sexta-feira, 5 de junho de 2015

DEUSAS LOIRAS


– Monte Olimpo à vista, querida. – disse a deusa loira e confiante na proa da embarcação que cruzava o céu azul, sem nuvens até a linha do horizonte. Essa deusa, cujo rosto traduzia o próprio conceito de beleza clássica, com olhos azuis claros, nariz fino, lábios pequenos e claros, possuía belos cabelos dourados e encaracolados que desciam até a metade das costas. Eram bem penteados, assemelhavam-se a feixes jungidos perfeitamente, sem falhas ou fios rebeldes. Formavam um todo único e o eventual esvoaçar dos fios não bagunçava a cabeleira, que sempre voltava à perfeição. Cabelos sempre simétricos era o que a deusa tinha, e seus leves, femininos e charmosos movimentos em nada prejudicava a perfeição deles. Outras mulheres e mesmo deusas jamais teriam isso. Não havia pontas duplas ou fissuras também. Trajava roupas de frio, embora muito leves, mas que não escondiam as curvas perfeitas de seu corpo, porquanto eram claras e justas. Usava muitas quinquilharias e penduricalhos. Pedras preciosas de todas as cores e tamanhos adornavam seu corpo, em especial as mãos, pulsos e pescoço. A alvura e as curvas da deusa contrastavam e valorizavam ainda mais as pedras preciosas, cuja formas representavam várias figuras geométricas. Portava uma poderosa espada na cintura esbelta e curvilínea. Exalava um cheiro delicioso e natural, cujo perfume era capaz de cegar de amor o mais contido dos homens ou mesmo um deus. Seu corpo era escultural, muito bonito e proporcional. Não tinha qualquer imperfeição. O decote alvo era muito convidativo, quiça hipnotizante, impossível não olhar para ele, impossível não desejá-lo, impossível não querer se fundir a ele.
– Ai que bom, já estava ansiosa. Nunca conheci nenhum deus grego. – Lamentou a outra deusa, também de inigualável beleza, porém seus traços eram exóticos. Possuía o rosto mais fino e tinha olhos grandes e amendoados, os cabelos dourados eram espetados e ostentava em sua pele alva tatuagens de plantas e animais silvestres. A bela trajava panos leves, semitransparentes, e usava poucos adornos. Estava descalça. Assim, seu corpo de modelete podia ser visto por todos, em todos os seus detalhes. Era um convite ao sexo e à reprodução.
– Ah, não se preocupe. Você vai conhecer a maioria deles. Há alguns bem interessantes lá. – Disse a primeira deusa sorrindo e como sempre muito fogosa.
– Apolo estará lá? – Perguntou a tímida deusa, cuja feminilidade emanava de seu frágil e esguio corpo. – Sempre ouvi falar que ele era o mais belo dos deuses. – Falou lançando o olhar sincero para a amiga.
– Ah, o querido Apolo. Talvez, querida, talvez. Mas há muitos outros deuses interessantes também. Talvez vejamos Zeus, Ares, Hermes, Hércules… Cada um tem sua qualidade. Apolo é belo, Zeus poderoso, Ares rude – Riu a deusa com um ar de malícia -, Hermes sábio e Hércules forte.
Sua interlocutora, assustada, perguntou:
– Mas Ares não é o amante de sua amiga Afrodite?
– kkkkkkk – gargalhou a amiga, colocando a mão direita sobre o próprio colo, enquanto lançava o olhar para cima em direção à imensidão azul. – Não se incomode com isso. Afrodite não liga para essas coisas. Eu e ela somos muito amigas e nesse ponto somos iguais. Somos deusas do amor e da sensualidade, como você, minha doce amiga.
A essa altura a embarcação já arremetia para pousar no Monte Olimpo. As deusas viram durante a descida inúmeras criaturas mitológicas ferozes passarem pelo barco voador. A tripulação, composta por dez belas mulheres, de feições escandinavas, com corpos esculturais, loiras, de olhos claros e que trajavam roupas de guerreiras, ficou assustada. Prepararam seus arcos e flechas, bem como as espadas, para eventual combate contra aqueles manticoresvoadores com seus voos rasantes e ameaçadores sobre a nau. Todavia, a deusa amiga de Afrodite, confiante e altiva, embora assustada com a quantidade de criaturas, determinou que suas subordinadas abaixassem a guarda, afinal de contas, aquelas criaturas nada mais faziam do que seu trabalho de guardas do Olimpo e certamente esperavam a chegada das convidadas.
O Monte Olimpo era algo grandioso, monumental não só para a tímida deusa, mas também para a mais maliciosa delas. Era a primeira visita aos olimpianos desta também, embora já tivesse conhecido alguns olimpianos em outras plagas.
– Tragam o hidromel! – gritou a deusa que capitaneava o navio. Segundos depois estava portando um cálice com a preciosa bebida trazido por uma de suas belas e prestativas mulheres.
“Isso é muito maior que Asgard”, pensou consigo mesma um pouco invejosa. “Não é à toa que aquele velho caolho evita problema com os olimpianos.” Pensou a deusa que capitaneava o navio voador.
O Monte Olimpo era composto por inúmeros templos e palácios. Cada divindade tinha seu palácio. Aquele que ficava bem no cume do Monte, o mais grandioso e belo deles, digno de veneração por todos os engenheiros e arquitetos que já passaram pela face da Terra, e cuja beleza certamente equivaleria ao palácio Valhala e o próprio palácio da deusa capitã, era o palácio de Zeus e de sua esposa Hera.
O Olimpo era um colosso de rochas e pedras. Media, aproximadamente, 10.000 metros de altura, e ainda assim, apresentava um clima ameno e agradável no seu cume, isento de neve ou frio. A iluminação solar não encontrava obstáculos para aclarar todo o ambiente, exceção feita a algumas nuvens que perambulavam preguiçosas sobre a montanha e que as deusas não haviam notado momentos antes. O Monte lembrava muito a figura de um cone, tamanha era a simetria entre seus lados. Havia uma via espiral que, ao que tudo indicava, se iniciava na base do titã de pedras e rochas e acabava na entrada do templo máximo, aquele dedicado ao soberano do Olimpo e sua esposa.
A via de terra batida possuía cerca de dez metros de diâmetro e era cercada de por belas folhas e flores, de toda sorte de espécie: bromélias, frésias, rosas, gardênias, genistras, gloriosas, Iris, ixias, cerejeiras, copos de leite, chuvas de prata, tulipas, narcisos, crisântemos… As deusas observaram que havia muitos animais silvestres, esquilos, furões, um corvo, gatos selvagens, fuinhas, guaxinins, porquinhos da índia, o que agradou a deusa mais tímida.
O barco adernou um pouco mais, pois agora havia uma harpia, criatura com corpo de pássaro e rosto e seios de mulher, indicando as coordenadas para que a embarcação chegasse ao seu destino e atracasse. O cume do Monte foi ficando para o alto, pois o veículo voador descia gradativamente. O navio navegava suave paralelo à morada dos deuses, contornando-a e seguindo o caminho que ligava todos os palácios dos deuses, de forma a gradativamente ficar no plano inferior ao do maior dos palácios. As deusas viram alguns palácios e puderam constatar a quem pertenciam, pois os nomes dos deuses estavam gravados nas entradas dos edifícios. Os templos eram um espetáculo à parte, pois se revelavam um elogio à arquitetura clássica. Um edifício mais belo que o outro, alguns cravejados de pedras preciosas, ouro, entre outros metais preciosos, outros feitos inteiramente de mármore etc. Alguns eram coloridos, outros possuíam imagens, materiais e desenhos que faziam referência a fatos históricos e aos deuses que guardavam as respectivas casas. Havia muitas estátuas e bustos nestes templos, bem como enormes estátuas dos deuses guardiões de cada templo. E um palácio, em particular, continha uma imensa piscina povoada por carpas e outros animais e monstros marinhos. Este era o templo de Poseidon, um desafeto do pai da deusa visitante fogosa.
Antes de chegar ao destino final, as divindades ladearam as casas de Poseidon, primeiro templo abaixo do templo de Zeus, Hades, um templo sombrio e abandonado, Apolo, Ártemis, Hermes, Héstia e Deméter, até finalmente ficarem diante do palacete da Deusa Afrodite, que as aguardava em Terra.
Todavia, não era apenas esta deusa que as aguardava…
– Aaaaaaaaahhhhhh!!! Querida! Háquanto tempo! – Gritou excitada Afrodite.
Afrodite, a deusa da beleza e do amor grega, aguardava sua convidada com uma única peça de roupa transparente e muito sensual, como de hábito. Todos podiam apreciar suas linhas perfeitas e harmoniosas, seu corpo escultural e, alguns, ou melhor, algumas, podiam invejar a mais bela das deusas, segundo julgamento feito há milhares de anos atrás, cuja decisão jamais poderia ser mudada. A deusa grega da beleza era morena, olhos castanhos, lábios vermelhos e carnudos, rosto de feições clássicas, possuía seios e nádegas fartas, cintura fina, coxas bem torneadas, pés pequenos e bem femininos. Era a típica gostosona, sem, felizmente, chegar a ser uma “potranca”.
Freya, a deusa nórdica do amor, desceu do barco antes mesmo deste atracar, com um gracioso e ágil salto, e correu de encontro à amiga grega:
– Ai, que saudade! Faz quase um século que não nos vemos e você continua linda  – Gargalhou excitada Freya enquanto ambas as deusas, aos pulinhos, davam-se as mãos, que estavam alçadas até a altura dos seios.
– Linda é você, a mais bela das deusas nórdicas. – O nariz de Freya retorceu levemente, pois a restrição não lhe agradara. – Mas me conta, como vão as coisas? Teve mais filhos? Alguma “vítima” nova? – Sorriu-se toda a ganhadora do Pomo da discórdia, ignorando o quase imperceptível desconforto da amiga.
Freya estrategista que era – como todo ser feminino – Resolveu ignorar a restrição, o que não significava que iria esquecê-la.
– Está tudo bem em Valhala, amor. A paz reina desde que Zeus e Poseidon passaram por lá. Estou ampliando o meu palácio, lembra de Sessrymnir? Ele vai ficar tão grande e belo como o templo de Zeus – disse de passagem – E tenho – a deusa reclinou-se e diminuiu o tom de voz, pois apesar de ser uma mulher altiva, segura e confiante, preferia falar de suas aventuras amorosas com discrição – alguns amantes novos, entre deuses, gigantes, homens e até… – Riu-se – … anões.
– Jura?! – perguntou Afrodite fingindo-se surpresa com tom de cochicho, mas na verdade seus pensamentos estavam nas dimensões de Sessrymnir. Será que Sessrymnir seria maior que o palácio dela? – Mas você disse que não…
– Ai amiga, eu sei, eu sei, mas… é engraçado. Olha, eu não faço nada demais com eles. – Freya se referia aos anões. – Eu só mostro meu corpo e eles ficam satisfeitos. Além disso, os pequeninos criam belos artefatos e engenhocas úteis. Eu preciso te mostrar tudo. Você vai adorar! – Bateu as palmas das mãos, empolgadas
Antes que Afrodite pudesse continuar o animado diálogo, ouviu um grande estrondo. Olhou por detrás da amiga e viu que era o barco que trouxera Freya terminando de aportar. Logo se deu conta que aquele era um belo artefato. Parecia mais confortável do que o exaustivo ato de voar ou de se transmutar em algum animal voador ou de pegar carona em criaturas fantásticas.
– Mas que belo barco voador querida Freya, não sabia que havia virado marinheira – gargalhou a deusa grega da beleza com seu próprio comentário, ao que foi seguido pela amiga que riu mais da gargalhada da anfitriã do que da “piada” propriamente dita.
– Ah, esse barco não é meu. Frey me emprestou. Lembra-se dele? – perguntou maliciosamente Freya para sua amiga e recebeu como resposta um sorriso pervertido – É um barco muito especial – continuou a entidade asgardiana. – Você nem acredita o que ele pode fazer – arrematou orgulhosa Freya, que dava muito valor a bens materiais, desde que belos.
– O que ele tem de tão especial? Não é o fato de voar? – perguntou curiosa Afrodite.
Freya, que já esperava pela pergunta, voltou-se para o barco e ordenou:
– Meninas, descarreguem rapidamente as cargas. Preciso mostrar algo para minha amiga – Gritou para as mulheres tripulantes da nave, que nada mais eram que Valquírias. Voltou-se, então, para a companheira e disse animada:
– Enquanto isso, linda, quero que conheça uma deusa muito especial. – Dirigiu a bela fronte novamente para a movimentada embarcação – onde as Valquirias corriam contra o tempo não só para cumprir a determinação da ama, mas para se verem livre da chuva que ameaçava cair – e chamou a outra deusa:
– Flidais, querida, desça!
Flidais, a deusa celta da sensualidade, desceu lentamente a ponte de madeira que ligava o navio ao Monte Olimpo. Três pares de olhos divinos a observavam. Flidais exalava doçura, inspirava proteção e promovia a rendição daqueles que a fitavam. Os delicados pés descalços tocavam o solo como se fossem plumas levadas pela brisa, seu recato, sua doçura, e seu rosto com traços suaves, consternavam todos que tinham a benção de estar diante de sua presença aconchegante.
Afrodite, por um momento, ficou boquiaberta. Passou a desejar aquela deusa desconhecida. Questionou-se, por um segundo se realmente era a mais bela… mas foi só por um segundo, talvez nem isso.  Flidais seria sua, já estava certo. Ela, Freya e Flidais, o trio de deusas mais belo que já existiu, existe e existirá no universo. Juntas e acompanhadas pelas inúmeras subordinadas de Afrodite e as Valquírias de Freya? Aquela noite, que em poucas horas chegaria, seria uma loucura só. Uma noite de prazer sem limites, banhada por Ambrósia e por Hidromel. Beleza para todos os lados, corpos esculturais de mulheres, seios e pernas para todos os lados, do jeito que Afrodite gostava. A última vez que tinha se divertido fora no bacanal mensal organizado por Dionísio.
Flidais parou na frente de Afrodite. Trocaram olhares profundos. Freya, ao lado da deusa celta, abraçando animada o braço da divindade celta dos animais selvagens e dos bosques, interrompeu os sonhos de luxúria da olimpiana.
– Veja! As Valquirias já desembarcaram toda a bagagem. Venham queridas! – A deusa do amor advinda do norte puxou suas colegas para perto do barco. Estava excitada. Queria mostrar a funcionalidade excepcional do barco.
A nau de madeira nobre era enorme, contava com inúmeros desenhos em alto relevo em suas laterais, media cerca de cinquenta metros de comprimento, cinco de largura e possuía a altura de vinte metros no mastro mais elevado. Na proa havia a figura esculpida de uma linda sereia. Era um misto de barco viking com navio pirata. Os grandes remos nas laterais funcionavam sozinhos, por mágica, as velas calculavam automaticamente a área que o planador precisava cobrir para cumprir as coordenadas dadas pela tripulação, que estava ali em grande número para proteger as deusas e fiscalizar a eficiência da mágica que movia o colosso voador.
– Prontas?! – perguntou animada a formosa deusa parada ao lado do transporte. Exibia um sorriso gostoso e encantador capaz de colocar qualquer homem sob seus desígnios e vontades. Deu um leve toque na fragata e um imenso estrondo ressoou no Olimpo. O veículo começou a se dobrar várias vezes de uma forma incrível, incompreensível e veloz. Afrodite e Flidais ficaram surpresas. Apesar do tempo estar fechando rapidamente, o que era sinal de problemas, segundo os pressentimentos mais íntimos de Afrodite e de todos os habitantes do Olimpo, um sem número de criaturas voadoras e de habitantes do Olimpo surgiu na proximidade daquele evento épico agregando-se à população de faunos, centauros, manticores, harpias, aves que por lá já estavam, fosse transitando, fosse montando guarda.
Poucos minutos depois, que para aqueles que presenciaram o ocorrido pareceram alguns segundos, a embarcação se transformou em um pequenina caixa de madeira, que poderia ser colocada no bolso, tal como uma caixa de fósforo.
– Vocês já ouviram falar em portabilidade? – Freya riu da própria piada, ao que foi seguido pelas duas amigas e por seu séquito de Valquírias. A conversa seguia animada entre as três deusas ali mesmo onde o navio havia atracado, mas o pressentimento de Afrodite estava certo. O clima – que até então estava gostoso e ensolarado – já havia mudado completamente. Todos os habitantes do Olimpo que minutos atrás presenciaram os feitos mágicos do navio fugiram ou se esconderam nos bosques, cavernas, rochas e matas que embelezavam a estrada olímpica e seus palácios. Flidais e Freya estavam com medo. Não era só o clima que estava pesado, mas o ambiente também. Uma esfera de ódio, rivalidade, ressentimento, inveja e agressividade tomava conta dos arredores. Parecia que algo ruim estava prestes a acontecer. Afrodite, todavia, buscou acalmar as amigas. Sabia o que estava acontecendo. Puta! Odiava aquela criatura. Freya então se tocou, passou a entender o que acontecia, ou melhor, lembrou-se que alguém indesejado estava chegando. Vivia situação semelhante em Asgard.
Planando sobre o caminho que ligava a base do monte Olimpo ao seu cume, descia a maior rival de Afrodite. Sua inimiga secular. Era uma deusa de inigualável beleza, embora não fosse párea para nenhuma daquelas três. Seus traços eram mais experientes, seu rosto arredondado, seus trajes, conservadores, escondiam todas as partes do corpo feminino que pudessem causar desejos nos homens, mulheres, deuses e deusas. Não usava decote, seu vestido era longo e escondia inclusive os pés, que já estavam protegidos por sandálias grossas. Os ombros e os braços eram cobertos por uma manta. Usava cabelos presos, mas ainda assim tinha o cuidado de proteger o belo pescoço da concupiscência alheia. O corpo era esguio, embora tivesse fartos seios. Tinha a dignidade de uma mulher casada e de uma mãe, porém seus olhos revelavam outra característica: o monstruoso ciúmes.
Hera, acompanhada por pesadas nuvens de chuva – como era usual nas aparições do marido – ensandecida, porque não autorizara nenhuma visita para o “seu” Monte Olimpo, perguntou furiosa e irônica:
– Mais vagabundas para o Olimpo, Afrodite? Já não bastam as ninfas, náiades e mulheres que você trás do plano inferior? Quer que todo o Olimpo vire um puteiro? Seu palácio já não é o suficiente?
Imediatamente, as Valquírias puxaram das costas seus arcos e flechas e apontaram para Hera. Incontinenti e em resposta, manticores e harpias apareceram e deram inúmeros rasantes sobre as Valquírias, que já não sabiam mais se apontavam suas armas em direção à deusa ou às criaturas. Centauros guerreiros – comandados por Quíron – saíram das matas e apontaram seus arcos e flechas para as Valquírias que agora já estavam completamente confusas. Raios ribombavam próximos às deusas.
Flidais estava com muito medo. Não estava habituada àquela violência. Era convidada! Como alguém podia tratar um convidado dessa maneira?! Freya, que também era deusa da guerra dos nórdicos, desembainhou sua espada mágica.
– Elas são minhas convidadas! São deusas e devem ser tratadas como tal. Respeite Freya e Flidais! Não vou tolerar que uma deusa deplorável como você macule a imagem de Zeus. Ele ficará sabendo disso! – gritou Afrodite que com as mãos produziu um campo de força que protegia todas as suas convidadas das descargas elétricas e das investidas dos manticores e harpias.
– Hahahahaha – gargalhou diabolicamente Hera, irritada e em frenesi. – Zeus não está aqui e na ausência dele sou eu quem manda. E estou mandando essa vagabunda da Freya sair daqui! Frigga já me falou sobre ela. É tão depravada quanto você. Matá-la seria um favor para Asgard.
– Você não tem coragem – retrucou e desafiou Afrodite.
A espada de Freya passou a brilhar, a escandinava estava com raiva. Quem era aquela louca? Já ouvira histórias sobre o ciúme e sobre a rivalidade entre Afrodite e Hera, mas aquilo era um absurdo! Jamais fora tão desrespeitada em vida. Nem Frigga tinha coragem de falar com ela desse jeito. As Valquírias, devidamente protegidas pelo campo de força, miraram Hera. Os raios caíam com mais potência sobre o campo de força, incêndios nas plantas que margeavam a estrada do Monte Olimpo se iniciaram, apesar da chuva. A destruição das flores e da mata chamou bastante a atenção de Flidais, que passou a odiar aquela bruxa a partir desse momento. Atrás das deusas surgiram ciclopes enormes, empunhando enormes árvores que lhes serviam de porretes.
Hera ria desenfreadamente. Mataria sua inimiga. Já deveria tê-lo feito há muito tempo. Seu reinado não seria mais complacente com a putaria que Afrodite aprontava. A cafetina teria seu fim. E também faria um favor para Frigga que jamais seria trocada novamente por Freya. Acertaria dois coelhos com uma cajadada só. Afinal de contas era a deusa do casamento, senhora dos partos, deusa das mulheres (e não das putas como se referia à rival) e, principalmente, da fidelidade conjugal. Tinha que zelar por tudo isso e tudo isso era o que a mera existência de Afrodite afrontava. Afrodite e seu liberalismo, sua promiscuidade, seu lesbianismo, suas traições, seus estímulos à prostituição e às práticas sexuais deploráveis, era um desrespeito a Hera. Oras, ela é a rainha do Olimpo, esposa de Zeus – aquele cafajeste – e não Afrodite. Por que ter que tolerá-la? E por tantos milênios. Afrodite deveria ser jogada no Tártaro. Vê?! Aquela que consideram deusa da beleza nem foi gerada pela forma tradicional. É uma versão feminina de Urano. Tem a mesma natureza dele. Quiça seja a mesma pessoa. Não, Zeus que a perdoasse posteriormente e se entendesse com Odin, mas aquela era a oportunidade de acabar com Afrodite. Não admitiria mais vadias no Olimpo.
– Até quando você aguentará? – gritou ameaçadoramente Hera. A esfera de energia de Afrodite estava sendo alvejada por raios cada vez mais fortes. Os centauros atiravam flechas sem parar. Os ciclopes, harpias e manticores, que se multiplicavam, pressionavam o escudo feito por Afrodite.
– Você pagará muito caro por isso feiosa! – gritou Afrodite. – Zeus te punirá duas vezes, aliás, te punirá inúmeras vezes, lá em meu palácio, como o fez por tantos séculos kkkkk. – E arrematou: – Tenho muitas oferendas para ele. – sorriu maliciosa a deusa que se defendia.
– Cale-se! – bradou furiosa a deusa. Odiava quando Afrodite a chamava de feiosa.
– Freya e Flidais são muito mais belas que você, querida! Aliás, todas as Valquírias são – gargalhou. Até as humanas são! – debochou cruelmente. – Zeus não te quer, nunca te quis. Ele não te ama… feiosa! – Mais risadas maliciosas.
– Você é uma vagabunda, puta e vadia! Não é ninguém para dizer sobre minha relação com Zeus.
– Eu sou a deusa do Amor, “amiga”. Nessa sua relação não há amor, só há traição e poder. Você é feia, muito feia!
Hera sempre invejou a beleza de Afrodite, principalmente depois que Éris causou a discórdia entre as duas com o “Pomo da discórdia”. Hera sempre quis ser a mais bela, afinal de contas era a rainha do Olimpo e suas atribuições eram as mais nobres. Deveria ter sido escolhida por Páris como a mais bela. Maldito pastor! Preferiu uma filha bastarda do que poder sobre todos.
O Olimpo inteiro estava coberto por nuvens carregadas. Caía uma tempestade muito grande. E a situação estava chegando ao limite. Freya já preparava uma super investida contra Hera. As valquírias tentariam abater alguns adversários para proteger as deusas. Afrodite, nervosa e pressionada, ardia a aura que dela emanava, as pupilas desapareceram e os olhos ficaram totalmente cor rosa choque brilhante. Os cabelos e roupas levitavam e só não voavam porque presos ao corpo, tamanha era a energia que a deusa do amor expelia do corpo. Todavia, o confronto definitivo entre Hera e seus exércitos e as três deusas e as valquírias ficaria para outro dia.
Um raio imenso e destruidor, maior que todos aqueles que até então se abatiam sobre as três deusas, caiu entre elas e Hera. O estrondo foi tão forte que muitas criaturas hostis ao trio de deusas simplesmente “apagaram”, desmaiaram ou morreram. Era Zeus que chegava sob a forma de um raio. Estava extremamente irritado. Imediatamente, as nuvens se dispersaram. A tempestade se transformou em chuva que se transformou em garoa e esta se extinguiu. Os ofensores também se dispersaram, voltaram para seus postos. Os corpos das criaturas mortas, abatidas ou desmaiadas, foram imediatamente retirados do “campo de batalha” por ordens expressas de Quíron. Ao lado de Zeus estava Hércules, cuja aparição fora menos espetacular, mas igualmente imponente.
Zeus, com quase dois metros de altura, músculos por todas as partes, olhar severo, pequenas descargas elétricas passando pelo corpo, cabelos longos e inteiramente brancos, com longas barbas igualmente brancas, trajando roupas tipicamente gregas e com os braços cruzados, encarava a esposa. Não era a primeira vez, nem a segunda, nem a centésima vez que Hera armava barraco na sua ausência.  Ora ela tinha entreveros com Afrodite, ora com Atena, ora com Hércules, ora com Poseidon, ora com Hades, isso quando não matava alguma ninfa, mulher ou náiade que acusava de ter deitado com o deus supremo do Olimpo. Hera sempre lhe dera dores de cabeça, mas o que podia fazer com ela? Era sua esposa e sua irmã, mãe de seus filhos. Também era boa de cama, embora não fosse tão bela quanto Afrodite ou Nêmesis. Já havia punido inúmeras vezes a cônjuge e ainda assim ela o desrespeitava e o desobedecia. O pior é que o fazia na frente dos outros deuses e mesmo de criaturas serviçais. Por muitos anos Hera fora o maior tormento de Zeus.
Hércules tinha mais de dois metros de altura, era uma verdadeira montanha de músculo, muito mais que o pai, Zeus. Possuía cabelos curtos cor de mel, olhos castanhos, usava uma faixa na testa e portava uma clava de aço galvanizado feita por Hefestos, e estava coberto pelo inseparável couro do Leão de Nemeia, que, diga-se de passagem, apesar de ainda ser tão resistente como quando revestia o monstruoso leão, perdera a cor. Estava branco, desbotado. O antes herói e agora deus, dirigiu-se às deusas para saber se elas estavam bem, fez o mesmo com as valquírias, pois como tinha muito caráter, não distinguia deusas de valquírias, sequer hierarquizava quaisquer criaturas, mesmo quando postas ao lado de deuses. Para ele todas possuíam igual importância. Levantaria a mão até contra Zeus se este fizesse algum mal a um ser vivo inocente e indefeso, mesmo que fosse apenas uma flor. Fato este que muito agradava Zeus, Hermes e Atenas.
– Querido! – gritou Afrodite quando viu que Hércules se dirigia a ela. Pulou em seu colo e o beijou na testa. – Que bom que você chegou! Estava com tanto medo! Fomos atacadas de surpresa – fez carinha de dó.
Hércules sorriu e a pôs no chão. Era um tanto quanto comedido e não fazia grandes demonstrações de afeto, pois, afinal de contas, estava no Olimpo, um verdadeiro ninho de cobras. Como dito, olhou para as outras duas deusas e para as demais valquírias. Depois se dirigiu a Quíron, seu antigo e eterno mestre, que, ao lado de um estranho corvo, fora a única criatura que permanecera no local após o conflito.
Afrodite, após ser deixada de lado por Hércules e antes de correr para os braços de Zeus, piscou os olhos para Freya e Flidais, enquanto estas estavam sendo vistoriadas por Hércules, que aparentemente não padeceu com a beleza delas.
Logo, Afrodite correu para Zeus, que ainda encarava Hera, esta prostrada no meio do caminho, um plano acima de todos, como gostava. O soberano já pensava em qual seria a punição da esposa. Pendurá-la nos céus com uma bigorna amarrada nos pés já tinha feito; fulminá-la com raios, fazia frequentemente; jogá-la no Tártaro seria muito cruel; obrigá-la a trabalhar para humanos, como fizera com Poseidon e Apolo, também não daria certo, pois ela não faria nada. A deusa odiava os humanos e sequer aparecia na frente deles, limitava-se a mostrar os olhos quando se dirigia a algum deles. Traí-la também não daria certo, pois fazia isso toda semana e, se a esposa descobrisse, mataria a amante, como sempre fazia.
Foi então que Afrodite chegou abraçando o deus soberano do Olimpo pela cintura, o que desviou o foco de Zeus.
– Ai Zeusinho, essa megera tentou me matar. Também tentou matá-las. – Apontou para as convidadas. Zeus que já estava mais relaxado com o simples toque da deusa do amor, olhou para onde sua amiga apontava. Viu duas belas deusas e várias valquírias gostosas. Sorriu, malicioso, mas logo as feições de preocupação e irritação dominaram sua face. Havia algo de errado, pensou a deusa. – São lindas, não são? – continuou, apesar da seriedade de Zeus, talvez fosse só sua impressão. – Sabe amor, aquela é Freya, deusa do amor nórdico, protegida por Odin. Já pensou se algo acontece com ela? Odin, seu amigo, ficaria muito chateado. Ai, não quero nem pensar. – E a deusa, dito isso, com o rosto transcendendo inocência e preocupação, abraçou o deus e escondeu a face em meio ao largo e musculoso peitoral da divindade titânica.
– Puta, mentirosa! – balbuciou Hera que, remoendo-se de raiva, já havia invocado novas nuvens de tempestade e energizava um raio para lançar bem no meio da fuça de Afrodite. – Larga o meu marido!
– Silêncio! – bradou Zeus. Afrodite se apertou mais em seu defensor.
Imediatamente as nuvens sobre Hera se dispersaram, mas isso não significava que a fúria da deusa tinha amainado. Vingar-se-ia.
Hércules, ao lado de Quíron, passou próximo a Hera, encarando-a, tinha ódio daquela deusa, e, se não fosse Zeus, já a teria matado ou, então, teria sido morto por ela, como Hera lhe dizia em resposta a suas ameaças. Talvez por esse ódio que sempre nutriu pela bruxa e que o cegava, não foi enfeitiçado pela beleza das deusas convidadas de Afrodite, pelo menos não naquele momento.
Afrodite sentiu que era a hora de parar de fingir, largou Zeus e chamou as “meninas” com um gesto tímido, típico de alguém que havia sofrido uma tremenda ofensa. Todas, com seu charme e beleza – com muitos olhares e risinhos, fossem de agradecimento, fossem carregados de segundas intenções – passaram por Zeus, e seguiram Afrodite para seu palácio. Assim que todas as convidadas entraram no palácio, Afrodite, que as deixou entrar primeiro, olhou para Zeus, mandou um tchauzinho e um beijo. Hera, imediatamente, lançou um raio em direção a Afrodite, mas esta ofensa foi interceptada por um raio de Zeus. Afrodite olhou para Hera e gargalhou, depois entrou rebolando e toda contente para o palácio. E logo que entrou, flores e animais silvestres voltaram a frequentar os arredores do templo de Afrodite. Um aroma delicioso passou a ser emitido pela edificação, que também ficou colorida, com mudanças constantes de cor, como se fosse atingido por um jogo de luz.
Então, e finalmente, ficaram a sós Zeus e Hera.
Hera, furiosa, levitou e aproximou-se do marido. Carregava expressões graves na face. Estava com o nariz em pé, orgulhosa de si e convicta na legitimidade de suas ações. Parou diante de Zeus, pousou no solo, olhou para o lado, cruzou os braços e perguntou ríspida:
– Onde você estava?
– Você sabe muito bem onde estava! – rugiu Zeus extremamente alterado. – Você não sabe o que está se passando?! – gritou enquanto emanava pequenos raios por todo o corpo.
– Eu sei muito bem o que está se passando! É só mais uma desculpinha para você fazer o que sempre faz!
– Desculpinha?! O Olimpo correndo risco e você acha isso descul…
– É desculpinha sim! – gritou Hera alterada – Sempre foi, há mais de cinco mil anos é mentira atrás de mentira!
– Você está me chamando de mentiroso?! Você esqueceu quem manda no Olimpo?
– Sou eu, eu também mando no Olimpo, sou sua esposa, irmã e mãe de seus filhos “legítimos” – frisou bem essa palavra, pois, com sorte, teria feito Hércules escutar tal descalabro – e não esses filhos bastardos que você tem por aí.
– Você manda no Olimpo e tenta matar uma asgardiana?! Quer mais inimigos?  Você deve ser muito louca mesma! Quer dizer, eu sou louco por ter casado com você.
Hera gargalhou e logo arrematou:
– Nosso casamento é uma mentira, você nunca ligou para mim. Tudo, tudo o que pode usar para me magoar, trair e amaldiçoar você faz. Você gosta de me humilhar. E me humilha na frente de todos!
– Humilhar?! Eu não estou ouvindo isso, eu te protejo de todos e de tudo. Se você ainda não percebeu, ninguém gosta de você no Olimpo. Se não fosse por mim, a senhora já estaria morta há muito tempo ou estaria no Tártaro, com seu pai.
– AH!! Está vendo?! Outra falácia. Há muitos deuses e pessoas que me amam e me respeitam, diferente do senhor, que não dá a mínima para o que a gente construiu…
– Como assim eu não dou a mínima para o que construímos? – Zeus encheu o peito, gostava de falar sobre suas glórias – Eu limpei o Olimpo de Érebo, Gaia, Cronos, dos gigantes e de Tifão, fiz pacto com outros deuses para evitar guerras desnecessárias, dividi o mundo igualmente com meus irmãos, e a senhora tem a “coragem” – Zeus ressaltou esta última palavra, tanto com a voz, como com os gestos – de dizer que eu não do a mínima para o Olimpo.
– Viu, viu? Eu disse, você não dá a mínima para a gente. Só liga para o Olimpo. Olimpo isso, Olimpo aquilo, e a Hera, onde fica nesta história? – Zeus abriu a boca para responder, porém Hera foi mais rápida – Não, pode deixar que eu respondo, paizão dos deuses. Eu fico com um monte de chifres na cabeça e ganho fama de má, barraqueira e ciumenta e por quê? Porque meu marido é um cachorro que vive atrás de cadelas no cio.
– SILÊNCIO!!!!! – Berrou Zeus – Eu exijo respeito!
– Que mané respeito, pare de ser hipócrita, se você quer respeito, que dê respeito primeiro.
– Cala boca e deixa eu falar também, eu quero falar também! O Olimpo…
– Você acha que eu sou seus amiguinhos puxa sacos que o temem. Eu não tenho medo de vossa senhoria. E é melhor parar com essa ladainha de que o Olimpo corre risco, porque eu não acredito mais nisso. Todo mundo sabe que seus irmãos não são um risco para nós. Poseidon é um fraco subserviente e Hades é esquisitão, não tem apoio de ninguém. A sua maior preocupação deve ser eu, euzinha. Eu sou o maior perigo para você.
– Puta que o pariu! – Zeus, extremamente irritado, e já perdendo o lado racional, estendeu o braço esquerdo para o lado e logo apareceu em seu punho cerrado um raio super poderoso, quente, luminoso e que provocava fortes estalos no ambiente próximo – Você está pedindo! – Ameaçou o soberano.
– O quê?! Vai me punir, vai me punir de novo? – Hera gargalhou malévola. – Não adianta, meu bebê, você me fustiga agora, mas amanhã eu já estou de pé de novo.
O raio que estava na mão de Zeus estava muito instável. As plantas e árvores próximas à discussão pegaram fogo novamente e as chamas resistiam mesmo à incipiente chuva, que, logo, transformar-se-ia em uma tempestade maior e mais mortífera que aquela causada por Hera. Pequenos raios saíam do raio principal de Zeus e marcavam a terra e as paredes do templo de Afrodite – o mais próximo do conflito – como ferro em brasa no couro dos animais. A partir desse momento, Hera ficou assustada. Já tinha tomado alguns, aliás, centenas de raios de Zeus, assim como tinha lançado inúmeros sobre o marido, mas um daquele tamanho, com aquela potência jamais tinha visto ser preparado contra ela. Zeus realmente estava incomodado com os últimos acontecimentos e, quando estava incomodado e nervoso ficava cego, não conseguia fazer distinção entre amigos e inimigos. Entrava em estado de guerra total, beligerância sem limites. Só o viu assim, preparado para destruir a tudo e a todos, duas vezes. A primeira vez foi quando lutou contra Cronos e os titãs; a segunda quando lutou contra Tifão. E estava temendo que o marido estivesse prestes a entrar em um estado incontrolável de fúria. Naquele segundo que lhe restava antes de um possível, aliás, de um muitíssimo provável ataque, pois os olhos de Zeus estavam totalmente brancos, resolveu contar com a sorte e usar a maior arma contra Zeus. Então gritou:
– Vamos, puna-me então! – E rasgou de cima para baixo a roupa, que logo caiu toda no chão – Vamos, estou de peito aberto!
A imagem da esposa nua desarmou o marido, que para sorte de Hera ainda não havia entrado no estado de irracionalidade e agressividade absoluta. Os belos e fartos seios de Hera sempre chamaram a atenção de Zeus. Com efeito, eram mais belos até do que os de Afrodite. Eram os brinquedos favoritos do deus supremo. Logo, a tempestade, indicativa da fúria de Zeus arrefeceu, o raio na mão de Zeus se extinguiu e a irritação do deus passou. Logo estava ele ali, diante da esposa completamente nua e com os seios empinados. Era uma visão linda e espetacular. De irritação e raiva, Zeus passou a ser dirigido por uma outra força, tão forte quanto a ira que podia manifestar: era a força do desejo carnal.
Hera sorriu, viu uma alteração pontual sob as vestes de Zeus, cobriu parte do corpo com a roupa rasgada, levitou e voou para o seu palácio. Zeus foi atrás…
– Ela vai tentar segurar Zeus lá por vários dias. É uma cara de pau mesmo. Fingir orgasmo, para quê? – disse debochada Afrodite. – Mas não vai conseguir… Zeus dará um jeito de vir para cá. Ele sempre consegue, ainda mais porque as viu, queridas. – arrematou, soltando um leve sorriso.
As três divindades da beleza estavam atrás de um dos pilares do palácio da deusa anfitriã. Assistiam, bem escondidas, toda a cena entre Zeus e Hera. Freya e Flidais estavam incrédulas. O que era o Olimpo? Uma casa de deuses loucos? Hera agia como uma psicopata, Zeus agredia a própria esposa e matava parte de seu exército com a simples aparição. E as famílias dos ciclopes, harpias e centauros mortos? Afrodite parecia estar gostando de tudo aquilo. Pareciam ser habituais situações constrangedoras. A deidade gostava de provocar a rival Hera, pois isso a excitava. O único que parecia ser normal era Hércules, embora tivesse sido frio com as vítimas do ataque de Hera e demonstrado muito ódio dirigido à esposa de Zeus.
– Não se preocupem garotas, depois vocês se acostumam com o panteão olimpiano. Nossa família briga demais, sabe? Já vi coisas piores por aqui. Isso aí não foi nada. – disse Afrodite, tentando abrandar a situação.
Flidais e Freya se olharam intrigadas.
– Ah, Freya, não diga nada para Odin, ok? Não vamos dar mais problemas para Zeus. Uma rusga entre Olimpo e Asgard neste momento não seria nada adequado. Zeus está muito preocupado com os irmãos e anda meio nervoso. Sabe, ele tem a Hera que só dá dor de cabeça, tem meu amasio também que é outra fonte constante de preocupações para ele. Aí tadinho, eu não queria ser ele neste momento.
Freya assentiu e perguntou:
– O que se passa entre Zeus e os irmãos?
– É uma história meio longa e confusa. – tergiversou Afrodite. – Vamos para a piscina nos divertir? Lá eu te conto e aproveito para te mostrar meu pomo de ouro.  – deu uma piscadela para a interlocutora.
– Achei que só Zeus soubesse usar os raios como arma. – disse Flidais enquanto, com sua magia, restaurava as flores e plantas que foram danificadas pelos fatos precedentes. Estava estressada e cansada. Não queria ouvir mais imbróglios olimpianos por algumas horas. Desejava deitar e relaxar na piscina termal de Afrodite e ser massageada por uma das serviçais.
– Todos nós sabemos. – respondeu Afrodite, criando um pequeno raio entre a ponta do dedo indicador direito e o próprio mamilo sob o pano transparente que lhe cobria – Mas Zeus é o mais poderoso e o que melhor controla o raio. Eu te ensino depois, criança.
– Hummm – respondeu Freya, que olhava curiosa Zeus e Hera flutuando em direção ao templo principal.
Enquanto isso, no palácio acima daquele que pertencia à Afrodite…
– Mãe, preciso voltar. Alguma coisa vai acontecer. – disse uma bela deusa, cuja beleza era comparável mesmo a de Afrodite.
– Está louca? Levei séculos, milênios para te tirar daquela perdição e você diz que quer voltar? – disse a mãe divina indignada. – Chorei, roguei, rezei, importunei Zeus e agora isso? Chega a ser ingratidão!
– Mãe, eu preciso voltar, do contrário, o Olimpo cairá.
– Não, não vai! Já está decidido. Zeus foi quem decidiu. O problema não é mais nosso. Eles que se entendam.
– A senhora deveria conhecê-lo. Ele é poderoso, tão poderoso quanto Zeus e neste momento deve estar tramando sua vingança.
– Ele não pode nada contra Zeus. Zeus tem o maior exército, Zeus tem o apoio de Poseidon e de outros deuses.
– Ele me ama…
– Não fale besteiras mocinha! Ele não te ama. É um amor falso. O culpado, para variar, foi Cúpido. Esse amor foi induzido, não é real.
– As setas de Cúpido não têm efeito prolongado em um deus, a senhora sabe disso. Os efeitos passam rápido.
– Cale-se, cale-se, cale-se! – implorou a mãe, entrando em desespero. – Você também queria sair daquele reino sem luz, lembra-se? Você vai ficar comigo, com a mamãe querida. Eu sofri todos esses milênios, mereço um pouco de respeito. Desde que foi arrebatada de mim, chorei todos anos, meses, semanas e dias, mesmo quando estava perto de mim, porque eu sabia que você iria embora logo. Ele vai te esquecer filha!
– Ele nunca esquece… – disse resignad

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