibele, a deusa da Lua.
O Mito de Átis relata que ele estava para se casar com a filha do rei, quando sua mãe, estando apaixonada por ele, tornou-o louco. Átis, na loucura, ou no êxtase, castrou-se diante da Grande Deusa. Anualmente, em um culto que data de 900 a.C., em 24 de março é celebrada a tristeza de Cibele por seu filho. O pranto por Átis lembra a tristeza de Istar por Tamuz e a de Afrodite por Adônis.
Homens emasculados dedicados ao seu culto eram considerados encarnações de seu filho Átis, um deus lunar que usava a lua crescente como uma coroa de uma maneira muito própria, sendo tanto filho como amante de sua mãe Cibele, a deusa da Lua.
O Mito de Átis relata que ele estava para se casar com a filha do rei, quando sua mãe, estando apaixonada por ele, tornou-o louco. Átis, na loucura, ou no êxtase, castrou-se diante da Grande Deusa. Anualmente, em um culto que data de 900 a.C., em 24 de março é celebrada a tristeza de Cibele por seu filho. O pranto por Átis lembra a tristeza de Istar por Tamuz e a de Afrodite por Adônis.
Mas no culto de Cibele foi dada grande proeminência a um
elemento especial. O terceiro dia da festa era chamado "dies sanguinis". Nele a
expressão emocional por Átis alcançava o máximo. Cantos e lamúrias
misturavam-se, e o abandono emocional levava a um auge orgástico. Então, num
frenesi religioso, os jovens começavam a se ferir com facas; alguns até
executavam o sacrifício último, castrando-se frente à imagem da Deusa e jogando
as partes ensanguentadas sobre sua estátua. Outros corriam sangrando pelas ruas
e atiravam os órgãos em alguma casa por onde passassem. Esta casa era então
obrigada a suprir o jovem com roupas de mulher, pois agora havia se tornado um
sacerdote eunuco. Depois da castração usavam cabelos longos e vestiam-se com
roupas femininas.
Neste rito sangrante, o lado escuro ou inferior da Grande-Deusa
é claramente visto. Ela é verdadeiramente a Destruidora. Mas, muito
estranhamente, seus poderes destrutivos parecem ser dirigidos quase que tão
somente para os homens. Eles, quando escolhidos, precisavam sacrificar sua
virilidade completamente e de uma vez por todas, num êxtase louco onde a dor e a
emoção misturavam-se inextricavelmente. Mas...Como diziam os primitivos: "a Lua
é destrutiva para os homens, mas é de natureza diferente para as mulheres,
apresentando-se como sua patrona e protetora”
Cibele: A Abelha Rainha
O antropólogo e sociólogo suíço Johann Jakob Bachofen foi
pioneiro em trazer à discussão a existência de um período matrístico na história
da humanidade. Em sua obra intitulada Mother Right [Direito
Materno], publicada em 1861, ele delineou uma nova visão do papel da mulher
e da maternidade na origem dos agrupamentos humanos. Utilizou como exemplo a
organização das abelhas, afirmando que, assim como toda a colmeia se organiza em
torno da abelha-rainha, os seres humanos primeiramente se agruparam em torno da
mãe.
As abelhas surgiram junto com as flores e os frutos. A vida das
abelhas e das flores está intimamente associada. Insetos laboriosos e
disciplinados, sua vida acontece no limiar entre o reino vegetal e animal,
domínios da Mãe Primordial. Não apenas realizam a importante tarefa da
polinização, como também transformam o néctar das flores em mel, este alimento
divino que, junto com o leite, sempre foi a principal oferenda às mães-terra.
Quem faz o trabalho de coleta do néctar são as
abelhas-operárias, todas elas abelhas fêmeas, que também se ocupam da construção
da colmeia e dos cuidados com o berçário, bem como da alimentação e dos cuidados
com a abelha-rainha, personagem central e mais importante da colmeia. Dela
depende a própria existência da colmeia, não apenas porque ela segrega o
feromônio, substância que possibilita às abelhas-operárias se orientarem, mas
também porque é a única abelha com capacidade de reprodução.
Nascida de um ovo fecundado e criada em uma célula especial,
sua alimentação consiste exclusivamente de uma substância rica em proteínas,
vitaminas e hormônios sexuais, que conhecemos como geleia real, o alimento da
rainha. A partir do nono dia de vida, ela já está pronta para realizar o voo
nupcial, ocasião para a qual escolhe dias quentes e ensolarados. Em pleno voo,
ela libera feromônio para atrair os zangões de todas as colmeias das redondezas.
Seleciona os zangões que irão fecundá-la, voando em grandes altitudes e em alta
velocidade, de modo que apenas os mais fortes e rápidos consigam alcançá-la.
Quando um zangão alcança a abelha-rainha, acontece a cópula
nupcial, ocasião em que a rainha prende o testículo do zangão, que morre
gloriosamente após fecundá-la. Em média, a abelha-rainha é fecundada por 6 a 8
zangões, cujo esperma ela armazena e utiliza para a postura de ovos.
Assim como as abelhas, também os primeiros clãs humanos se
agruparam em torno da mãe, constituindo uma organização social baseada na
linhagem uterina. Neste período matrístico da história da humanidade, a coesão
grupal era assegurada através das mães clânicas. As mulheres mais velhas do
grupo administravam a produção e distribuição dos frutos da terra, que pertencia
a todos.
A Grande Mãe Primordial era a mãe de toda vida, vegetal, animal
e humana. Os grupos humanos que vagavam pela terra, seguindo as manadas e
coletando os frutos da terra, conheciam-na como Senhora dos Animais, detentora
do poder de assegurar tudo que fosse necessário para uma longa e boa vida. Com o
advento da agricultura e a domesticação de animais, durante o neolítico, passou
a ser cultuada como a Mãe-Terra, o próprio solo que nos sustenta, nutre e
recolhe.
Uma das mais antigas representações desta Mãe Primordial nos
foi legada pelos grupos humanos autóctones da Anatólia, região peninsular que
conecta a Ásia com a Europa. Por volta de 6000 anos antes da era comum, foi
representada como uma mulher nua, corpulenta, com seios fartos, sentada
majestosamente em um trono ladeado por leopardos, dando à luz.
Porção asiática da moderna Turquia, localizada a leste do
Bósforo, entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo, a topografia da Anatólia
apresenta um grande planalto central semi-árido, coroado por colinas e montanhas
de difícil acesso. Seu nome quer dizer “brilho do sol”, atribuído pelos gregos,
em referência à sua localização a leste.
Descobertas arqueológicas revelaram que a região foi ocupada
por diferentes levas migratórias, até que uma população de origem desconhecida
se assentou de forma permanente, construindo uma das mais antigas cidades até
agora descobertas, datando de 10 mil antes da era comum. Localizada perto da
atual cidade de Çatalhüyük, as descobertas deste sítio revelaram a estabilidade
e continuidade de uma cultura em que a figura da deusa era o símbolo central.
Nos santuários de Çatalhüyük, escreve Riane Eisler em O Cálice e a
Espada, a deusa é representada tanto grávida quanto dando à luz,
acompanhada de animais poderosos, como leopardos e touros.
Ainda intimamente conectados com a natureza e sujeitos às suas
oscilações, nossos ancestrais procuraram formas de intervir nos ciclos naturais,
para que estes lhes fossem mais propícios. Utilizando-se da arte mágica, criaram
cerimônias e ritos para assegurar a ocorrência das forças cósmicas, cerimônias e
encantamentos que tinham por objetivo fazer a chuva cair, o sol brilhar, os
animais se multiplicarem e vicejarem os frutos da terra. Ao aplicar os mesmos
princípios à vida humana, personalizaram os poderes por trás destas forças
cósmicas, criando sistemas religiosos que abarcavam tanto os processos da
natureza quanto a cultura humana. A figura da Mãe Primordial, como senhora dos
animais e mãe-terra, foi o primeiro grande poder unificador do mundo natural e
humano.
No segundo milênio antes da era comum, os hititas conquistaram
a península anatoliana, sendo substituídos pelos frígios, que se fixaram a
noroeste, por volta do século XIV a.e.c. Assimilando muito da cultura e da
religião dos povos autóctones, os frígios continuaram a cultuar a grande
deusa-mãe, a quem chamaram de Cibele, Mãe da Montanha. Em sua iconografia, os
leopardos foram substituídos por leões e sua figura recebeu uma touca cilíndrica
e um véu cobrindo o corpo. Corporificando as energias reprodutivas da natureza,
ela é a grande deusa da maternidade e da fertilidade.
Com o tempo, Áttis, um jovem e belo pastor, lhe foi associado
como filho e amante. Representando a vegetação, anualmente morria e renascia da
deusa. Há duas versões sobre sua morte: em uma delas, foi morto por um javali,
os porcos selvagens sendo os primeiros animais a serem domesticados e cuja
fêmea, devido à sua grande capacidade procriadora, é um dos mais antigos
símbolos de fertilidade. Em outra versão, castrou-se sob um pinheiro e sangrou
até morrer. Violetas nasceram no lugar em que seu sangue manchou a terra.
Os rituais de fertilidade celebram, essencialmente, a morte da
vegetação e seu ressurgimento na primavera. Nos mitos da terra-mãe, a vegetação
é personificada na figura do filho/amante, que morre após fertilizá-la, condição
para que um novo ciclo vital possa ocorrer. Não há separação entre as coisas
vegetais e animais, na concepção daqueles que celebram as cerimônias mágicas
relacionadas com as estações e a fertilidade animal e humana. Para eles, escreve
James Frazer em The Golden Bough, “o princípio da vida e da
fertilidade, seja vegetal seja animal, é indivisível”.
Em sua função de abelha-rainha, Cibele é a mãe-terra, o
feminino divino, enquanto Áttis representa o zangão, o sagrado masculino que
morre, após fecundá-la. As sacerdotisas de Cibele eram conhecidas como Melissas
(abelhas) e os sacerdotes de Áttis emulavam o destino dos zangões,
emasculando-se no momento de sua iniciação, que acontecia por ocasião dos ritos
primaveris da deusa, em que era festejado o renascimento do filho-amante,
representado pelas violetas, que floresciam entre os pinheiros.
Com o retorno da vegetação após um período invernal, época em
que as abelhas permanecem reclusas no interior da colmeia, e após a fecundação
da abelha-rainha, a florada primaveril atrai enxames de abelhas-operárias para
os campos e bosques floridos, a fim de colher o néctar das flores. Com esta sua
ação, realizam o milagre da polinização, fundamental para o surgimento dos
frutos. Imitando o enxame das abelhas-operárias, as sacerdotisas de Cibele
percorriam os prados, inebriando-se de vida nova e realizando os ritos
extáticos, característicos de seu culto.
O culto da Grande Mãe da Ásia Ocidental e seu filho-amante
expandiu-se por todo o mundo antigo, até alcançar Roma, de onde temos a
descrição mais detalhada do grande festival de Cibele e Áttis. Contudo, já
inseridos em uma organização patriarcal, a ênfase dos festivais romanos recai
sobre Áttis, em sua função de zangão, e não mais em Cibele, a abelha-rainha.
Realizado no mês de março, um pinheiro era cortado e, como
efígie do deus, trazido para o santuário, onde era enfaixado e coberto com
violetas. Trombetas soavam no dia seguinte. No terceiro dia, o Arquigalli,
sumo-sacerdote de Áttis, vertia seu próprio sangue como oferenda. Mas ele não
era o único a verter seu sangue. Incitados pela música selvagem de címbalos,
tambores, trompas e flautas, todos os galli, jovens sacerdotes
devotados a Áttis, giravam e balançavam a cabeça, até entrar em um frenesi de
auto-flagelamento, quando, indiferentes à dor, se cortavam para aspergir o altar
e a árvore sagrada com seu sangue. No dia seguinte, a notícia da ressurreição do
deus é celebrada com uma explosão de alegria. Finalmente, o festival é encerrado
com o banho ritual da imagem da deusa no rio.
Em sua trajetória desde a Anatólia até Roma, vamos encontrar o
culto à Grande Mãe da Ásia como abelha-rainha assimilado às deusas gregas. Como
senhora dos animais, vamos encontrá-la como Ártemis. Seu aspecto de mãe-terra se
encontra na figura de Deméter. A cópula sagrada, núcleo de todos os rituais de
fertilidade, está presente no mito de Afrodite. Mesmo sob diferentes nomes,
contudo, seu culto permanece essencialmente o mesmo, ou seja, a deusa como o
divino feminino que é perene, fecundada pelo sagrado masculino que anualmente
morre e renasce da deusa, cujo encontro propicia a propagação de animais e
plantas, cada um em sua espécie. A renovação resultante sempre enseja ritos
extáticos, com dança e música, em que predomina a liberdade, a alegria e a
sexualidade.
Deusa Cibele
Cibele e Attis.
Seu culto teve origem na Frigia, em Anatólia.
Cibele era representada como uma mulher madura, coroada de
flores e espigas de cereais. Também vestida com uma túnica multicolorida e
carregando um molho de chaves na mão.
Em algumas representações, ela está cercada por leões ou
segurando nas mãos várias serpentes.
De acordo com a lenda, Cibele se apaixonou por Attis. Mas ele a
traiu e sem perdão, a deusa o castigou deixando-o louco. Em uma de suas
loucuras, Attis mutilou a si próprio sangrando até morrer. No entanto, Cibele
ficou condoída com sua morte e resolveu transformá-lo num pinheiro e de seu
sangue nasceram violetas.
O templo de Cibele, que existia em Roma, foi transformado na
Basílica de São Pedro. Isso aconteceu no século VI quando uma seita de cristãos
montanheses que veneravam ainda a Deusa e admitiam mulheres como sacerdotes, foi
declarada herética. A seita foi abolida e seus seguidores queimados vivos.
Megalésia
A
festividade de Megalésia de Cibele, também conhecida como a Magna Mater (Grande
Mãe) tanto na Frígia como em Roma, celebrava a chegada dessa deusa em Roma nesta
data
Em 204 a.C. Roma estava envolvida em uma grande guerra contra Anibal.
As coisas não iam nada bem para as legiões romanas.
Finalmente, os romanos enviaram uma delegação ao Oráculo de Delfos para que interpretasse seus sagrados Livros Proféticos.
Nessa passagem diz-se que os invasores estrangeiros só poderiam ser expulsos quando a Mãe do Monte Ida fosse transferida de Péssinus para Roma.
O Oráculo enviou a delegação ao rei Pérgamo na Ásia Menor onde, segundo as informações, estaria o meteorito negro que continha o espírito de Cibele.
Pinheiros do Monte Ida, sagrado à deusa, forma utilizados na construção de um navio, e a pedra foi transportada de um santuário a outro até chegar a Roma.
Após cerca de um ano, Aníbal deixou a Itália para não mais voltar.
Em 204 a.C. Roma estava envolvida em uma grande guerra contra Anibal.
As coisas não iam nada bem para as legiões romanas.
Finalmente, os romanos enviaram uma delegação ao Oráculo de Delfos para que interpretasse seus sagrados Livros Proféticos.
Nessa passagem diz-se que os invasores estrangeiros só poderiam ser expulsos quando a Mãe do Monte Ida fosse transferida de Péssinus para Roma.
O Oráculo enviou a delegação ao rei Pérgamo na Ásia Menor onde, segundo as informações, estaria o meteorito negro que continha o espírito de Cibele.
Pinheiros do Monte Ida, sagrado à deusa, forma utilizados na construção de um navio, e a pedra foi transportada de um santuário a outro até chegar a Roma.
Após cerca de um ano, Aníbal deixou a Itália para não mais voltar.
Deusa Cibele
(autoria desconhecida)
Nos tempos dos gregos e romanos, Cibele era chamada de A Mãe
dos Deuses. O grande Sófocles a chamava de a Mãe de Tudo.
Seu culto teve início na Anatólia Ocidental e na Frígia, onde
era conhecida como "A Senhora do Monte Ida".
A montanha, a caverna, os pilares de rocha e rochedo, são
locais numinosos, de uma vitalidade pré-orgânica, que foram vivenciados em
participação mística com a Grande Mãe, na qualidade de trono, assento, moradia,
e como encarnação da própria Deusa.
Cibele era a deusa dos mortos, da fertilidade, da vida
selvagem, da agricultura e da Caçada Mística. Tamboretes, pratos e tambores eram
utilizados em seus rituais. Uma estátua grega mostra a deusa sentada em um trono
e ladeada de leões. Era representada como uma mulher madura, com grandes seios,
coroada com espigas de trigo, vestida com flores e folhas e carregando várias
chaves. Os romanos decoravam suas estátuas com rosas. O culto de Cibele
tornou-se tão popular que o senado romano, a despeito de sua política permanente
de tolerância religiosa, se vira obrigado, em defesa do próprio Estado, a por
cabo à observância dos rituais da deusa-mãe.
O templo de Cibele, em Roma, foi transformado pela Igreja
Católica na atual Basílica de São Pedro, no século IV, quando uma seita de
cristãos montanheses, que ainda veneravam Cibele e admitiam mulheres como
sacerdotes, foi declarada herética, sendo abolida e seus seguidores queimados
vivos.
Cibele possuía seus próprios Mistérios sagrados, do mesmo modo
que as deusas Perséfone e Deméter. Suas cerimônias eram celebradas à noite, pois
ela era a Rainha da Noite. Era também conhecida por possuir uma profunda
sabedoria a qual compartilhava apenas com seus seguidores legítimos.
Homens esmasculados dedicados ao seu culto eram considerados
encarnações de seu filho Atis, um deus lunar que usava a lua crescente como uma
coroa de uma maneira muito própria, sendo tanto filho como amante de sua mãe
Cibele, a deusa da Lua.
o Mito de Átis relata que ele estava para se casar com a filha
do rei, quando sua mãe, estando apaixonada por ele, tornou-o louco. Átis, na
loucura, ou no êxtase, castrou-se diante da Grande Deusa. Anualmente, em um
culto que data de 900 a.C., em 24 de março é celebrada a tristeza de Cibele por
seu filho. O pranto por Átis, lembra a tristeza de Istar por Tamuz e a de
Afrodite por Adônis.
Mas no culto de Cibele foi dada grande proeminência a um
elemento especial. O terceiro dia da festa era chamado "dies sanguinis". Nele a
expressão emocional por Átis alcançava o máximo. Cantos e lamúrias
misturavam-se, e o abandono emocional levava a um auge orgiástico. Então, num
frenesi religioso, os jovens começavam a se ferir com facas; alguns até
executavam o sacrifício último, castrando-se frente à imagem da Deusa e jogando
as partes ensanguentadas sobre sua estátua. Outros corriam sangrando pelas ruas
e atiravam os órgãos em alguma casa por onde passassem. Esta casa era então
obrigada a suprir o jovem com roupas de mulher, pois agora havia se tornado um
sacerdote eunuco. Depois da castração usavam cabelos longos e vestiam-se com
roupas femininas.
Neste rito sangrento, o lado escuro ou inferior da Grande-Deusa
é claramente visto. Ela é verdadeiramente a Destruidora. Mas, muito
estranhamente, seus poderes destrutivos parecem ser dirigidos quase que tão
somente para os homens. Eles, quando escolhidos, precisavam sacrificar sua
virilidade completamente e de uma vez por todas, num êxtase louco onde a dor e a
emoção misturavam-se inextrincavelmente. Mas...como diziam os primitivos: "a Lua
é destrutiva para os homens, mas é de natureza diferente para as mulheres,
apresentando-se como sua patrona e protetora."
ARQUÉTIPO MÃE-AMANTE
O primeiro amor na vida de um homem é a própria mãe. No
recôndito de sua alma, ele ficará sempre ligado a esse primeiro amor, e nunca
irá esquecê-lo, mesmo que não tenha consciência do fato. Assim, ele passa a vida
tentando reencontrar esse primeiro, único e afortunado amor. Ele o busca em
outras mulheres ou em seus ideais. Nunca o homem consegue superar a decepção que
sua mãe lhe proporciona no momento que o abandona ao se dedicar a qualquer outra
pessoa, como o pai, um irmão ou irmã. Para o filho, a mãe é o único e verdadeiro
amor, portanto, ela também deve permanecer sua única amante. É isso que todo
homem, muitas vezes de maneira completamente inconsciente, sente nas profundezas
de sua alma.
O homem precisa da mulher. Todavia, nenhuma é como aquela que
ele amou primeiro. Se o homem não consegue renunciar ao primeiro objeto de amor
de sua vida, a mãe, embora com muito pesar, sem ódio, e se dedicar afetivamente
a outras pessoas, ele fica preso na cilada desse primeiro relacionamento, e sua
vida vai ser de algum modo infeliz ou insatisfatória. O que deve fazer é
vivenciar positivamente este arquétipo materno. Os atributos do arquétipo
materno são, conforme Jung salienta: “o “maternal”, simplesmente a mágica
autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação espiritual além da razão; o
bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as condições de
crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do
renascimento, o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro,
o abissal, o mundo dos mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante e
fatal.”
O homem não deve esquecer que a mãe é amor, deleite,
bem-aventurança, significado central para toda a humanidade.
O homem, filho amado de sua mãe, livre dos laços deste primeiro
amor, deve seguir seu caminho e com isso fica livre para distribuir o amor, que
de outra maneira ficaria aprisionado na união com sua mãe.
"A humildade do coração não exige que
te humilhes, mas que te abras.
É essa a chave das
trocaS.
Deusa Cibele
Fonte de Cibele, na
Plaza de Cibeles, Madrid, esculpida por Gutiérrez Arribas (deusa e carruagem),
Robert Michel (leões) e Miguel Ximénez (adornos) (1.780-1.792)
Cibele ou Cíbele (do frígio
Matar Kubileya/Kubeleya "Mãe Kubeleya", talvez "Mãe da Montanha"; grego
Κυβέλη, Kybele, Κυβήβη, Kybebe ou Κύβελις, Kybelis),
chamada Basileia ou Basilia (do grego Basileia, "rainha")
por Evêmero e Diodoro da Sicília, era a divindade frígia da Terra-Mãe, depois
adotada por gregos e romanos e sincretizada com suas divindades
nativas.
Walter Burkert, que trata Cibele entre os
"deuses estrangeiros" na religião grega, nota que "O culto da Grande Mãe,
Meter, apresenta um quadro complexo, visto que uma tradição indígena
minoica-micênica foi entrelaçada com um culto tomado diretamente do reino da
Frígia, na Ásia Menor".
Assim como a grega Gaia e sua equivalente cretense
Reéa, com as quais veio a ser
sincretizada, Cibele personifica a terra fértil. É deusa das cavernas e
montanhas, muralhas e fortalezas, natureza e dos animais selvagens,
principalmente dos leões e das abelhas. Cibele é frequentemente identificada com
a deusa hitita e hurriana Hebat, que pode ser origem da deusa puramente anatólia
Kubaba. Os gregos frequentemente combinavam os dois nomes, o anatólio e o
frígio, para se referir a essa divindade.
A deusa era também conhecida entre os
gregos como Μήτηρ (Mētēr "Mãe") or Μήτηρ Ὀρεία ("Mãe Montanha") ou
Idaia, aludindo a uma montanha sagrada da Anatólia em particular, o monte
Ida, ou ainda Dindímena ou Sipilena, com relação a seus montes sagrados Díndimo
(geralmente localizado na Mísia) e Sipilo.
O antigo título grego, Potnia
Theron, também associado à Grande Mãe cretense, alude a suas raízes
neolíticas como "Senhora dos Animais". Ela tornou-se uma divindade da vida,
morte e renascimento em conexão com a ressurreição de seu filho e consorte,
Átis.
Em Roma, a deusa Cibele sincretizada com
Réia era venerada como Magna
Mater, "Grande Mãe" ou como Mater Nostri, "Nossa Mãe". Foi levada a
Roma depois de um augúrio da Sibila de Cumas, segundo o qual Roma não derrotaria
o cartaginês Aníbal enquanto seu culto não fosse estabelecido em Roma. Por isso,
tornou-se uma das deusas favoritas dos legionários romanos e seu culto
espalhou-se pelos acampamentos e colônias militares. Era identificada com a
romana Ceres, deusa do grão que era uma contraparte aproximada da grega Deméter,
mas que tinha características diferentes e era venerada com outro culto.
Índice
Etimologia
Os gregos antigos consideravam "Cybele" uma
palavra grega e a interpretavam como significando "a cabeluda", mas essa tese
foi abandonada, visto que as inscrições em seus monumentos frígios talhados na
rocha foram decifrados como Matar Kubileya. Matar é mãe e
Kubileya é geralmente lido como um adjetivo frígio "da montanha", assim a
inscrição pode ser lida como "Mãe da Montanha", com o apoio de fontes
clássicas.
Outra teoria diz que seu nome deriva do
lúvio Kubaba, a rainha divinizada da terceira dinastia de Kish, adorada
em Carchemish e helenizada como Kybebe Com ou sem a conexão etimológica,
Kubaba e Matar foram certamente sincretizadas em alguns aspectos.
A mutilação genital mais tarde conectada
com o culto de Cibele é associada com Kybebe em textos mais antigos, mas em
geral ela parece ter surgido da fusão de várias deusas tutelares associadas com
montanhas específicas da Anatólia e de outras localidades e chamada simplesmente
"mãe".
Segundo Carnoy, Cibele proviria de seu
homônimo kybélê que significaria "gruta", pois a deusa, na Frígia, era
culturada em montanhas e grutas.
Representação
Iconograficamente, a deusa é representada
com a cabeça coroada de torres, de uma estrela de sete pontas ou de um crescente
lunar e seu carro era puxado por leões. De um ponto de vista simbólico, segundo
Jean Chevalier e A. Gheerbrant, Cibele configura a energia latente no seio da
Terra. Ela é a fonte primordial e ctônica de toda fecundidade. Seu carro,
arrastado por leões, denota que ela governa, comanda e dirige as forças vitais.
Sua cabeça coroada traduz seu poder sobre os ciclos da evolução biológica e
terrestre.
Culto
Os seguidores mais extáticos de Cibele eram
os galos, homens que ritualmente se castravam e depois vestiam roupas de
mulheres e assumiam identidades femininas. Calímaco, comentador do século III,
refere-se a esses sacerdotes como Gallai, no feminino, mas outros
contemporâneos os chamam Gallos ou Galli.
Não há menção desses seguidores na época
clássica, embora se relate que suas sacerdotisas lideravam o povo em cerimônias
orgiásticas com música selvagem ao som de tambores, dançando e bebendo. Ela era
associada à religião de mistério relativa a seu filho Átis, que se castrou,
morreu do ferimento e foi ressuscitado pela mãe. Os dáctilos eram parte do seu
cortejo.
Outros seguidores de Cibele, os coribantes ou kurbantes frígios,
expressavam seu culto extático e orgiástico com música, principalmente de
tambores, choque de escudos e lanças, dança, canto e gritos durante toda a
noite.
Mito
Versões
Num penhasco deserto, denominado Agdos, na
fronteira da Frígia, Cibele era adorada sob a forma de uma pedra negra.
Enamorado da Grande Mãe e não podendo conquistá-la, Zeus depositou seu sêmen sobre um
rochedo vizinho, do qual nasceu o hermafrodito Agdístis. Dioniso se apossou da
criança e, após enlouquecê-la, a emasculou. Do sangue de Agdístis nasceu uma
romãzeira, cujo fruto foi colhido por Nana, filha do deus-rio Sangário (derivado de
"machadinha"). Tendo-o depositado no seu seio, a jovem ficou grávida de Átis. O
rio ordenou à filha que desposasse o menino, mas este foi recolhido por
peregrinos e criado com mel e "leite de bode", o que lhe valeu o nome de
Átis, interpretado pela etimologia
popular como significando "bode", attagus em frígio, ou ainda o "belo".
Disputado por Cibele, Agdístis (agora uma mulher) e Midas, rei de Pessinunte,
que o queria para genro, Agdístis o enlouqueceu, o que levou Átis a se emascular
sob um pinheiro e morrer. Cibele enterrou-lhe o membro decepado, mas do sangue
provocado pelo ferimento nasceram violetas, que emolduraram o pinheiro. A filha
de Midas, desesperada, se matou e de seu sangue nasceram também violetas. Cibele
a sepultou e sobre o túmulo nasceu rapidamente uma amendoeira. Atendendo às
súplicas de Agdístis, Zeus fez que o corpo de Átis permanecesse incorruptível,
que seus cabelos não deixassem de crescer e o dedo mínimo continuasse a
movimentar-se. Agdístis transportou-lhe em seguida o cadáver para Pessinunte e,
após sepultá-lo, fundou em honra de seu grande amor uma confraria de sacerdotes
e instituiu uma festa anual em sua memória.
Em outra versão, de Ovídio, Átis, sob a
forma de um jovem de beleza irresistível, que vivia nas montanhas e florestas,
mereceu as honras da paixão de Cibele. A deusa, tendo resolvido unir-se a ele
para sempre, fê-lo sacerdote de seu templo, mas exigiu-lhe fidelidade absoluta.
Átis, porém, não resistiu aos apelos dahamadríade Sagarítis (também
derivado de "machadinha"). Profundamente amargurada, triste e exasperada, a
Grande Mãe cortou a árvore à qual estava ligada a ninfa, matando-a em
consequência. Não satisfeita, enlouqueceu Átis que, tomado pelo "furor de
Cibele", se emasculou, tornando-se submisso e dócil servidor da deusa, em cuja
carruagem percorre as montanhas da Frígia.
CIBELE, A ABELHA
RAINHA
O antropólogo e sociólogo suíço Johann
Jakob Bachofen foi pioneiro em trazer à discussão a existência de um período
matrístico na história da humanidade. Em sua obra intitulada Mother
Right [Direito Materno], publicada em 1.861, ele delineou uma nova
visão do papel da mulher e da maternidade na origem dos agrupamentos humanos.
Utilizou como exemplo a organização das abelhas, afirmando que, assim como toda
a colmeia se organiza em torno da abelha-rainha, os seres humanos primeiramente
se agruparam em torno da mãe.
As abelhas surgiram junto com as flores e
os frutos. A vida das abelhas e das flores está intimamente associada. Insetos
laboriosos e disciplinados, sua vida acontece no limiar entre o reino vegetal e
animal, domínios da Mãe Primordial. Não apenas realizam a importante tarefa da
polinização, como também transformam o néctar das flores em mel, este alimento
divino que, junto com o leite, sempre foi a principal oferenda às
mães-terra.
Quem faz o trabalho de coleta do néctar são
as abelhas-operárias, todas elas abelhas fêmeas, que também se ocupam da
construção da colmeia e dos cuidados com o berçário, bem como da alimentação e
dos cuidados com a abelha-rainha, personagem central e mais importante da
colmeia. Dela depende a própria existência da colmeia, não apenas porque ela
segrega o feromônio, substância que possibilita às abelhas-operárias se
orientarem, mas também porque é a única abelha com capacidade de
reprodução.
Nascida de um ovo fecundado e criada em uma
célula especial, sua alimentação consiste exclusivamente de uma substância rica
em proteínas, vitaminas e hormônios sexuais, que conhecemos como geleia real, o
alimento da rainha. A partir do nono dia de vida, ela já está pronta para
realizar o voo nupcial, ocasião para a qual escolhe dias quentes e ensolarados.
Em pleno voo, ela libera feromônio para atrair os zangões de todas as colmeias
das redondezas. Seleciona os zangões que irão fecundá-la, voando em grandes
altitudes e em alta velocidade, de modo que apenas os mais fortes e rápidos
consigam alcançá-la.
Quando um zangão alcança a abelha-rainha,
acontece a cópula nupcial, ocasião em que a rainha prende o testículo do zangão,
que morre gloriosamente após fecundá-la. Em média, a abelha-rainha é fecundada
por 6 a 8 zangões, cujo esperma ela armazena e utiliza para a postura de
ovos.
Assim como as abelhas, também os primeiros
clãs humanos se agruparam em torno da mãe, constituindo uma organização social
baseada na linhagem uterina. Neste período matrístico da história da humanidade,
a coesão grupal era assegurada através das mães clânicas. As mulheres mais
velhas do grupo administravam a produção e distribuição dos frutos da terra, que
pertencia a todos.
A Grande Mãe Primordial era a mãe de toda
vida, vegetal, animal e humana. Os grupos humanos que vagavam pela terra,
seguindo as manadas e coletando os frutos da terra, conheciam-na como Senhora
dos Animais, detentora do poder de assegurar tudo que fosse necessário para uma
longa e boa vida. Com o advento da agricultura e a domesticação de animais,
durante o neolítico, passou a ser cultuada como a Mãe-Terra, o próprio solo que
nos sustenta, nutre e recolhe.
Uma das mais antigas representações desta
Mãe Primordial nos foi legada pelos grupos humanos autóctones da Anatólia,
região peninsular que conecta a Ásia com a Europa. Por volta de 6000 anos antes
da era comum, foi representada como uma mulher nua, corpulenta, com seios
fartos, sentada majestosamente em um trono ladeado por leopardos, dando à
luz.
Porção asiática da moderna Turquia,
localizada a leste do Bósforo, entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo, a
topografia da Anatólia apresenta um grande planalto central semi-árido, coroado
por colinas e montanhas de difícil acesso. Seu nome quer dizer “brilho do sol”,
atribuído pelos gregos, em referência à sua localização a leste.
Descobertas arqueológicas revelaram que a
região foi ocupada por diferentes levas migratórias, até que uma população de
origem desconhecida se assentou de forma permanente, construindo uma das mais
antigas cidades até agora descobertas, datando de 10 mil antes da era comum.
Localizada perto da atual cidade de Çatalhüyük, as descobertas deste sítio
revelaram a estabilidade e continuidade de uma cultura em que a figura da deusa
era o símbolo central. Nos santuários de Çatalhüyük, escreve Riane Eisler em
O Cálice e a Espada, a deusa é representada tanto grávida quanto dando
à luz, acompanhada de animais poderosos, como leopardos e touros.
Ainda intimamente conectados com a natureza
e sujeitos às suas oscilações, nossos ancestrais procuraram formas de intervir
nos ciclos naturais, para que estes lhes fossem mais propícios. Utilizando-se da
arte mágica, criaram cerimônias e ritos para assegurar a ocorrência das forças
cósmicas, cerimônias e encantamentos que tinham por objetivo fazer a chuva cair,
o sol brilhar, os animais se multiplicarem e vicejarem os frutos da terra. Ao
aplicar os mesmos princípios à vida humana, personalizaram os poderes por trás
destas forças cósmicas, criando sistemas religiosos que abarcavam tanto os
processos da natureza quanto a cultura humana. A figura da Mãe Primordial, como
senhora dos animais e mãe-terra, foi o primeiro grande poder unificador do mundo
natural e humano.
No segundo milênio antes da era comum, os
hititas conquistaram a península anatoliana, sendo substituídos pelos frígios,
que se fixaram a noroeste, por volta do século XIV a.e.c. Assimilando muito da
cultura e da religião dos povos autóctones, os frígios continuaram a cultuar a
grande deusa-mãe, a quem chamaram de Cibele, Mãe da Montanha. Em sua
iconografia, os leopardos foram substituídos por leões e sua figura recebeu uma
touca cilíndrica e um véu cobrindo o corpo. Corporificando as energias
reprodutivas da natureza, ela é a grande deusa da maternidade e da
fertilidade.
Com o tempo, Áttis, um jovem e belo pastor,
lhe foi associado como filho e amante. Representando a vegetação, anualmente
morria e renascia da deusa. Há duas versões sobre sua morte: em uma delas, foi
morto por um javali, os porcos selvagens sendo os primeiros animais a serem
domesticados e cuja fêmea, devido à sua grande capacidade procriadora, é um dos
mais antigos símbolos de fertilidade. (Veja o texto: A Deusa Porca e os Rituais de Fertilidade) Em outra versão, castrou-se sob um pinheiro e sangrou até
morrer. Violetas nasceram no lugar em que seu sangue manchou a terra.
Os rituais de fertilidade celebram,
essencialmente, a morte da vegetação e seu ressurgimento na primavera. Nos mitos
da terra-mãe, a vegetação é personificada na figura do filho/amante, que morre
após fertilizá-la, condição para que um novo ciclo vital possa ocorrer. Não há
separação entre as coisas vegetais e animais, na concepção daqueles que celebram
as cerimônias mágicas relacionadas com as estações e a fertilidade animal e
humana. Para eles, escreve James Frazer em The Golden Bough, “o
princípio da vida e da fertilidade, seja vegetal seja animal, é
indivisível”.
Em sua função de abelha-rainha, Cibele é a
mãe-terra, o feminino divino, enquanto Áttis representa o zangão, o sagrado
masculino que morre, após fecundá-la. As sacerdotisas de Cibele eram conhecidas
como Melissas (abelhas) e os sacerdotes de Áttis emulavam o destino dos zangões,
emasculando-se no momento de sua iniciação, que acontecia por ocasião dos ritos
primaveris da deusa, em que era festejado o renascimento do filho-amante,
representado pelas violetas, que floresciam entre os pinheiros.
Com o retorno da vegetação após um período
invernal, época em que as abelhas permanecem reclusas no interior da colmeia, e
após a fecundação da abelha-rainha, a florada primaveril atrai enxames de
abelhas-operárias para os campos e bosques floridos, a fim de colher o néctar
das flores. Com esta sua ação, realizam o milagre da polinização, fundamental
para o surgimento dos frutos. Imitando o enxame das abelhas-operárias, as
sacerdotisas de Cibele percorriam os prados, inebriando-se de vida nova e
realizando os ritos extáticos, característicos de seu culto.
O culto da Grande Mãe da Ásia Ocidental e
seu filho-amante expandiu-se por todo o mundo antigo, até alcançar Roma, de onde
temos a descrição mais detalhada do grande festival de Cibele e Áttis. Contudo,
já inseridos em uma organização patriarcal, a ênfase dos festivais romanos recai
sobre Áttis, em sua função de zangão, e não mais em Cibele, a
abelha-rainha.
Realizado no mês de março, um pinheiro era
cortado e, como efígie do deus, trazido para o santuário, onde era enfaixado e
coberto com violetas. Trombetas soavam no dia seguinte. No terceiro dia, o
Arquigalli, sumo-sacerdote de Áttis, vertia seu próprio sangue como oferenda.
Mas ele não era o único a verter seu sangue. Incitados pela música selvagem de
címbalos, tambores, trompas e flautas, todos osgalli, jovens sacerdotes
devotados a Áttis, giravam e balançavam a cabeça, até entrar em um frenesi de
auto-flagelamento, quando, indiferentes à dor, se cortavam para aspergir o altar
e a árvore sagrada com seu sangue. No dia seguinte, a notícia da ressurreição do
deus é celebrada com uma explosão de alegria. Finalmente, o festival é encerrado
com o banho ritual da imagem da deusa no rio.
Em sua trajetória desde a Anatólia até
Roma, vamos encontrar o culto à Grande Mãe da Ásia como abelha-rainha assimilado
às deusas gregas. Como senhora dos animais, vamos encontrá-la como Ártemis. Seu
aspecto de mãe-terra se encontra na figura de Deméter. A cópula sagrada, núcleo
de todos os rituais de fertilidade, está presente no mito de Afrodite. Mesmo sob
diferentes nomes, contudo, seu culto permanece essencialmente o mesmo, ou seja,
a deusa como o divino feminino que é perene, fecundada pelo sagrado masculino
que anualmente morre e renasce da deusa, cujo encontro propicia a propagação de
animais e plantas, cada um em sua espécie. A renovação resultante sempre enseja
ritos extáticos, com dança e música, em que predomina a liberdade, a alegria e a
sexualidade.
- * -
(autoria desconhecida)
Cibele, uma deusa da Frígia, designada por Mãe dos
Deuses ou Grande Mãe. Disse Rosane que o grande Sófocles a chama de “A Mãe de
Tudo”.
Também conhecida como Deusa dos mortos, da fertilidade, da vida selvagem, da agricultura, da Caçada Mística e, principalmente, do poder de fertilidade da natureza, seu culto começou na Ásia Menor e espalhou-se por diversos territórios gregos, mantendo a popularidade até os romanos, que lhe edificaram um templo no Palatino, tendo, para isso, mandado vir de Pessinunte, em 240 a.C., uma pedra negra que a simbolizava. Segundo os gregos, contudo, esta deusa seria apenas uma encarnação de Reia, adorada no monte Cíbele, na Frígia. Ela possui seus próprios Mistérios sagrados, do mesmo modo que as deusas Perséfone e Deméter.
O culto a Cibele tornou-se tão popular que o senado romano, a despeito de sua política permanente de tolerância religiosa, se viu obrigado, em defesa do próprio Estado, a por cabo à observância dos rituais da deusa-mãe. Tal culto incluía manifestações orgíacas, como era próprio dos deuses relacionados com a fertilidade, celebrados pelos Curetes ou Coribantes.
Cibele é representada, frequentemente, com uma coroa de torres, com leões por perto ou num carro puxado por estes animais e está relacionada com a lenda grega de Agdístis e Átis, esse último um deus lunar que usava a lua crescente como uma coroa de uma maneira muito própria, sendo tanto filho como amante de sua mãe Cibele, também conhecida como deusa da Lua.
O Mito de Átis relata que ele estava para se casar com a filha de um rei, quando sua mãe, estando apaixonada por ele, tornou-o louco. Átis, na loucura, ou no êxtase, castrou-se diante de Cibele, causando muita tristeza à Grande Deusa. O pranto de Cibele por Átis lembra a tristeza de Istar por Tamuz e a de Afrodite por Adônis.
Também conhecida como Deusa dos mortos, da fertilidade, da vida selvagem, da agricultura, da Caçada Mística e, principalmente, do poder de fertilidade da natureza, seu culto começou na Ásia Menor e espalhou-se por diversos territórios gregos, mantendo a popularidade até os romanos, que lhe edificaram um templo no Palatino, tendo, para isso, mandado vir de Pessinunte, em 240 a.C., uma pedra negra que a simbolizava. Segundo os gregos, contudo, esta deusa seria apenas uma encarnação de Reia, adorada no monte Cíbele, na Frígia. Ela possui seus próprios Mistérios sagrados, do mesmo modo que as deusas Perséfone e Deméter.
O culto a Cibele tornou-se tão popular que o senado romano, a despeito de sua política permanente de tolerância religiosa, se viu obrigado, em defesa do próprio Estado, a por cabo à observância dos rituais da deusa-mãe. Tal culto incluía manifestações orgíacas, como era próprio dos deuses relacionados com a fertilidade, celebrados pelos Curetes ou Coribantes.
Cibele é representada, frequentemente, com uma coroa de torres, com leões por perto ou num carro puxado por estes animais e está relacionada com a lenda grega de Agdístis e Átis, esse último um deus lunar que usava a lua crescente como uma coroa de uma maneira muito própria, sendo tanto filho como amante de sua mãe Cibele, também conhecida como deusa da Lua.
O Mito de Átis relata que ele estava para se casar com a filha de um rei, quando sua mãe, estando apaixonada por ele, tornou-o louco. Átis, na loucura, ou no êxtase, castrou-se diante de Cibele, causando muita tristeza à Grande Deusa. O pranto de Cibele por Átis lembra a tristeza de Istar por Tamuz e a de Afrodite por Adônis.
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