terça-feira, 7 de julho de 2015

CEUCY A MÃE DAS ESTRELAS



DEUSA CEUCI
E JURUPARI

Ceuci é a "Virgem Maria" da teogonia Tupi, pois também ela teve um filho de uma concepção miraculosa.

Segundo a lenda, Ceuci descansava à sombra da árvore do bem e do mal, quando avistou seus frutos grandes e maduros. Não resistindo, apanhou e comeu uma de suas frutas e o seu caldo escorrendo pelo seu corpo nu alcançou o meio de suas coxas.

Meses após, revelou-se uma gravidez que encheu de indignação toda a comunidade indígena, O Conselho de Velhos, achou por bem, puni-la com o desterro.

Ceuci teve seu filho muito longe da aldeia de deu-lhe o nome de Jurupari, futuro legislador, que veio mandado pelo sol para reformar os costumes da terra e também encontrar nela uma mulher perfeita com quem o sol pudesse casar.

Quando nasceu Jurupari, nasceu também o silêncio, o quiriri sombrio e religioso das florestas e dos lagos amazônicos.

Já ao sair do ventre de sua mãe, falou-lhe:

-"Não tenha receio mãe: eu venho de Tupã, que é meu pai, com a missão de reformar os costumes de teus irmãos. Venho trazer a lei do patriarcado e o instituto do segredo, que ainda não existe nas tabas: foi adequado, por isso mesmo, o nome que me deste, Jurupari. Boca fechada, sigilo!".

Ao sete dias de nascido, Jurupari era um rapaz que aparentava dez anos e foi rapidamente correndo a fama de sua sabedoria. Em seguida, o lugar em que morava com Ceuci, foi povoada pelos romeiros que ali iam aprender não só a lei de Jurupari como as regras preliminares da agricultura.

À medida que o menino cresceu foi fatalmente, afastando-se da mãe e muito jovem já era considerado o "Moisés" dos tupis.
Para que os homens aprendessem a viver independentes das mulheres, Jurupari instituiu grandes festas que só eles podiam tomar parte.

Ceuci inconformada com tais leis e saudosa do filho, resolveu, certa noite, dar uma espiadinha no cerimonial dos homens. Furtivamente, então, transpôs o patamar da entrada da "Casa dos Homens". Essa infração era punida com pena de morte, mas antes do término do cerimonial, Ceuci foi fulminada por um raio. Jurupari foi imediatamente chamado para ressuscitar a mãe, mas nada fez, pois não podia abrir precedentes em suas leis.

“Morreste mãe, porque desobedeceste à lei de Tupã. É a lei que eu vivo a ensinar. Não vou te ressuscitar, mas te recomendo: sobe, bela, radiante e pura para um mundo melhor. Cumpriste a verdadeira missão de mãe, que sempre é cheia de amor, renúncia, desenganos e sofrimento. Meu pai vai recebê-la de braços abertos lá no céu”.

O corpo da Deusa reanimado e iluminando-se de uma fulguração estranha subiu ao céu, sentado na volta de sete cores de luaca-mirapara (arco-íris), dando beijos de luz e vida aos que ficaram em baixo, na alegria ingênua das tabas.

Ceuci transformou-se na estrela mais resplandecente da constelação das Plêiades ( constelação que indica a época certa da colheita das frutas maduras, da caça e da pesca) e hoje domina, no caá.

Ali está, para lembrar aos selvagens o respeito às leis de Jurupari, o Filho do Sol.

Na Amazônia existe também, o Ceuci-cipó. Desse cipó os tupinambás fabricavam o anamã, uma bebida que diziam ter o dom de purificar: bebiam-na antes de soprar as caçiúbas de Jurupari. Essa bebida era vomitório com que limpavam o estômago.

Quando Ceuci ascendia ao iuaca, o primitivo espírito, que sempre a seguia, não podendo acompanhá-la ao céu, transformou-se em uma coruja, cujo canto onomatopaico, diz claramente Ceuci, nome porque é conhecida na Amazônia.

Há também uma tartaruguinha de cauda comprida chamada Ceuci, a qual dizem ser hermafrodita.

Ceuci, mãe do "Moisés" dos tupis, dos caraíbas, guaranis e anamãs, é uma Deusa morta, pois nunca mais veio à Terra, mas goza de grande prestígio na mitologia da América do Sul.

É ela quem, no iuaca, distribui a sorte às tainatás, enlevo dos lares da floresta.

Os mitos da procriação, do nascimento e da vida de grandes figuras da história refletem o que há de extraordinário nestas crianças divinas e além disso, nos falam da correspondência destas conexões que se dão tanto com a ordem cósmica como com a alma humana.

As relações "homem-Deus" e "homem-mulher" são os temas do ser humano desde que ele existe , justamente por que nestas ligações entrelaçam-se decisões de vida ou morte. De todas as ligações a de mãe-filho é a mais estreita, é algo transcendente, que une duas pessoas em um segredo fascinante, que dá prazer e dor, mas que no fundo é sempre indecifrável. Assim, não é de se estranhar que no primórdios dos tempos se acreditasse que a maternidade não dependia do homem, mas sim da influência ou interferência dos astros, animais e até do sumo de alguns frutos, como é o caso de nossa lenda.
No início da humanidade, reinava o matriarcado e toda a linha de descendência era regida pelo sistema matrilinear. Entre os nossos indígenas, também foi assim. Toda a criança que nascia, pertencia ao grupo familiar da mulher. A posição do pai era de um simples amigo, portanto não tinha direitos sobre o filho. Toda a educação e tutela da criança ficava ao encargo do tio materno.

Tal estado das coisas acabou por gerar choques e tensões sociais e o homem sentindo-se mais forte, tratou de dominar a situação e inverter os papéis. Esta mudança em alguns casos foi extremamente dramática, pois em algumas tribos, o homem figurava como uma espécie de escravo da mulher, executando os serviços mais baixos e sem que os filhos o considerassem pais. O mito do Jurupari, juntamente com a existência das Icamiabas, nos deixa bem claro, que as mulheres foram destituídas de todo o poder, nada restando-lhes, nem mesmo era reconhecida a maternidade. Como o desmoronamento do direito materno, o homem apoderou-se também da direção da casa, a mulher viu-se então degradada, convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem, ou simples instrumento de reprodução.

É óbvio que as mulheres não poderiam concordar com tal estado das coisas. E muitas são as lendas em que as mulheres matam os homens, seus maridos, os velhos e as crianças do sexo masculino, antes de abandonarem suas aldeias.

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