quinta-feira, 7 de junho de 2012

SOBERANAS DEUSAS CELTAS

Soberanas Deusas Celtas na terra e na guerra



“A morte nasce conosco e conosco caminha por todos os instantes da vida, mesmo que tentemos ignorá-la”. (John O’Donoghue, escritor irlandês). 

Quando dizemos que a espiritualidade celta é politeísta, temos de ter em mente a multiplicidade de deusas e deuses cultuados na Antiguidade pelos celtas. Sempre de acordo com as fontes mencionadas, esses deuses e deusas não estão num paraíso remoto e distante (apesar de poderem ser encontrados também em terras mágicas), mas sim na própria paisagem – rios, o mar, montanhas, bosques, árvores individuais: cada uma dessas características da natureza é a ‘encarnação’, a manifestação física das deidades celtas. Da mesma forma que, reciprocamente, as deidades celtas dão vida e alma às forças da natureza.


Para ser uma Deusa na antiga tradição celta, a mulher deveria ser Mãe, protetora de seus filhos, preocupada com todos os membros de sua tribo e acima de tudo, ser capaz de ensinar e transmitir sabedoria…

Deusas Celtas são parte integrante da vida comum deles, estão representadas pelos elementos naturais: terra, água, fogo e ar – não são imortais, cometem erros e são humanas…

Os celtas não misturavam panteões de outras culturas e nem cultuavam Deusas celtas de outras tribos, apesar das semelhanças, cada ramo celebrava suas Deusas locais seguindo apenas as referências das tradições pertencentes a sua terra natal, com exceção de algumas divindades pan-célticas.

As Deusas celtas possuíam características próprias e distintas, conforme seus atributos. Relatos vindos de antigos ancestrais nos esclarecem que as tradições eram passadas de boca a ouvido, centrados nas esferas do Céu, da Terra e do Mar!


Um dos conceitos celtas mais difíceis de compreender e aceitar pela nossa cultura cristã e a mentalidade atual é a associação dos arquétipos sagrados femininos com a guerra. Para transpormos barreiras conceituais devemos conhecer o princípio celta da soberania da terra, sempre representado por uma Deusa Mãe com características protetoras e defensoras. A vida e a sobrevivência dependiam da terra e por isso ela devia ser preservada e protegida, pois desrespeitar a terra e a soberania de um povo significava ofender e ameaçar a própria natureza criadora da vida. A soberania o verdadeiro poder de quem governava e conduzia os destinos de um povo, pertencia a um arquétipo feminino, a própria Deusa da Terra, com a qual o rei ou governante devia se casar simbolicamente para garantir a prosperidade e paz. O casamento do rei com a Deusa da terra representava as condições indispensáveis para que a soberania se manifestasse: respeito, igualdade, confiança, parceria e solidariedade. A representante da Deusa soberana era uma sacerdotisa ou rainha imbuída de poderes especiais, que até mesmo podia ser divinizada


Algumas pessoas, inicialmente, sentem uma certa dificuldade em relação à conexão com as Deusas. Isto acontece, principalmente, por conta de toda a influência da sociedade patriarcal dominante durante milênios, assim como pela manipulação da igreja, para controlar o indíviduo através do medo e do "pecado". Tudo isso é tão forte que, às vezes, chega a causar crises de consciência e muito desconforto, tamanhos são os dogmas impregnados no ser. 

As Deusas representam a essência feminina reprimida durante a cristianização, principalmente para controlar o poder sobre a criação, ou seja, sobre a criatividade e, assim, restringir a nossa liberdade. Não estamos nos referindo a Jesus que, no nosso modo de ver, foi um grande Mestre e, tampouco, ao feminismo, mas às divindades.

A criação e a destruição são processos interdependentes, existe uma ausência de vida na escuridão da terra que recebe os mortos, mas também é a terra escura que abriga e promove o desabrochar das sementes, que renascem - assim como os mortos nela enterrados para uma Nova Vida.


A natureza das deusas celtas é multifuncional e com complexos significados, mesclando elementos ancestrais dos pacíficos povos pré-celtas (maternidade, fertilidade) com os dos combativos celtas, onde prevaleciam atributos de guerra, morte e sexo, acrescidos de soberania.Várias divindades representam uma paradoxal união de extremos: amor e guerra, guerra e fertilidade, guerra e soberania. Não existe uma deusa do amor no panteão celta, as deidades deusas e deuses- simbolizam as forças da natureza e a eterna roda da vida/ morte/renascimento, início/ fim/recomeço, em que os opostos se seguem em círculos evolutivos e tem o mesmo peso. 

Embora se ignore se a Deusa existiu primeiro ou se Deusa e Deus evoluíram juntos, é certo que o sucesso da caçada e a sobrevivência dos clãs dependia da fertilidade dos animais e a fertilidade foi e é um dos maiores atributos da Deusa.


O aparente paradoxo entre os aspectos e naturezas das deusas celtas reflete a profunda compreensão do processo de dar/receber, nascer/morrer, começo/fim. Muitas deusas aparecem como figuras promíscuas e destrutivas, mas elas personificavam aspectos da natureza, como a fertilidade e a soberania da terra, que tinham que ser defendidas a qualquer preço para assegurar a sobrevivência dos descendentes. 

Enfim, dentro do Paganismo Celta, como uma religião politeísta que honra diversos Deuses e Deusas, não existe o conceito de apenas uma única deidade ou de uma deusa e um deus. Temos a visão da natureza como a Grande Mãe, sendo a personificação das Deusas da terra, que para nós, é a fonte criadora de toda a vida, de onde tudo veio e para onde tudo retornará, inclusive, os Deuses.


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