quinta-feira, 18 de junho de 2015

KALI E LILITH




Kali e Lilith, duas deusas geográfica, histórica e culturamente tão distantes são também assustadoramente muito parecidas.


Kali é a outra esposa de Shiva. A primeira esposa de shiva foi Sati, e ela imolou a si mesmo para tentar trazê-lo ao mundo. Shiva é também casado com ParvatI, vista as vezes com a reencarnação de Shiva, e as vezes como Durga (embora nesses casos, ela tenda a tornar-se Parvati). Parvarti é a esposa perfeita, ela sofre com s mudanças de humor de Shiva. Ela cuida da casa, ela o acalma quando está nervoso, ela lhe deu filhos (embora não da maneira tradicional pois em todos os casos as crias podem ser questionadas como sendo filhas apenas de um dos dois), e ela cuida destes filhos. Ela é a dona de casa perfeita. Ocasionalmente Parvati fica nervosa e esta raiva se manifesta como algo externo, geralmente como a própria Kali. Kali é de fato a filha ou pelo menos um dos aspectos de Parvati. Parvati é conhecida como “A Escura” porque sua pele é negra e seu marido gosta de a provocar por isso. Ela então se afasta dele por um tempo e remove a pele escura tornando-se “A Dourada”, a pele escura retirada se transforma em Kali, nome que literalmente também significa “Escura”. A pele raivosa de Parvati é ocasionalmente invocada quando Parvati vê algo que não lhe agrada. Kali é portanto também esposa de Shiva e força Shiva a atuar no mesmo papel que Parvati atua para lidar com ele. Parvati acalma Shiva, mas Shiva tem que acalmar Kali. Kali aparece com a mais poderosa figura neste triângulo. Shiva é eclipsado por sua esposa. Ela é mais incontrolável do que ele é.
  
Lilith foi a primeira esposa de Adão. A última esposa de Adão, Eva, era mais submissa e mais agradável a Adão. Lilith era igual a Adão. O ser original criado tinha duas metades, o Adão Hermafrotida antes do adão Macho era composto de duas criaturas que foram separadas em Lilith e Adão, Lilith era o complemento perfeito de Adão, sua “metade feminina”. Entretanto, Adão não aceitou que sua metade fosse igual a ele. Já que os dois vieram do mesmo ser e Adão é visto como o parceiro dominante de Eva, tanto ele como Lilith tentaram dominar o relacionamento. Lilith queria dominar adão e Adão queria dominá-la. Eles eram muito iguais e concorrentes para serem bons parceiros. Lilith percebeu que a relação estava condenada e que Adão não desistiria de dominá-la e então partiu. Lilith a mulher rejeitada que por sua vez rejeitou Adão partiu para explorar sua própria vida sem ele. Outra mulher foi criada de Adão, desta vez de metade da sua metade. O lado feminino já havia sido removido de Adão, havia menos para se pegar agora e assim Eva não nasceu como um indivíduo tão forte. Ela tinha entretanto uma curiosidade inerente, provavelmente tirada dele, pois ele havia dado nome a todas as coisas vivas mas depois que elas nasceu não parecia mais muito ativo. Foi ela que decidiu tentar o fruto da arvore do conhecimento do bem e do mal pois era curiosa. Parecia uma boa idéia, uma vez que Adão tinha enganado ela ao dizer que ela iria morrer, mesmo se só tocasse na árvore numa tentativa de controla-la. Na cultura comtemporanea Lilith é ocasionalmente ligada a serpente  e geralmente neste contexto a serpente uma boa coisa. A serpente, Lilith, sabe que a árvore não a mataria. Sabe que a árvore poderia lhe erguer e a capacidade de enfrentar Adão
  


Tanto Kali como Lilith são “a outra mulher”. Ambas tem tem maridos que são casados com outras. Estas outras são mais associadas com seus maridos do que elas mesmas. Kali é mais do tipo solitário e Lillith nem mesmo aparece nos textos canônicos da Bíblia. Nenhuma destas mulheres se encaixa no papel de esposa, ambas são independentes demais para ocupar este papel.


Mulher Poderosa


Kali é a força incontrolável. Ela é a energia definitiva. O marido dela, Shiva, é aquele que geralmente tem que ser impedido de destruir o mundo, mas com Kali é o contrário. Ele tem de apaziguá-la. Ele tem que deitar-se como se estivesse morto debaixo de seus pés dançantes e ser pisoteado. Ele tem que acalmar essa mulher com sua própria submissão. Esta é uma inversão completa de sua relação com Parvati, no qual ela é a única que lhe acalma, ela é a dona de casa e pacifica Shiva na vida da casa, longe da destruição. Kali é a força destrutiva e incontrolável ativa aqui. Ela perturba o equilíbrio normal do poder entre os deuses e deusas hindus, em que a deusa é o poder por trás do deus, mas não age sozinha. Aqui Kali é tanto o poder e a ação. Ela não precisa de um homem para fazer. Ela precisa de um homem para que ela pare de fazer.
  


Lilith era a mulher que no início da criação a abandonou. Ela abandonou o marido, o homem que foi criado com o mesmo ser que ela antes que fossem separados em dois. Ela queria a igualdade. Ou talvez até mesmo a superioridade. No sexo, ela queria estar no topo. Mas Adão queria alguma medida de controle sobre ela, então ela o deixou. Ela foi a primeira mulher a ter o poder de sair quando a relação não se adequasse a ela, e encontrar sua própria vida. Ela saiu e encontrou demônios para satisfazer seus prazeres. Ela escolheu com quem ela queria estar e decidiu o curso de sua própria vida. Deus, seu "pai", não teve o direito de impor seu casamento arranjado com Adão. Ele viu ela partir, ao contrário da maioria dos pais com casamento arranjado na sociedade judaica tradicional, embora é claro cheio de objeções. E foi inclusive depois de ter estado "casada" ou pelo menos noiva, que ela optou por sair. Este divórcio foi iniciado pela mulher. Ela não ficou muito satisfeita, então foi embora.
  
Ambas, Kali e Lilith representam o poder que muitas vezes não é aberto para uso das mulheres nas sociedades antigas. Elas são mais poderosas do que os homens, são elas que optam por usar este poder. Elas são perigosas e usam seu poder de forma destrutiva. Assim, elas foram tomadas como modelos de mulheres poderosas, o poder tantas vezes negado ao sexo oposto. Estas duas deusas provaram não só que são mulheres poderosas, mas também que nem por isso precisam virar homens.

  
Por cima


Na maior parte da iconografia de Kali, ela é retratada dançando em cima de forma caída de Shiva. Mas há algo além disso. Ela não está só dançando sobre seu corpo, mas a dança também é uma dança sexual. Kali está montando sobre Shiva. Ela está no topo. Ela está no controle. Ele é passivo, permitindo-lhe estar no controle. Ele sacia seu desejo de destruir, oferecendo seu sexo, um sexo em que ela está no controle. Ele é usado. Se Shiva não ceder á Kali, e a deixar no controle, ela irá destruir o mundo. Em relação a forma de Parvati da Shiva é o "chefe da família" Parvati, é quem deve impedi-lo de destruir o mundo. Mas com Kali os papéis são invertidos. Ela é até mais desinibida do que Shiva. Ela vai mais longe do que ele, e ele tem que reconhecer que ela é mais perigosa do que ele próprio. Como tal, ele assume o papel de Parvati, a esposa do sofrimento perfeito, com Kali, para ‘tentar’ acalmá-la e mantê-la feliz.
  


Lilith deixou Adão por causa do sexo. Eles foram criados a partir da mesma forma, e Lilith não viu nada de errado em ficar no topo. Na verdade, era isso que ela queria. Mas Adão não queria deixar sua outra metade em uma posição de superioridade, e levantou objecções. Lilith não queria ser rejeitada, ela não quis saber por que deveria ficar submissa em vez de divertir-se plenamente como instigadora do sexo. Assim ela partiu. Adão queria controlá-la, e isso era algo que ela não aceitaria. Lilith fugiu e encontrou um grupo de demônios no Mar Vermelho. Com esses demônios encontrou a gratificação sexual, e deu à luz uma série de demônios, mais de uma centena por dia, homens e mulheres, Lilins e Liliths. Estas crianças demônio, nascidas de sua união ilícita, foram condenados a morrer, cem por dia, em troca de capacidade de Lilith de atacar crianças humanas quanto estiverem impuras. Lilith vingou-se de Adão também depois que ele deixou o  jardim do paraíso durante seu período de penitencia, Lilith veio a ele. Ela enviou-lhe seus espíritos e demônios de sua criação. Espíritos masculinos, talvez os filhos de Lilith, vieram a Eva e deu ao mesmo tempo. Lilith é a mulher definitiva em poder sexual. A Succubus definitiva, quase sua definição. Ela expressa sua liberdade através de seu deleite sexual, mas ainda sim tem que assistir a uma centena de seus filhos morrer por dia, e ser banida para fora da sociedade humana.

 Kali e Lilith tomaram o controle no sexo. Elas o revelaram. Não mais sexo é uma “tarefa” a ser executada, ou algo que existe para o prazer do homem. Elas controlam o sexo.  Elas tem total controle de sua propria sexualidade, e não abrirão mão disso pelo capricho de seus parceiros. Elas encontram liberdade e poder no controle de si mesmas e de seus corpos.

  

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