sábado, 12 de maio de 2012

DEUSA INANNA OU ISHTAR


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"Ela retira seu coração do mais alto dos céus e o coloca no mais profundo da terra, abandonou o céu, abandonou a terra - ao mundo inferior ela desceu."
(Trecho do livro: Caminho para iniciação feminina)

 Fui até lá
de livre vontade
Fui até lá
com meu vestido mais lindo
minhas jóias mais preciosas
e minha coroa de Rainha do Céu
No Inferno
diante de cada um dos sete portões
fui desnuda sete vezes
de tudo o que pensava ser
até que fiquei nua daquilo que de fato sou
Então eu a vi
Ela era enorme e escura e peluda e cheirava mal
tinha cabeça de leoa
e patas de leoa
e devorava tudo que estivesse à sua frente
Ereshkigal, minha irmã
Ela é tudo o que eu não sou
Tudo o que eu escondi
Tudo o que eu enterrei
Ela é o que eu neguei
Ereshkigal, minha irmã
Ereshkigal, minha sombra
Ereshkigal, meu eu.
(Oráculo da Deusa)


INANNA
É também chamada de "Estrela do Amanhecer e do Anoitecer"

Inanna é uma das mais antigas manifestações da Deusa-Mãe, venerada entre os antigos Sumérios, sendo associada ao planeta Vênus. Foi especialmente cultuada em Ur, mas era alvo de culto em todas as cidades sumérias. É cognata das deusas semitas da Mesopotâmia (Ishtar) e de Canaã (Asterote e Anat), tanto em termos de mitologia como de significado.


Ishtar
Ishtar personificava a força criadora e destruidora da vida, representada pelas fases da Lua, crescente e a cheia que favorecem o desenvolvimento e a expansão, a minguante e a negra que enfraquecem e finalizam os ciclos anteriores. Como Deusa da fertilidade ela dava o poder de reprodução e crescimento aos campos, aos animais e aos seres humanos. Foi nesta qualidade que se tornou a Deusa do Amor, que teria descido do planeta Vênus, acompanhada de seu séqüito de sacerdotisas Ishtaritu que ensinaram aos homens a sublime arte do êxtase: sensorial e espiritual.
Como rainha do céu era a regente das estrelas, pois ela mesma tinha vindo de uma estrela que brilhava no amanhecer e no entardecer e era o ponto central de seu culto. As constelações zodiacais eram conhecidas pelos antigos como o “cinturão de Ishtar” e era ela quem percorria o céu todas as noites em uma carruagem puxada por leões, controlando o movimento dos astros e as mudanças do tempo. Muitos eram os títulos que lhe foram atribuídos – “Mãe dos Deuses, A Brilhante, Criadora da Vida, Condutora da Humanidade, Guardiã das Leis e da Ordem, Luz do Céu, Senhora da Luta e da Vitória, Produtora de Sementes, Senhora das Montanhas, Rainha da Terra”.
As suas representações a mostram como a mãe que segura os seios fartos, a virgem guerreira, a insinuante sedutora, a sábia conselheira, a juíza imparcial. 
 Associada à Isis (Egito)
Afrodite (Grecia) ou Vênus (Roma)
Ishtar possuía um trono decorado com Leões e um cetro com uma serpente dupla; algumas vezes era representada na companhia de dragões. Como a Freya nórdica, Ishtar possuía um colar de arco-íris e era associada ao amor sexual, mas não necessariamente ao casamento.

 Ishtar tem como símbolo a Estrela de oito pontas:

Mas Ishtar tinha também um aspecto escuro, que surgia quando ela descia ao mundo subterrâneo e uma época de terrível depressão e desespero caia sobre a terra. Na sua ausência, nada podia ser concebido, nenhum ser podia procriar, a Natureza inteira mergulhava na inércia e inação, chorando por sua volta. Era então chamada de “Mãe Terrível, Deusa da Tempestade e da Guerra, Destruidora da vida, Senhora dos Terrores Noturnos e dos Medos”. Porém, era nessa manifestação que ela podia ensinar os mistérios, revelar as coisas ocultas, propiciar presságios e sonhos, permitir o uso da magia, o alcance da sabedoria e a compreensão dos ciclos da vida e da natureza.

Em suas formas variadas e mutantes Ishtar desempenha as múltiplas possibilidades da essência feminina, sendo a personificação do princípio feminino – seja o da natureza Yin, seja o da anima. Nas celebrações de lua cheia dedicada ao seu culto (chamadas Shapattu) as mulheres da Babilônia, Suméria, Anatólia, Mesopotâmia e Levante levavam oferendas de velas, flores, perfumes, mel e vinho para seus templos, cantavam-lhe hinos, dançavam em sua homenagem e invocavam suas bênçãos para suas vidas, suas famílias e sua comunidade.
 
Na sua personificação como Inanna temos o mito da DESCIDA DE INANNA ao submundo... muito interessante e que nos traz grandes reflexões sobre a natureza humana...


A DESCIDA DE INANNA

A história da mulher que se despiu, em sete portais sucessivos, de tudo que ela havia realizado na vida, até estar nua, com nada restando a não ser sua vontade de renascer.
(Diane Wolkstein - contadora de histórias)

No mito, Inana que é a deusa do Paraíso, radiante, alegre, cheia de vida, desce ao mundo inferior para visitar sua irmã gêmea, Ereshkigal, cujo nome significa “a senhora do grande espaço abaixo”, que acaba de perder o marido.
Solicitando entrada no
kur, o ‘mundo do não retorno’, o guardião pergunta
pelo motivo e ela responde que vem por causa de sua irmã, Ereshkigal, que se contorcia em dores. Inana é obrigada a passar por sete portais, sendo-lhe exigido que a cada portal se desfizesse de uma de suas muitas insígnias (coroa, vestimenta, jóias) de modo que adentrou nua o grande salão real, dirigindo-se diretamente ao trono de sua irmã, com reverência.  
Então Ereshkigal fitou Inana com os olhos da morte. Ela pronunciou contra ela a palavra da ira. Ela bradou contra ela o grito da culpa" e logo a matou, deixando-a pendurada num gancho até apodrecer.
Ao desfazer-se de suas insígnias como Rainha do Céu, Inana vai de encontro aos seus aspectos mais escuros, mais reprimidos. Inana e Ereshkigal são aspectos polarizados de uma mesma totalidade: os aspectos claro e escuro da Grande Deusa. A lua cheia e a lua negra, acertadamente chamada de lua nova, porque é nas profundezas da não existência, do caos, das trevas, que a vida se renova, renasce.
Ao ultrapassar o limiar do kur, o reino da morte sumeriano, passam a prevalecer as leis de Ereshkigal. Nada do que aprendemos na vida nos serve diante da morte, nada nos resta a não ser nos render, nos submeter. Este olhar da morte, impiedoso e frio, não é fácil de sustentar.
O que traz Inana de volta é a intervenção de Enki, deus da sabedoria, da água e da criatividade. Tomando um pouco da sujeira que estava debaixo de suas unhas pintadas de vermelho, “uma coisinha insignificante e rejeitada, até mesmo invisível anteriormente, e que sobrara do processo criativo maior”, ele modela duas criaturas que são enviadas ao submundo com a água e o alimento da vida, para se juntarem ao lamento de Ereshkigal, que estava para parir.
Aproximando-se da deusa e “ignorando os processos de distância e das leis do mundo superior”, estas criaturas instruídas pelo deus da sabedoria levam o aspecto escuro do feminino a tomar consciência da validade de sua experiência de dor. Ao honrarem o sofrimento e validarem essa experiência, possibilitam a transformação da destruição em generosidade. Como recompensa, ela lhes oferece o rio em toda sua plenitude, os campos plenos de colheita. Mas eles queriam apenas o corpo inerte de Inana que, sendo-lhes concedido, eles reavivam.

Gosto muito deste mito pois, como escorpiana que sou, seguido visito o Reino de Plutão para abraçar minhas sombras. E mesmo tendo feito este trajeto tantas vezes nunca é tão fácil despir-se nos portais sabendo que se vai de encontro a morte...  mas não nos resta muita alternativa, quando algo em nós precisa morrer, o melhor é aceitar e entrar no processo sem reclamar, senão... o tempo de resgate é maior. Vambora deixar cair os véus, as máscaras, a coroa, os adornos que enfeitam e inflam o ego, agradecendo a oportunidade de transmutação e ressureição que temos a cada encontro com Plutão ou Ereshkigal.
Este é o momento de encararmos nossas mazelas, nossos ódios, selvageria, raiva, medos... tudo que está oculto... e ás vezes deixamos oculto também nosso poder, nosso potencial criativo, nossa energia sexual... Não tenha medo da Sombra! Ela não é malvada como pintaram, ela é só o lugar para onde não costumamos olhar! Abraçar a Sombra é trazer estes aspectos à consciência para serem reintegrados em nossa psique. Por isso sempre voltamos dessa Jornada, das "noites escuras da alma", mais conscientes e inteiros.
E como nos diz Monika Von Koss, "cada uma de nós precisa percorrer este caminho para as profundezas de si mesma, tantas vezes quantas forem necessário, para encontrar nossas partes exiladas, recuperá-las e integrá-las na totalidade do que somos. Só assim, a totalidade da vida e da morte pode ser restaurada em sua integridade. Apenas quando reconhecemos e acolhemos todos os nossos aspectos, podemos recompor nossa integridade e nos tornarmos quem somos verdadeiramente, desde o princípio".

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